15/12/2018

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Ontem continuamos a conversa com Felipe e pudemos conhecer mais dele, assim como ele de nós. O garoto tinha uma estratégia bem montada, improvisou até uma passagem entre as janelas do prédio em que estávamos para um outro ao lado onde poderia escapar sem que os zumbis o enxergassem.

Viemos parar aqui neste segundo prédio onde ele mantém boa parte dos seus recursos e usa como um dos seus locais de estadia. Ele disse que tem outras várias casas e prédios na cidade na mesma situação que esse, equipados por ele parar servir de abrigo, mas acabou se identificando mais com esse e o promovendo a abrigo principal.

Ele nos disse que isso aconteceu porque este foi um edifício ao qual ele sempre quis entrar mas nunca foi permitido. E assim entre conversas sem pretensões fomos descobrindo quem ele era.

O garoto de fato era apenas um garoto, ele tem apenas 17 anos e quando perguntamos sobre quem ele era antes do apocalipse começar ele nos respondeu dizendo ser um sobrevivente, desde sempre foi um sobrevivente.

- Eu era um morador de rua antes dos mortos voltarem a vida. – Felipe disse enquanto comia um biscoito do pacote em sua mão.

- Por isso sempre um sobrevivente, né? – Barbara falou.

- É. Eu sempre tive que me adaptar esse sempre foi o único jeito de sobreviver. Na verdade, eu corri menos risco de morte desde que os zumbis tomaram conta do mundo e olha onde eu estou. – Ele falou olhando amplamente o cômodo. – Agora eu tenho uma casa, melhor, tenho várias casas. Tenho comida e é só eu não vacilar que terei paz e não serei incomodado, talvez pra mim o apocalipse não tenha sido de fato o fim do mundo.

Eu não tive o que dizer depois de ouvir isto. Nós sempre tratamos o apocalipse como a pior coisa do mundo e esse garoto apresenta uma visão totalmente diferente, eu jamais poderia ter pensado em tudo que aconteceu como algo positivo assim como ele.

Admito que me espante ele ter apenas 17 anos. O tempo nas ruas com certeza o fez amadurecer muito mais rápido e o tornou extremamente adaptável, é como se ele tivesse sido feito para esse mundo.

Depois do café da manhã demos um tempo de descanso e eu passei a pensar sobre o que havia acontecido aqui, sobre quem havia atacado a cidade e causado toda essa destruição. Se as mesmas pessoas que nos atacaram foram as que fizeram isto aos moradores daqui, nós precisamos ter uma conversa mais detalhada com Felipe.

Lembro que ele disse algo em torno de quatro ou cinco carros com homens armados e isso me preocupa. O grupo que ocupava esta cidade parecia ser bem organizado e se foram desmantelados tão fácil assim a encrenca em que nos metemos pelo jeito é bem maior do que imaginamos.

Após pensar sozinho por um tempo eu decidi contar tudo a Edinho. Ele ficou receoso se aquela era a melhor hora pra esse tipo de conversa, mas a verdade é que não tínhamos muita escolha, precisávamos saber o que estava acontecendo e o que iríamos enfrentar.

Felipe tinha saído para conferir se os zumbis da armadilha já tinham começado a se espalhar e esperamos ele chegar para por em pauta todas as nossas dúvidas. Ele não tardou a voltar e assim que chegou Edinho foi falar com ele e saber se ele podia nos responder mais algumas perguntas.

Felipe foi solicito ao perceber nossa preocupação e não hesitou em responder. Ele nos disse que havia cerca de 35 pessoas morando nessa região e que o grupo seria mais como uma rede de ajuda mútua, uma comunidade e não um grupo fechado com hierarquia e afins. Eles também não tinham um grande acesso a armas, o que acabou facilitando a tomada da cidade pelo grupo hostil.

Também questionamos se ele tinha idéia de pra onde as pessoas tinham sido levadas, mas ele não sabia dizer. Ele falou que se escondeu assim que viu a movimentação estranha e tudo o que sabe foi o pouco que viu antes de se esconder e o que escutou enquanto estava abrigado.

Pensei que teríamos mais respostas do que isso, mas o mínimo que sabemos a mais já nos ajuda. O que me deixa preocupado é um grupo grande assim ser dominado, e pior é pensar no por que alguém iria querer levar tantas pessoas assim. Não fizeram para tomar a cidade e pelo que Felipe falou que eles nem perderam muito tempo vasculhando por suprimentos, só vieram aqui pelas pessoas, mas por quê?

Cada resposta que temos faz com que outra pergunta apareça.

Depois da conversa com Felipe nós demos um tempo e começamos a nos organizar para deixar a cidade. Ficar ali não traria mais nada de novo para nós e precisamos seguir caminho ou nunca reencontraremos nossa família.

Felipe nos avisou que os zumbis já tinham se espalhado bem e tomado boa parte do quarteirão, mas se saíssemos em silêncio pelo fundos conseguiríamos dar volta neles. Estávamos prestes a nos despedir quando Barbara parou e pediu para que Felipe viesse junto conosco.

Eu gostei do garoto mas não pediria para que ele viesse conosco pois pensei que ele não aceitaria, além de que não seria nada vantajoso pra ele se juntar a nós. A única coisa que ele poderia ganhar vindo conosco seria nossa companhia, apesar de que acho que isso não contaria muito, e também a chance de conseguir sua vingança, mas eu também não estava muito certo do quanto ele quer realmente isto e o quanto está disposto a arriscar.

No fim das contas o pedido de Barbara foi aceito por ele, que se juntou a nós. Foi bom pois assim tivemos um guia para mostrar o caminho mais rápido e seguro até fora da cidade. Além disso, ainda ganhamos junto com ele os suprimentos que ele tinha estocado, gastamos um pouco de tempo desviando da rota para buscá-los mas com certeza valeu a pena.

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