29/11/2018 (continuação)

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Não tive dificuldades para sair do condomínio havia ainda alguns zumbis nas ruas, mais do que de costume por conta dos tiros de ontem, mas nada que fosse tão preocupante. Isso foi bom não só por facilitar minha passagem mas também por saber que eles não seriam uma ameaça pro grupo.

Sai pela única entrada do condomínio e por um momento hesitei em escolher a direção por onde ir, olhei lentamente a via em minha frente de uma ponta a outra, seguindo a esquerda eu voltaria a orla e poderia tentar seguir de volta o caminho que fizemos mas teria problemas com a quantidade de mordedores principalmente na região próxima ao porto. Já seguindo a direita a estrada levava no sentido ao interior do estado, que foi por onde viemos até perder contato com Jotah e Edinho mas eu não sei o que poderia encontrar no caminho e nem ao menos como chegar até lá.

O meu plano começou a apresentar falhas sem mal ter sido posto em prática e isso me enfureceu mas eu não podia desistir, engatei a primeira e segui a direita em direção ao interior. Eu não estava certa do que estava fazendo e sentia uma agonia no peito, uma maldita indecisão, em partes queria voltar pro meu irmão e pros outros mas por outro lado algo me impulsionava a ir atrás do Jotah e eu não podia controlar.

Segui sem rumo certo tentando me localizar pelas placas de sinalização às margens da estrada mas era difícil, muitas delas estavam ilegíveis e outras já não restavam nada mais que seu suporte, o que após certo tempo foi minando minha confiança. Ainda assim consegui me guiar até uma BR onde poderia contornar a cidade sem precisar enfrentar o centro da capital.

Dirigi por algumas horas eu acho mas não consegui avançar tanto pois muitos pontos da estrada estavam repletos de carros abandonados que dificultavam a passagem, por vezes precisei sair da rodovia para conseguir vencê-los o que me atrasou bastante.

Parei em frente a um posto de combustível quando notei que o tanque do carro não demoraria muito a secar. Desci do carro e analisei o terreno a minha volta a procura de mordedores ou alguém mais e não avistei nada então voltei pro carro e decidi comer algo antes de vasculhar o posto

Fiquei sentada no banco do motorista observando o painel do carro enquanto comia e foi aí que reparei que com a gasolina não tão alta e aparentemente sem galões reservas, se os homens que nos atacaram fizessem parte de um grupo maior eles com certeza não estariam muito distante de onde estávamos, pois seria arriscado de mais enfrentar uma viagem longa sem garantia de reabastecimento.

Isso martelou a minha cabeça ao ponto de eu não conseguir terminar minha refeição então logo desci do carro e fui conferir o porta malas que infelizmente estava vazio. Vasculhei também as mochilas no banco de trás e havia poucas mudas de roupas e quase nenhum suprimento, algumas revistas adultas, duas garrafas d'água, ferramentas, trapos velhos, um cantil com bebida destilada, uma pistola e munição de vários calibres.

Larguei as mochilas e fechei a porta do carro com força tentando aliviar minha raiva. Eu sabia que aqueles desgraçados não estavam sós mas não esperava que o resto do grupo deles estivesse tão perto de nós. Mais uma vez a indecisão tomou conta de mim e eu me vi sem saber o que fazer.

Tinha gasolina suficiente pra voltar ao condomínio e chegaria lá ainda antes do anoitecer mas se voltasse talvez nunca mais pudesse tentar encontrar o Jotah ou poderia continuar em frente mesmo sem saber onde chegaria com aquela quantidade de combustível colocando em risco o resto do grupo e não tendo certeza que o encontraria.

Vi-me desesperada no meio do nada, com um nó na garganta, me sentindo angustiada e nunca antes tão sozinha, fitando novamente a estrada em minha frente de uma ponta a outra talvez esperando um sinal que me guiasse no que fazer. Subitamente entrei no carro e segui em frente.

Algo me dizia que ele não estava longe de mim e que todo aquele risco não seria em vão, me enchi de uma autoconfiança que me levou ao limite aproveitando a pista livre para acelerar ao máximo para que pudesse estar de volta o mais rápido possível mas esse momento não demorou muito.

