Capítulo 4: grilagem, especulação e morte - Parte 1 de 4

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Silas Gonçalves aguardava Fontes na delegacia, dando boas risadas junto aos colegas, em sua maioria escrivães, discutindo os fatos relevantes da noite anterior, tal como quais as cores das calcinhas que acharam em seus quartos, o quanto beberam e sobre pentelhos das mulheres com quem acordaram. A sordidez de suas conversas talvez constrangesse policiais de outras cidades, mais preocupados com a lei que eles, mas ali todos aumentavam suas histórias na expectativa de soar o mais viril possível para seus chegados. Até os menos afortunados, que passavam a noite com uma revistinha erótica em uma mão e o pau na outra, se vangloriavam de suas vitórias noturnas. No fim, todos sabiam quem havia feito o quê, mas quem iria contradizer a história do amigo, por mais absurda que fosse? Apenas ririam concordando que a noite do infeliz fora única e que dariam tudo para estar em seu lugar.

Silas não pôde perder a oportunidade de introduzir seu amigo, Fontes, na conversa, assim que ele adentrou o local.

– Mas vejam só quem chegou! Zé, meu caro. Pelo andar da carruagem ontem, pensei que fosse te encontrar numa igreja!

Todos esboçaram risos, ainda no ritmo da conversa suja.

– Mas até onde eu saiba, sua mãe ainda não está pregando nenhuma missa, Silas.

A risada foi geral e estridente, inclusive por parte de Silas.

– Minha boa e querida mãe teria sorte se tivesse encontrado um bom homem como você, Zé! – Apertou-lhe o ombro. – O que temos pra hoje?

Os policiais se dispersavam, indo cada um para um canto, acendendo seus cigarros, sentindo-se bem pelo momento de distração. Era sempre bom se reunir com os colegas para falar coisas vis; todos concordavam nesse ponto.

– Você que tem os nomes. Então você me diz – Fontes se sentou em sua cadeira. Gonçalves se escorou na mesa.

– Acho bom passar no Turco, no boteco do Danilo e no clube do Jeffinho, antes de tudo. Esses vagabundos estão rachando de ganhar dinheiro e eu não vou engolir desses desgraçados. Max nos comeria vivos.

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