24ª dose

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Assim que acordo, percebo que recebi uma mensagem de Ítalo. Passo as duas horas seguintes ignorando aquela notificação chata no meu celular. Ele mandou às três da manhã. Depois de fingir por um tempo que ele não tinha mandado nada, decidi ver o que era. Dizia que pensou no que fez e sabe que foi errado. Usou de desculpa seu impulso desenfreado. Como se eu fosse acreditar nisso. Disse que se eu quisesse, ele pagaria o aluguel. Só que eu não quero nada de Ítalo. Quero ficar longe dele e de sua imprevisibilidade. Um dia ele é alguém que eu gosto e no outro se força a ser uma versão ruim. Não sei o que ele quer com isso, mas também não quero descobrir. Não vou ficar dependente dele.

Jessica comprou um saco de jujubas e trouxe do seu trabalho. Contou que sentia muito por não ter conseguido fazer nada quanto à vaga, e eu garanti que ela já tinha feito muito por mim. Ela disse que, como eu não estava respondendo às chamadas, mandou uma mensagem no Facebook para Yara, e ela contou o que aconteceu. Contei que Ítalo me mandou uma mensagem, e rimos juntas quando Jessica contou que fez questão de ir até a casa de Yara para dar um chute em Ítalo.

- Eu estava com muita raiva e nem pensei na hora. Aproveitei que já estava na rua e fui lá na casa dele. - ela diz. - Eu disse pra ele não te magoar, mas ele quis arriscar. Bem feito!

Yara me mandou diversas mensagens, e eu respondi a todas. Ela não tem culpa das coisas que o seu neto faz. O único erro dela foi ter acreditado em nós dois, em algo que nunca iria rolar, e ter confiado que tudo daria certo, quando ele nem ao menos tentou de verdade.

- Eu deveria ter percebido que isso não ia funcionar - digo a Jessica enquanto ela pinta minha unha de roxo. - Se um cara te ignora, é porque ele simplesmente não quer nada com você. Errada fui eu de mandar mensagem um ano depois.

- Se você é culpada por demonstrar o que sente, então não sei como vou agir quando gostar de alguém - ela ri. - Pare de se culpar, Ju. Se apaixonar não é um crime. Ainda!

Alguns dias depois, Yara me perguntou se estou disposta a encarar uma terapia. Ela convenceu Ítalo a aceitar, dizendo que é para o bem do bebê. Eu pensei bastante. Meus pais disseram que não preciso fazer nada que eu não queira e que eles vão me ajudar com o bebê. Não preciso conviver com Ítalo, mas ainda acredito em um bom relacionamento, já que vou ter que vê-lo diversas vezes por causa do nosso filho.

Não é bem uma terapia comum. Yara nos contou que é uma terapia alternativa com métodos próprios. Eu aceito qualquer coisa que ofereça um pouco de paz. O método da terapeuta Antonella é assim: ela chama uma pessoa da família e um melhor amigo. Conversa com eles individualmente antes de conversar com o casal a ser tratado e, depois que ela já tiver bastante detalhes e vir o problema pelos olhos de outra pessoa, ela chama o casal para conversar. Faria isso duas vezes por semana durante um mês. Não sei se ela é formada em algo e se aquele método funciona, mas Yara a elogiou tanto que eu aceitei dar uma chance. O que eu tinha a perder? Mais nada. Nem dinheiro, já que quem está pagando é a avó de Ítalo. Se desse certo, tudo bem. Se não desse, paciência.

- Bom dia! - Antonella diz, toda animada em minha primeira sessão.

- Bom dia!

Há dias que não via Ítalo. Não trocamos uma palavra na sala de espera. Ele deixou uma barba ralinha crescer. Quando chegou a hora da nossa primeira sessão, Antonella nos convidou para entrar juntos. Ela explicou que fazia isso para discutir o método, esclarecer dúvidas e garantir que concordássemos com tudo.

Era basicamente uma terapia separada. Nas outras sessões, não entraria com Ítalo e não ficaria ao seu lado ouvindo tudo e ficando quieta. Ao invés disso, ouviria tudo fora do consultório, com um fone. Alguns poderiam considerar isso antiético, outros, falta de profissionalismo. No entanto, ao ouvir a explicação do método e entender como ela chegou a trabalhar dessa forma, qualquer um concordaria.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Kde žijí příběhy. Začni objevovat