Cerca de uma hora depois que saí do posto seguindo em direção ao Jotah senti um tranco no volante ao mesmo tempo em que ouvi um barulho alto vindo de baixo do carro que por pouco não saiu do meu controle, ainda assim não fui capaz de mantê-lo na pista e sai da estrada estancando numa pequena vala ao lado da rodovia.

A parada brusca me fez bater com a cabeça no volante o que me deixou um pouco zonza, me mantive parada segurando o volante com as duas mãos, ainda aturdida tentando entender o que aconteceu até que voltei a raciocinar melhor e desci do carro para conferir o que houve. Desci com a mão na cabeça que doía bastante e me deparei com os quatro pneus furados, aquilo não podia ter acontecido naturalmente e mesmo sem conseguir pensar direito sabia que algo estava errado.

Abri a porta de trás do carro e mexi novamente na mochila em busca da arma, a peguei junto com um cartucho de munição e voltei a estrada. Caminhei mancando por alguns metros e não demorei muito pra ver o que ocasionou aquilo, havia uma armadilha de pregos na estrada. Por sorte eu já não dirigia tão rápido quando isso aconteceu pois caso contrário o desfecho teria sido bem pior.

Puxei o trilho de pregos da estrada antes de voltar ao carro para decidir o que fazer e enquanto voltava tudo em mim voltou a doer, tanto físico como emocionalmente. O ferimento da minha perna voltou a sangrar e eu vi meu pulso direito inchar provavelmente pela pancada quando o carro caiu na vala, minha cabeça também doía e eu estava ali no meio do nada desamparada e sem saber o que fazer.

A tarde avançava e a noite não tardaria a cair, eu estava sem opção e sem saber o que fazer, além de todas minhas preocupações agora ainda pensava em quem pôs aquela armadilha na estrada e por que. Era obvio que foi algo intencional mas será que as pessoas que fizeram isso ainda estão por perto ou essa droga foi deixada pra trás há muito tempo? Eu não sei e isso só me deixa ainda mais confusa e desequilibrada.

A essa altura eu não posso fazer mais nada pelo Jotah, não há como chegar nele nesse estado e mesmo que o alcançasse não estaria em condições de ajudar ninguém, só me resta tentar voltar pro grupo e avisá-los para partimos de lá mas eu não sei quanto conseguirei andar com a perna deste jeito. Desculpe-me Jotah, eu estraguei tudo.

Peguei meu arco, a arma com algumas munições e apenas minha mochila pois não agüentaria andar com ainda mais sobrepeso. Caminhei pela vala ao lado da rodovia tentando ficar longe de quem quer que passasse pela estrada, principalmente se fossem os donos daquela maldita armadilha.

Caminhei lentamente por alguns minutos até ouvir o barulho de uma moto que vinha na direção que eu seguia antes de perder o carro, me agachei tentando esconder-me mas ouvi a moto desacelerando quando aproximou-se de onde eu estava, logo depois o motor foi desligado e eu ouvi o homem me chamar, era meu irmão.

- Vamos pra casa.

- Eu sei.

- É. Então vamos – ele finalizou.

Não havia muito que dizer, meu peito explodia de vontade de falar e explicar tudo aquilo que sentia e o motivo pelo qual fiz aquilo mas assim que vi meu irmão percebi que ele já sabia de tudo isso. Ele me conhece mais do que ninguém e eu sabia que por mais que eu quisesse não havia mais explicações, sem muitas delongas subi na moto sem mais palavras e seguimos de volta.

A noite já caia enquanto voltávamos e na estrada próximos ao condomínio vimos brilho que chamava atenção no meio da noite, quanto mais aproximávamos o brilho se tornava mais notório e só quando estávamos perto de alcançar o condomínio que eu notei que aquela luz vinha de um incêndio.

Passamos pela frente do condomínio e eu vi que era a casa que estávamos que queimava.

- Vamos embora. – Igor falou friamente enquanto eu apenas observava atônita.

- Mas é... É a nossa casa. Temos que ir lá e ajudá-los.

- Eles estão bem. Vamos em frente.

- Como você pode ter certeza disso?

- Izabel, eles estão bem. – meu irmão finalizou enquanto dava meia volta na moto e seguimos por um acesso a esquerda da estrada.



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