44ª dose

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Valentim nasceu dia oito de dezembro.

As primeiras noites em casa com o Valentim foram um turbilhão de emoções. Eu estava tentando entender tudo o que estava acontecendo com o meu corpo, e também estava aprendendo a cuidar de um recém-nascido. Mesmo com os olhos pesados de sono, cada momento é precioso, e eu me sinto incrivelmente grata por estar vivendo essa nova fase da minha vida. Me sinto exausta, mas também me sinto completa.

Ao ver Valentim tão pequenininho e vestido com um conjunto azul marinho, Yara prometeu que tentaria de tudo para ficar mais tempo aqui cuidando de sua família, e isso incluía eu, já que ela disse que sou como uma filha e me ama. Ítalo ficou tão feliz que foi para a cozinha preparar um jantar conforme uma dieta louca que ele viu na internet. Digamos que até o arroz, algo comum que ele deveria saber fazer, ficou um horror. Sorrateiramente, Yara e eu jogamos tudo fora, mas não falamos nada, apesar de Ítalo achar a sacola próxima à lixeira do vizinho. Nunca fui boa em esconder nada. Isso vai de comida a sentimentos.

— Vó, hora da foto!

Eu sorri quando Ítalo mudou o nosso "estúdio" para o quarto de Yara. Onde estaria minha foto de nove meses, vai entrar essa. Meus pais estão aqui como em todas as outras fotos. Apesar do semblante doente de Yara, dá para ver uma alegria nítida em seu sorriso. Ao invés de abraçar minha barriga gigantesca, Ítalo está atrás de mim com as mãos nas pernas curtinhas de Valentim enquanto o seguro firme. É uma bela foto e uma bela vida.

Meus pais foram embora cedo. Ao que tudo indica, eles vão jantar fora. Algo que não acontece com frequência, mas que me deixou muito feliz ao ver que eles saíram da rotina e estão incrivelmente com um ar mais jovial e apaixonado.

Finalmente Valentim dormiu após pular de colo em colo o dia todo. Deixei ele em seu berço e fui até o quarto de Ítalo. Não voltamos a dormir juntos, nem estamos oficialmente juntos ou nos beijamos novamente. Nossa vida é inteiramente dedicada a Valentim e Yara, e eu gosto assim. Está tudo muito calmo.

Ele está sentado na cama e me olha mostrando um enorme sorriso. Não sei o que está pensando, mas tenho um palpite. Há doze dias estamos sorrindo à toa, lembrando do nosso pacotinho de amor. Me sento ao lado dele, já esperando que diga algo.

— A volta de Rômulo foi boa — ele declara.

— Por quê?

— Ele me mostrou o tipo de pai que não quero ser.

— E você tem sido perfeito!

Não estou mentindo nem puxando o saco dele. Valentim é sua preciosidade. Ítalo não é mais aquele imaturo que me deixa sozinha. Ele é o cara que acorda muitas vezes antes do que eu porque ouviu o nosso filho chorar. Ele é o cara que fica do meu lado às três e meia da manhã esperando nosso filho acabar de mamar e resolver dar uma trégua e dormir. Ítalo se transformou no cara que vai comigo nas consultas e os olhos enchem d'água quando o Valentim toma vacina. Há mudanças incríveis acontecendo em nossas vidas e estar ao lado dele tem sido mágico. Mesmo ainda sendo apenas a mãe do filho dele.

— Espero que tudo dê certo!

Sei do que ele está falando agora. Não é mais sobre o nosso filho. Seu semblante se modifica e ele deita a cabeça em minhas coxas. Diz gostar do meu cafuné e eu o chamo de abusado apenas para não ficar algo muito romântico. Ítalo conta sobre suas pesquisas sobre câncer e eu o incentivo e alimento suas esperanças. Também acredito que há uma chance. A medicina faz coisas incríveis. Yara vai ficar mais tempo aqui cuidando de nós.

— Tudo vai ficar bem — afirmo.

— Eu não sei viver sem ela, Julia. Ela sempre foi a única pessoa na minha vida!

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Where stories live. Discover now