Capítulo 16: segunda-feira - Parte 1 de 2

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Segunda-feira. A vida se tornava menos boêmia em Nessuno nas segundas-feiras; ao menos para a maioria da população. Fontes, que tivera um domingo cansativo – no melhor sentido da palavra – poderia se dar ao luxo de chegar à delegacia após o almoço. Acreditava que seria uma longa semana e que coisas ruins podiam acontecer. Algumas horas a menos servindo a lei não fariam mal ao seu ver. Nunca antes fizeram.

– Mas devo dizer, Zé, a pobre Ana estava um pouco abatida... um pouco abatida demais, eu diria – Silas argumentou com seu colega, escorado em sua mesa.

– Ossos do ofício, Silas. – Fontes gostava de Ana. Tinha mesmo uma grande afeição pela ruiva com a qual compartilhara muitas e ótimas noites nos últimos seis ou sete meses. Mas isso, a seu ver, não era impeditivo para passar um tempo com uma mulher como Roberta. Me dá um tempo!, achava. – Já te digo que ao final da tarde teremos que marcar um dez frente a Coronel Pacheco.

– Quem? – questiona Silas.

– A escola, imbecil.

– E como diabos eu iria saber? Vá se foder!

– Mas temos alguma coisa pra tratar até lá ou só o de sempre? – referia-se ao saquinho com alguns dedos de maconha que trazia no bolso. O domingo claramente acalmara um pouco seus nervos.

– Ah... – Silas torceu o lábio, tentando agarrar uma memória que o escapava. – Tiveram uns malucos aí mais cedo, uns caipiras, daqueles do jeitinho que você gosta.

– O que queriam? Eram aqueles dois? Uílson e , ou sei lá o nome do infeliz!

– Não... mas acho que tem a ver com eles. Vieram reportar que uns amigos, esses dois aí, capaz, estão desaparecidos há um par de dias. Eram uns quatro ou cinco caras, mas provavelmente nada aconteceu.

Fontes sorriu.

– Vai ver eles foram mortos pelos kayapós! – Fontes disse e Silas riu. – À noite fazemos uma ronda e provavelmente encontramos os dois idiotas bebendo em algum boteco ou trepando por aí.

– É o mais provável – concordou, olhando para o lado. – Mas guarda esse esterco de erva que você tem aí que o Toninho me arranjou uma coisa da boa...

– Sério?

– Vamos nessa, rapaz.

– Claro! – Fontes disse, levantando-se.

Um Perverso Tom de VinhoWhere stories live. Discover now