- Tudo bem. E respondendo sua pergunta, a essa altura eles já a levaram até a cidade.

- Fica próximo daqui?

- Um dia de carro para quem sabe o caminho.

- Você sabe?

- Olha eu sei onde você quer chegar, e não, nós não vamos até lá agora.

- Ela precisa de mim, Frank.

- Não. A última coisa que Barbara precisa agora é que eles a relacionem com você.

- E o que vamos fazer?

- Já passamos tempo de mais aqui. Vamos até um dos meus outros abrigos e conversamos no caminho.

Como dito por Frank, o que fizemos a partir daí foi organizar as coisas para partir para o próximo abrigo. E quando eu digo organizar as coisas, quero dizer bagunçar as coisas. Frank me explicou a tática dele em relação a suas casas.

Ele basicamente migra de casa em casa a cada dois ou três dias mas sempre pelos mesmo lugares escolhidos por ele. É mais fácil porque ele sempre sabe o que vai encontrar em cada casa e não precisa se arriscar lidando com zumbis em ambientes fechados assim. E pra despistar, sempre que ele sai de um dos abrigos ele bagunça controladamente o local, assim qualquer estranho que passe por lá não vai desconfiar que alguém viva ali.

É interessante, inteligente. Frank vem se mostrando ser alguém com habilidades bem específicas para esse novo mundo e admito que desejo aprender um pouco disto com ele. Eu sei fazer muitas coisas mas percebi que não sou tão bom em usar a cabeça como eu pensava que era.

Saímos da cabana assim que terminamos de bagunçar o local e voltamos a caminhar por dentro da mata, mas não na mesma direção de antes. Eu não sei para onde estamos indo então só me resta seguir os passos de Frank.

Durante a caminhada, não muito depois de deixarmos o abrigo, Frank olha para mim e fala:

- Eu olho pro seu rosto e vejo um milhão de perguntas pairando sobre a sua cabeça.

- Você tem razão, eu realmente tenho muitas perguntas.

- Eu entendo, então podemos fazer o seguinte. Já que sou eu que estou carregando a mochila mais pesada, porque você não fica encarregado de derrubar os cabeças-ocas que aparecerem no caminho? Aí a cada um que você abater com seu arco eu te respondo uma pergunta.

- Você poderia simplesmente responder as perguntas. – Insinuei num tom amigável.

- Poderia... Mas eu gosto de jogos e quero ver o quão bom você é com o arco.

Caminhamos por mais alguns minutos até o primeiro mordedor aparecer e Frank foi rápido em avisar sobre o bicho. Ele ainda estava longe de nós e algo me diz que era exatamente por isso que Frank queria que eu usasse o arco, ele quer me testar.

Não era um trabalho tão difícil, as arvores e folhas atrapalhavam um pouco mas nada que fosse tão prejudicial. O zumbi ainda não havia nos notado e vagava lentamente, o que torna o disparo bem mais tranqüilo. Eu ainda me sinto um pouco fraco e chego a tontear as vezes, mas nesse exato momento isso não me preocupa e eu sei que não vou errar a flecha.

Frank parou para me observar atentamente e eu não sei dizer se ele torcia a favor ou contra mim, mas em todos os casos se era me testar o que ele queria estava na hora de mostrar o quanto eu sou bom em testes.

Preparei o disparo e em poucos segundos o zumbi caiu inerte no chão com uma flechada direto no ouvido. Logo depois a mão de Frank tocou duas vezes no meu ombro, seguida de sua fala me parabenizando pelo acerto.

- Ótimo. Agora eu te respondo uma de suas mil perguntas.

- Como você sabe tanto sobre a estrutura e organização deles?

- Bem, como eu te disse, já faz um tempo que venho observando aquele grupo e ele não tem uma organização muito complexa, pelo menos na parte externa. Não sei como as coisas são dentro da cidade, mas do lado de fora basicamente os homens se dividem em dois grupos: os grupos de busca e os de reconhecimento.

- E qual a diferença deles?

- Você não tem direito a outra pergunta, mas vou te explicar porque a resposta ficou em aberto. Pelo que vi os de busca são compostos sempre entre três a cinco homens cada grupo, mas vez ou outra mais grupos chegam a andar juntos caso seja necessário. Eles sempre estão de carro e muito bem armados, são a força bruta. Só que os de reconhecimento é que são o verdadeiro perigo. Eu não sei quantos fazem parte de cada grupo desses, mas creio que sejam no máximo dois ou três e eles sempre ficam nas cidades e em possíveis rotas que outros sobreviventes possam tomar. Eles ficam parados, normalmente escondidos em apartamentos ou prédios altos e observam qualquer um que passe por ali e mandam as informações pros homens dos grupos de buscas. É por isso que não ando mais pelas cidades, consigo me virar bem contra os panacas de buscas mas lidar com algo que você não consegue ver é bem mais difícil.

- Entendi. Você teve trabalho em descobrir tudo isso.

- Nem tanto, foi apenas uma questão de observação.

- E o que você quer dizer com esse lance de conseguir se virar bem contra os grupos de busca? Quer dizer, quantos você já enfrentou ou matou?

- Isso é outra pergunta, o que quer dizer que você precisa derrubar outro canibal.

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