06/12/18 (Continuação)

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A dor foi muito forte e a primeira vista eu pensei que tivesse sido acertada no olho, levei a mão à cabeça e me inclinei para frente, tonteei ao tentar levantar a vista a procura do garoto ou do zumbi mas caí logo em seguida.

Cai com as mãos e um dos joelhos apoiados no chão e logo rolei por cima do ombro, fiquei de costas pro chão e mais uma vez procurei em volta pelo garoto ou o zumbi enquanto o barulho dos dentes rangendo aumentavam. Minha visão estava turva e mal conseguia distinguir a silhueta das coisas mas sentia que o zumbi estava cada vez mais perto de mim então comecei a disparar na direção de onde eu pensei vir o som.

Dei três disparos ao mero acaso e logo depois ouvi alguém gritar meu nome e a voz aos meus ouvidos parecia muito distante, tentei responder porém estava aturdida com o golpe na cabeça e não consegui fazer as palavras saírem da minha boca.

Tentei levantar a cabeça e vi que estava prestes a perder a consciência quando perdi a força no pescoço e minha cabeça voltou a repousar no chão mas por sorte não apaguei. Senti mãos macias segurarem minha cabeça, graças a Deus não eram mordidas ou arranhões, pensei estar fora de perigo então fiquei mais aliviada.

Alguém tirou a arma da minha mão e eu ouvia vozes mas não conseguia distinguir bem o que elas diziam, senti alguém me levantar nos braços e recuperei a visão e o resto da consciência quando me puseram deitada no colchonete já dentro do depósito.

Levei a mão à cabeça mais uma vez e tentei me levantar, alguém pôs a mão no meu ombro e notei que era Dayse quando olhei para o lado. Falei que estava bem e me sentei encostada na parede. Não entendia bem o que estava acontecendo e ela dizia que estava tudo bem enquanto limpava meu ferimento da testa.

Poucos instantes depois ouvimos batidas no portão da frente, agora eu já estava em plena consciência e pude ouvir que era Rodrigo quem chamava por nós. Leonardo foi até a porta e a levantou para que Rodrigo entrasse, ele estava preocupado com os disparos e queria saber o que tinha acontecido e Dayse explicou tentando acalmá-lo.

As coisas pareciam ter sido resolvidas mas não demorou muito pra que dessa vez Alessandra entrasse correndo pela porta que dava acesso a garagem, ela estava com a minha arma na mão e gritava que zumbis estavam a caminho. Rodrigo tentou amenizar a situação dizendo que meu irmão estava dando conta deles longe dali mas Alessandra avisou que eram outros zumbis, os zumbis do garoto.

Ela me disse mais tarde que correu atrás dele depois que pegou a arma da minha mão e o seguiu até um beco formado entre dois prédios não muito longe de onde estávamos. Ela pensava ter o encurralado mas ele abriu uma porta na lateral de um dos prédios e se escondeu atrás dela enquanto de dentro do lugar começaram a sair dezenas de zumbis que avançaram contra Alessandra.

Na hora não sabíamos disso e não havia tempo para explicações, Alessandra gritava para que nos mexêssemos enquanto ela seguia recolhendo as bolsas sem ao menos esperar que entendêssemos a situação. Ficamos todos sem reação durante alguns momentos enquanto Alessandra não parava de juntar tudo que podia Rodrigo então olhou para os lados e a seguiu fazendo o mesmo.

Um a um fomos nos dando conta da situação e recolhemos tudo o mais depressa possível, até as crianças ajudaram. Eu me levantei devagar e catei duas bolsas aos pés do colchonete e segui até o carro. Fui a primeira a pisar na rua e vi a horda de zumbis vinda pela esquerda. Gritei para que todos se apressassem e ao mesmo tempo ouvi gritos dizendo que os zumbis já começavam a entrar pela garagem.

Antes que os zumbis alcançassem a frente ou o interior da loja nós já estávamos dentro dos carros, por um momento parei e olhei ao redor e percebi que meu irmão não estava ali. Comecei a chamar seu nome e logo Rodrigo, que dirigia o carro, me disse que ele estava bem e que nós íamos buscá-lo agora.

A alguns quarteirões dali vimos meu irmão acenando pra nós no meio da rua coberto de sangue. Ele entrou no carro em que eu estava e mesmo todo sujo eu o abracei e ficamos assim por um tempo num gesto de alivio mutuo agradecendo por todos estarem bem.

Saímos da cidade depois dessa e seguimos caminho pela BR, paramos cerca de uma hora depois no meio do nada e seguimos pra fora da estrada por uns cinco minutos para evitar que alguém nos visse caso passasse pela rodovia e estamos aqui agora.

Estou com um pequeno curativo na cabeça feito por Dayse e sinto um pouco de dor mas estou bem. Todos vieram me ver e saber como eu estou, na verdade foram eles que me ajudaram a lembrar do que aconteceu. Inclusive Castilho me disse que foi o primeiro a ver o que tinha acontecido comigo e que ele próprio me salvou do zumbi que eu não consegui acertar. Leonardo achou uma pequena bola de chumbo no chão perto de mim, acho que o que o garoto tentou esconder na calça era um estilingue e foi isso que ele usou pra me atacar.

Eu não esperava que aquele moleque fosse trazer tantos problemas, ele quase causou a minha morte e pôs em risco a vida de todos nós. Fiquei pensando, talvez se eu tivesse simplesmente disparado contra ele antes nada disso teria acontecido. Droga eu não sei o que é pior, levar em consideração a possibilidade de matar um garoto de forma fria ou notar que esse mesmo garoto quase me matou sem ao menos hesitar.

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now