Capítulo 8: mais álcool no sangue e menos roupa no corpo - Parte 1 de 1

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– E a noite deixa os guarás malucos... – Silas zombava, aos risos, remedando as palavras do amigo. – Ainda bem que não te acompanhei nessa roubada, Zé. Mas não se preocupe, mandei lembranças suas pras moças!

– Você é um idiota, Silas – Fontes sorria, por sua vez, levando à boca a sua bebida.

O Carlão estava cheio. Eram visíveis as narinas sujas com o pó branco que escorria pelo local como suor em um lençol de um bordel num dia quente; o cheiro da erva tornava inútil qualquer tentativa das pessoas de se fazerem atraentes pelos seus respectivos perfumes; cruzeiros entravam e saíam dos bolsos dos que se aventuravam no baralho; moças e rapazes dançavam ao longo do bar e uns até mesmo no balcão, o eterno palco improvisado: cada vez mais álcool no sangue e menos roupa no corpo. Carlão estava ao fundo com os chefões da cidade, contente por ser o aleijão favorito deles. Como não adorar esse safado? Como não amar seu boteco? De todos os lugares que a corja daquele lugar frequentara, aquele ponto, em especial, representava tudo o que desejavam apertando os olhos ao dormir ao lado de suas rabugentas esposas e maridos babões, tudo o que tomavam por precioso e estimado

(liberdade ainda que tardia!)

o êxtase tangível e intangível da existência humana; luxúria e prazer: um paraíso antecipado.

– Falando nas moças, Zé, uma delas tem algo que pode te interessar... e não estou falando do óbvio.

– Vai me dizer que ela viu um índio invocando o próprio diabo?

– Moça da cidade, Zé! Não esse bando de caipiras como os que você tá saindo. Uma moça de nível, que sabe reconhecer um cavalheiro quando o vê – para Silas, em sua autoafirmação, todas mulheres que fossem para cama com ele eram moças de nível, prostitutas ou não,

– Certamente... – bebericou a cerveja, sorrindo.

– Ouça, seu estúpido, pois sei que é algo muito melhor do que o que você tem.

– Desabafa então, Silazinha.

Silazinha é o caralho, filho da puta!

– Fala logo...

– Não me pergunte o nome, pois já havia tomado algumas, mas era a morena mais alta, com peitões, disso eu tenho certeza. Enfim, quando falei sobre onde você iria e o motivo, ela me disse que há algum tempo sua tia, ou prima, ou irmã, não vem ao caso, desconfia de um filho da puta que sempre fica observando a escola onde a filha estuda...

– Tem certeza de que esse filho da puta não é você? – Fontes riu.

– Você tá engraçadinho hoje, hein? E nem ouviu a parte mais interessante...

– Que seria?

– É a mesma maldita escola que a última menina que sumiu frequentava.

Fontes se serviu de um longo gole. Precisava refletir.

– Faz mais sentido que índios e as abobrinhas todas que te falaram, não? – Silas concluiu, batendo seu copo americano contra a mesa.

– Se o Suíço não estivesse vindo aqui, eu te daria um beijo agora mesmo, seu gordo safado.

– Tomarei isso como agradecimento. Vou buscar uma cerveja – Silas disse, levantando-se.

Max Suíço se aproximava. Grisalho, ostentava densas costeletas e um bigode acinzentado. Duas vezes prefeito de Nessuno e o homem mais importante do lugarejo; desfrutava de uma influência muito grande junto aos militares. Um com as mãos sujas de sangue e de muitas posses, sim, mas tinha seu charme político, seu que de demagogia e populismo; o povo o amava e seus inimigos e subalternos o temiam. Após mais de meio século sobre a Terra, sentia-se orgulhoso de ter marcado o nome de sua família na história de Nessuno e do Brasil

Um Perverso Tom de VinhoOù les histoires vivent. Découvrez maintenant