25 de Janeiro de 1951

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— Calma, calma! — ela pediu, colocando a cabeça para fora de meu abraço — Como sabia que eu estava aqui?

— Eu a vi! Senti-te e a vi pela janela! Oh, minha menina, basta um passo mais perto de mim e eu sentirei a sua presença! Que saudade! Venha, venha, não me deixe. Não permita que eu a largue!

— Preciso ir!

— Para onde? Diga-me, por que está aqui a essa hora?

Minha menina largou-me de vez, com a cabecinha baixa, os olhos ameaçando chorar.

— Vim para me despedir. Estou fugindo — olhava-me agora com toda seriedade — Não irei morar naquele lugar, não vou! Não me impeça de fugir, está me ouvindo? Quis vir até aqui porque pensei que o senhor gostaria de me ver antes que eu fosse. Desisti. Tive medo de bater na porta e outro alguém me ver. Queria só que o senhor me visse. Ir embora sem te falar seria uma grande traição! Mas o que poderia eu fazer? Tentei, não foi? Mas agora está bem aqui. Não vai me segurar aqui, vai? Não vai empatar que eu fuja, não é?

— Fugir? Mas para onde, minha Mel? Escute, não precisa fugir para lugar algum. Não ficará sozinha naquela cidade. Eu irei até lá, dia sim e dia não. Está louca? Fugir? Não há cabimento!

— Não deveria ter vindo aqui!

— Escute-me, escute-me!

— Estou lhe ouvindo e digo-te, não irei morar lá. O senhor não entende o quanto estou infeliz com isso? Naquele dia, falei-lhe que sempre acontecia uma desgraça maior em minha vida. Eis que chegara a próxima! Não irei permitir! Fugirei.

— Fugir será a desgraça maior! Que tem consigo para conseguir manter-se em pé por um dia que seja?

Olhei para suas mãozinhas que só seguravam uma bolsinha de nada e a maleta azul turquesa que eu a dei.

— Ficarei bem — garantiu — Vim até aqui porque considero muito o senhor, não faça com que eu me arrependa de lhe estimar tanto. Deixe que eu parta. Será melhor sair daqui na incerteza do que partir no fim de semana para aquele lugar. Ouve-me?

Agarrei-a novamente, dando um beijo em cada uma de suas bochechas. Eu respondia unicamente a ela, jamais faria algo contra a sua vontade. E lá estava, pedindo-me para deixa-la ir. Para onde? Nem ela sabia.

— E eu, Melinda? E eu? Irá me deixar e eu irei morrer. Acredita nisso? Não? Pois creia! Irei morrer se sair por aquele portão! Oh, Mel, minha Mel, amo-te por ter vindo aqui essa noite. Amo-me por ter te visto a tempo de impedir-lhe que faça essa besteira! Não a deixarei nem irá deixar-me. Jamais, meu amor!

À minha fala, ela tentou se liberar dos meus braços, cogitando que eu iria prende-la e obriga-la a voltar para a casa dos tios.

— Ouça-me, eu lhe falei que dar-te-ia o mundo, não foi? Disse-me, então, que não cria nas minhas palavras. Eu a compreendi. Disse-me, também, que elas só teriam significado quando um dia eu as executasse. Deixe-me mostrar-lhe que elas eram verídicas! Deixe que eu vá com você.

Melinda expandiu o olhar, um brilho sutil caminhando pelo par.

— O que está dizendo-me? — quis saber.

— Que vou com você. Não ficará só, tampouco desamparada. Vai fugir? Vai, mas comigo. Iremos fugir juntos.

— Deus, agora eu que lhe pergunto, está louco!? É alguém importante por aqui! Seu sumiço não passará em vão!

— Não irá! Falarão de mim em cada esquina, serei o assunto do milênio! Dirão aos filhos e aos netos sobre o homem que deixou a cidade e nunca mais foi visto. Importo-me? Nem um pouquinho! Pois, Mel, em cada uma das vezes que mencionarem o meu nome, irão colocar o teu ao lado. Serei o homem que fugiu com Melinda, seremos um nós! Não falarão de um nem do outro, mas de nós dois.

AquáriosWhere stories live. Discover now