Capítulo 38: há muitos filhos do mal para um só inferno - Parte 2 de 2

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Pisar no bar do Carlão, estando seu amigo morto, era estranho. Não mais ouviria a risada escandalosa de Silas no canto do boteco, nem teria alguém para conversar enquanto tomava uma. Fontes sentia uma grande amargura. Notara o homem solitário que era. Perdera seu melhor amigo. Seu único amigo.

A bebida doía ao descer, mas ele não conseguiria viver sem ela. Melhor as dores da bebida que as dores da verdade, da imutável e dura realidade. Sentado ao balcão ele se manteve calado. As mulheres não o animavam, tampouco o jogo, e nem mesmo o próprio Carlão, que sentiu muito ao receber a notícia, oferecendo-lhe o resto da garrafa de Black Label por conta da casa. Ele também não encontrou Ana ao longo da noite, o que era um tanto triste e peculiar. Ele precisava um rosto íntimo para sentar-se ao seu lado.

Não tardou para que o Suíço chegasse. Todos abriram espaço, sorrindo para ele. Um rei. Um deus. Ao avistar Fontes, foi em sua direção e, de braços abertos, o abraçou, beijando-o no rosto. Longe de se comparar com Jesus Cristo, mas Fontes não pôde deixar de se lembrar de suas professoras em suas catequeses mencionando Judas.

Detetive José Fontes! O herói de Nessuno! – as palavras se arrastavam. – Como está a mão?

– Está bem, Max. Obrigado por perguntar – ele suava frio.

E depois do falso cumprimento para os olhos do público, o Suíço se aproximou do ouvido de seu subalterno.

Relaxe, meu filho... – sussurrou. – Heróis não morrem, mas... – sorriu, aproximando-se. – Você é meu. Fale o que não deve e será sua mão toda, fale de novo, a outra... encoste mais um olho no meu sobrinho e, bom... seria um bonito ato da minha parte dar uma cadeira de rodas para um herói aleijado, não acha? – Afastou-se. – Bebam, meus amigos! Hoje, a noite pede celebração! Às nossas crianças, que agora podem andar na rua!

Assim todos fizeram, inclusive Fontes. Ele que já perdera tudo e agora só temia a morte.

Aquele lugar nunca mais seria o mesmo.

Sua vida nunca mais seria a mesma.

Um Perverso Tom de VinhoWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu