Capítulo 60.

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Eu estava chateada e com raiva, raiva de mim, da Lívia, de todos e principalmente do caíque, nesse momento eu desejava que tudo de ruim caísse sobre ele e que ele sofresse, o que eu sofri e sofro até hoje por causa dele. Me encostei na parede e deixei que as lágrimas falassem por si, assim soltando todas de uma vez, eu estava esgotada, por algum motivo eu me sentia cansada, me sentei no meio fio e limpei as lágrimas que insistiam em cair, levantei minha cabeça e fiquei fitando o céu, até ouvir uma voz surgir entre meus ouvidos.

— nem a lua precisa estar inteira para brilhar no céu - Não precisei olhar pra saber de quem era aquela voz, apesar das poucas palavras trocadas eu podia reconhecer de longe.
— profundo, quem é o criador dessa belíssima frase? - continuei olhando pro céu.
— o pensador - deu risada e eu acabei rindo também, limpei meu rosto e virei para olha - lo.
— e eu devo levar isso, como?
— eu sinceramente não sei - deu de ombros.
— bela tentativa de fazer alguém se sentir melhor - fiz joinha.
— e não fez? - Miguel se sentou ao meu lado.
— talvez - fitei o céu.
— as pessoas só lembram do passado das outras e com isso acha que tem direito em julgar.
— você sabe? - ele assentiu — novidade - dei risada sem humor.
— normal po, erros tá aí pra ser cometidos.
— e o que você pensa sobre isso? - desviei meu olhar pra ele.
— sobre o que? Você? - assenti — e importa o que eu penso?
— claro que importa, vai me dizer que o que as pessoas pensam sobre você não te importa? - perguntei.
— não - dei risada — ninguém sabe o que eu passei, você passou, as pessoas só tá aí pra julgar, mas pra ajudar não tem uma, sempre vai ter um pra te apontar o dedo, pra te criticar e lembrar do teu passado, sendo ele sujo ou não, mas aí, tu escolhe o que quer ouvir - filosofou.
— então se ouço da minha irmã que eu sou um problema, foi porque eu escolhi ouvir? - ele assentiu e eu dei risada — como se fosse fácil fazer as pessoas guarda o pensa sobre ti.
— mas é - falou convicto.
— pra você é, talvez porque não tenha vivido o que eu vivi ou passado o que eu passei.
— se fazer de vítima não ajuda, talvez o maior julgamento começa por si mesma - silêncio — passou pelo que passou por algum motivo é esse motivo só cabe a você saber - sorri sem mostrar os dentes.
— pra você e fácil falar.
— teu problema tá no passado e talvez é ele que tu tenha que desapegar, as pessoas sempre vão lembrar do teu passado e para que elas esqueça, só depende de você - se levantou e saiu.

Ótimo, ganhei um esporro de um desconhecido que acha que me conhece mais do que eu, respirei fundo e resolvi voltar pro churrasco, Lívia veio falar comigo e eu simplesmente ignorei, não estava com paciência pra aguentar suas desculpas esfarrapadas, me sentei e peguei meu celular que insistia em vibrar, desliguei minha Internet pois não queria falar com ninguém, já não me bastava as vozes das pessoas presentes ali que ecoavam no meu ouvido, coloquei em um jogo no celular e me concentrei no mesmo, na verdade tentei, senti dois pares de olhos pousados em mim, olhei pra frente e Miguel estava me encarando enquanto ria de algo que o Junior havia falado, voltei minha atenção do celular e prestei atenção no jogo, vez ou outra eu pegava o Miguel me olhando e a mesma coisa aconteceu comigo, me peguei olhando pra ele feito uma boba e só me dei conta do papelão que estava fazendo, quando ele deu risada, tentei focar no jogo e assim foi o resto da noite.



Mundo Passageiro.Where stories live. Discover now