32ª dose

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Acordei com uma mensagem de Jessica dizendo que é hora de eu esquecer Ítalo e dar uma chance para Bernardo. Sei que é o melhor conselho que vou receber caso pergunte para outra pessoa, mas, infelizmente, senti um ciúme absurdo por ele na madrugada. Passou quando foquei em Bernardo e nas fotos que tiramos juntos. O sorriso dele é tão lindo que aquece meu coração toda vez que olho. Yara me mandou uma mensagem dizendo que está com saudades e me chamando para almoçar na casa dela. Apesar de não querer encontrar com Ítalo, sei que isso não faz sentido algum e nem é justo com ela.

— Ítalo? — o chamo.

Não recebo nenhuma resposta, e sei que ele trabalha apenas à tarde. Abro a porta com a chave que ainda tenho e não devolvi, olhando para uma sala vazia e a cozinha também. Decido não ir ao quarto de Ítalo, pois opto por não interromper o que quer que ele esteja fazendo agora. Nós dois estamos seguindo nossas vidas.

— Yara? — chamo mais alto.

Outra vez não tenho nenhuma resposta. Ouço batidas vindas do quarto do bebê e algumas vozes masculinas. Parece que Ítalo tem companhia.

— Olha quem chegou! — Bernardo diz.

Entro no quarto e vejo Ítalo, Bernardo e mais uns três garotos sentados no chão, rodeados por várias tábuas de madeira. Um manual de instruções está ao lado, mas está fechado, então acho que ninguém está lendo.

— Bom dia, o que estão fazendo? — pergunto.

— Comprei um armário para o nosso filho e o berço chegou.

— É você quem vai montar? — o olho, descrente.

— Nós! - Bernardo diz ao se levantar e me dar um abraço forte. — Como você está?

Enquanto converso com Bernardo, sinto o olhar de Ítalo sobre mim. Algo estranho paira no ar, mesmo sem eu ter feito nada demais. Bernardo me apresenta aos amigos, e segundos depois já esqueço os nomes deles. Eles parecem simpáticos, mas minha mente está ocupada demais tentando decifrar a expressão no rosto de Ítalo. Há algo ali que não consigo identificar. Decido não dar muita atenção a isso e me concentro na conversa com Bernardo.

— Cadê sua vó? — pergunto a Ítalo depois de um tempo.

Esperava vê-lo na cozinha preparando uma de suas comidas maravilhosas, mas ela não está ali. E nem está no quarto do meu filho, observando os meninos montarem o berço com um manual fechado e zero habilidade com o martelo.

— Mercado! Pode fazer um café, por favor? Eu até faria, mas sinto que estou entendendo o esquema aqui e acho que você está roubando a atenção do meu amigo.

Eu rio, mas com um nervosismo estranho. Quando vou à cozinha para colocar a água no fogo, escuto um dos amigos perguntarem a Ítalo sobre a garota que ele estava abraçando na foto de ontem. Paro, tentando escutar, e ele responde que foi só ontem e que ficar sozinho é sua melhor escolha. Sinto um alívio meio injusto, mas tento não me julgar. Só eu sei o quanto gostei dele. Eu estava toda madura, pensando que nós dois iríamos viver separados como bons amigos, e que eu não sentiria ciúmes, mas não é bem assim.

Dez minutos depois, Bernardo entra na cozinha e me dá um selinho. Ele está cheiroso e bonito, como sempre. Me julgo ainda mais por estar feliz que Ítalo não está namorando, e eu estou aqui, beijando Bernardo. Mas lembro que eu gostei sozinha, então meu sentimento ainda é válido.

— Ele foi bem cara de pau.

Solto um riso baixo concordando. Bernardo se aproxima e sinto um pouco de nervosismo por estar na casa de Ítalo. Ele alisa meu rosto enquanto conta o sonho que teve comigo e em seguida me beija.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora