21 de Setembro de 1950

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Quinta-feira, 21 de Setembro

Estou prestes a confessar a esse papel que transformei-me quase em um insano com toda essa história. Passei os últimos dias fazendo de cada ato meu motivo para ter como consequência uma única palavra de Melinda. Resultados? Nenhum. Cheguei até mesmo, senhores, a forjar uma amizade com Sr. Dorneles, homem detestável. Eu estava disposto até mesmo a criar algo do tipo, sacrificar minha dignidade! Mas essa tal amizade não engatou. Como eu desejaria que sim. Dessa maneira, haveria uma desculpa para visitar a casinha cinza nos fins de semana e para me pôr a conversar com a sua sobrinha. Ao que parece, apadrinhar alguém não é o suficiente para fazer visitar constantes. Fui somente duas vezes nesse meio tempo e nas duas fui recebido de forma malograda, exceto pelo Sr. Dorneles, que na certa aprecia minha recém atenção dada a sua família. Mas quanto à Sara e a empregada odiosa? Nem se fala! Sra. Dorneles guarda rancor de mim há muito, mas o pior é que parece que ela se sente mais fortalecida tendo a odiosa empregada ao seu lado. A infeliz deve ter contado da minha visita, disso não há dúvidas, já que o próprio tio de Melinda falou comigo sobre o assunto. Mas o que me desagrada é ter a certeza que aquelas duas mulheres odiosas devem ter gastado boas tardes apenas falando coisa má de mim. E o pior, caros, é que ambas parecem conspirar para que eu não veja mais a minha Melinda! Deus, já estou usando o possessivo, mas vou me permitir, ao menos essa vez, para que eu possa narrar da forma mais dramática possível o que se passa.

E como sei de tal conspiração? Pois quando visitei a família na segunda-feira, dois dias após a minha visita onde entreguei meu presente à menina, era hora do jantar e três pratos estavam sobre a mesa. Depois de ter uma conversa com o casal, comigo todo ansioso para ver Melinda, perguntei sobre ela e vi Sra. Dorneles olhar de canto para à odiosa empregada, que abriu a boca para inventar sua mentira. A menina não está se sentindo bem. Acho que nem vai vir para o jantar. Disse sua invenção de modo descarado! Olhei para o Sr. Dorneles e o vi ficar sem jeito, provavelmente porque a sua mulher havia imposto aquela mentira. Deve ter dito Olha bem, não acho certo Gregório ver Melinda! Vamos pôr um fim nisso! Babão como é, deve ter relutado Mas mulher, Gregório é o homem mais importante dessa cidade? Que mal há? Ela provavelmente não quis nem mais saber do assunto e exigiu assim do marido. Em minha segunda visita, comigo já atrás de forjar uma amizade coma família, a desculpa foi que Melinda estava na casa de uma amiga. Cheguei até a acreditar por alguns minutos na desculpa, certo de que se eu esperasse mais um pouco, eu a veria. Mas, claro não passava de mais uma história fictícia. Eu vi a sombra da menina em um corredor nos fundos. Era ela! O delineado de seus dois rabos de cavalo fez sombra na parede oposta! Fiquei tão transtornado que fugi da casa minutos depois, alegando uma mal estar inexistente. A verdade ia ficando mais clara.

Enquanto isso, eu vigiava a casa quando podia. Nem a fazenda eu tinha mais vontade de ver como estava, afinal, jamais tive tal desejo de fato. O que me era mais importante era recolher os restos de Melinda por aí! Vi-a saindo de manhãzinha para ir até a escola, voltando em sua bicicleta, vestindo aquele uniforme que nada tinha de suas cores! Saia e sapatos pretos, blusa e meias branquíssimas. Não combinava com ela. Sentia falta de vê-la com seus sapatinhos vermelhos, sua saia azul anil! Suas cores e detalhes eram, de longe, as coisas que eu mais apreciava em toda aquele jovialidade de Melinda. Agora, tinha eu de guardar minha apreciação! Fazia-a dentro do meu carro preto, estacionado em um ponto ainda mais longe do que eu costumava ficar outrora. Tinha medo de ser notado mais que no antes, afinal, ficou claro que minha presença já estava sendo questionada. Mas como poderia eu explicar à Sra. Dorneles ou a quem mais fosse, que meu coração era mais terno quando eu via Melinda? Ela representava uma vida que eu jamais havia vivido. E os seus detalhes eram tão preciosos! Os humanos têm as suas manias, seus nuances, mas se eu ficar a observar outro alguém, acompanhando seu ritmo de detalhismo com o olhar, irei me irritar em poucos minutos. Melinda tem suas coisas em uma medida, proporção e jeito tão encantadores para mim. O que faz todo o sentido, afinal, há chances dela ser alguém de meu sangue, não há? E se for, ela pertence a mim mais que a qualquer um outro! No entanto, privam-me de vê-la. Se ao menos ela me conhecesse e soubesse desses meus pensamentos por ela! Talvez ela própria desejasse me ver. Mas nem isso, senhores, nem isso! Sou um completo estranho para ela, e jamais passarei disso, pois negam ela e as suas cores a mim!

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