Capítulo 35: se você fecha a porta, a noite dura para sempre - Parte 1 de 2

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O detetive deixou a criança que salvara sua vida do lado de fora.

Tirou a própria camisa e cobriu o braço ferido do menino, com receio de que a sujeira do terreno infeccionasse as queimaduras, mas ignorando que sua própria boa-fé poderia fazer o mesmo.

O interior do casebre à podridão. Num canto, a cama; um velho colchão amarelado pelo suor e pelo mijo de um homem insano que jazia agora morto do lado de fora de sua própria casa – um fato que, anunciado desta forma, poderia ser considerado uma tragédia. No canto oposto, uma porta permanecia fechada; guardava o próprio silêncio.

O medo morava ali.

Se você fechar a porta, a noite pode durar para sempre.

Fontes abriu a porta e entreolhou pelo umbral. Sentiu o cheiro de excrementos, observando os ratos e, principalmente, as crianças, que o olhavam com os olhos vazios, sem alma. Ele se virou, chorando, e vomitou um jorro esverdeado. Todo asco que acumulara pela humanidade, ao longo de sua vida, escorregou esôfago, azedo, fétido e ardente. Sentiu-se envergonhado por todos os seus semelhantes pelo. Os homens são os únicos seres vivos capazes de tamanhas atrocidades; a perversidade se espalha entre os humanos. Todos temos nossa parcela de culpa.

Fontes pensava sobre isso. Ele também tinha a sua parcela.

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