23/11/2018

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Acordei com uma forte dor de cabeça e ao tentar me levantar notei que estava amarrado a cama. Tentei me desvencilhar das amarras e vi que Clayton me observava sentado numa cadeira próxima à janela do quarto.

- O que é isso? Por que estou amarrado? Me tire daqui! – Falei a ele.

- Você é uma ameaça a nós. Vai continuar ai até que eu diga que não.

- Cala boca e me tira logo daqui!

- Eu já disse que não!

Enquanto discutíamos sobre isso Barbara ao ouvir nossos gritos entrou pelo quarto adentro para saber do que se tratava.

- O que vocês estão fazendo?

- Ele está agressivo de novo. – Clayton disse.

- Seu amigo retardado me prendeu na cama. – Falei ao mesmo tempo em que ele tentando sobrepor sua voz.

- PAREM! – Barbara deu um grito que silenciou nós dois. – Clayton saia, pode deixar isso comigo.

- Mas Barbara... – Ele tentou protestar.

- Pode ir.

- Pode me desamarrar agora? – Falei assim que Clayton saiu do quarto.

- Não. E não foi ele quem te amarrou, fui eu.

- Por quê?

- Deixe me ver... "Você não me conhece. Se for preciso eu tomarei as minhas armas de vocês." – Ela disse repetindo o que falei a ela ontem. – Talvez seja por isso e pelo seu showzinho no terraço também.

- Ok. Desculpe-me por isso.

- Vai ser necessário mais do que desculpas para te tirar daí. Agora me de licença que eu tenho que ver seu tio. – Ela falou enquanto saia da sala.

Passei mais um bom tempo amarrado àquela droga de cama até que algumas horas depois Barbara voltou até o meu quarto.

- Sem mais gritos? – Ela disse questionando minha passividade.

- Eu não vou fazer nada contra vocês.

- Não tenho muita certeza disso.

- Em tempos como estes precisamos de confiança um nos outros. Você confiou em mim e no meu tio nos salvando, por que hesita agora?

- Talvez tivesse sido mais inteligente hesitar na hora de salvá-los, teria me poupado muitos problemas.

- Não precisamos desse joguinho... Eu preciso de você para salvar meu tio, você precisa de mim para te ajudar com os zumbis lá embaixo, uma mão lava a outra não é?

- Não se superestime tanto assim, garoto.

- Qual é? – Disse levantando as mãos e mostrando as amarras a ela. – Sem joguinhos, beleza?

- Tá bom. – Ela falou enquanto se aproximava da cama, tirou um canivete do bolso e cortou minhas amarras. – Pronto, quer algo mais, senhor? – Ela falou irônica.

- Meu canivete que está na sua mão. – Respondi enquanto passava as mãos sobre os pulsos marcados.

- Claro. E um banho também? – Ela continuou sarcástica.

- Por quê? Vocês têm água?

- Não. Não temos há bastante tempo até.

- Mas vocês checaram o reservatório todo? Quer dizer, conferiram se ele estava realmente seco?

- E precisa? Quando não sai mais água nas torneiras é meio óbvio que o reservatório secou.

- Não exatamente. – Falei me levantando da cama e saindo do quarto em direção ao corredor.

- O que você quer dizer? Pra onde está indo?

- Até o terraço. E traga uma serra, caso tenha, quando vier. – Disse enquanto corria até as escadas.

Subi até o terraço e fui até o espaço onde ficam as caixas d'água do prédio. Já estava destampando uma delas quando Barbara me alcançou.

- O que está fazendo ai?

- Arrumando o problema da água.

- Você faz mágica agora? – Ela mantinha o tom irônico e incrédulo enquanto se aproximava da parede do reservatório que eu estava dentro.

- Você não acredita em mim, não é? Pode ir lá pra baixo e só aproveitar a água ou ficar aqui e ver a mágica sendo feita.

- Ok Houdini. Eu quero ver essa. – Ela então deu mais alguns passos em minha direção.

Quando notei que ela já estava perto o suficiente me agachei, juntei um pouco de água nas duas mãos e joguei em sua direção rapidamente pegando-a de surpresa.

- Mas o quê? Como você fez isso? De onde essa água saiu?

- É bem simples olha. – Falei chamando Barbara pra mais próximo da caixa d'água. – Tá vendo esse cano mais alto? Ele é da tubulação comum, que vai pras torneiras e chuveiros, mas aquele ali embaixo. – Apontei pra um cano que ficava bem rente ao fundo do reservatório. – Aquele é da tubulação de incêndio.

- Tá. Eu não entendi ainda mas continue.

- Os reservatórios desses prédios todos ao nosso redor, inclusive esse, tem uma reserva de incêndio no fundo. Mesmo que não haja água nas torneiras ainda assim vai ter água aqui, porque o tubo de descida pras torneiras fica num nível acima da reserva de incêndio.

- Como você sabe disso? – Ela me olhava curiosa.

- Eu tinha uma vida antes do mundo acabar. Agora me dê a serra pra eu poder reduzir o cano e então teremos água nas torneiras e chuveiros.

- Tenho que admitir garoto, isso foi uma surpresa.

- Jotah.

- O que?

- Meu nome é jotah.

- Barbara. – Ela disse me estendo à mão.

Nos cumprimentamos e eu sai do reservatório.

- Podemos esquecer aquela confusão de ontem e considerar que nos conhecemos só agora? – Perguntei.

- Não sei. Vou pensar no seu caso.

- Pelo menos ganhei um banho, não é?

- Sim. E vai ganhar um pouco mais também.

- O que?

- Vem comigo. – Ela disse indo de volta à direção das escadas.

Descemos até o andar do quarto em que eu estava amarrado mas entramos num apartamento diferente. Seguimos então até o banheiro e Barbara me disse.

- Aqui está seu banho e isso é pra você. – Ela disse me oferecendo uma garrafa de 1 litro com um liquido turvo dentro.

- E isso é...

- Um sabonete caseiro. Minha retribuição a você por resolver o problema da água.

- Como você fez isso?

- Digamos que é melhor você não saber. – Ela disse sorrindo.

- Ok. – Respondi com o mesmo sorriso gentil que ela e me preparei para o banho.

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