Capítulo 21: o sabor de se envolver com a pessoa errada... - Parte 2 de 2

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O lugar estava rodeado por abutres mascarados de seres humanos. Não podiam sentir o cheiro da morte que já eram atraídos. O corpo estava coberto por uma lona escura, tentando afastar aquelas aves que o rodeavam. Fontes se aproximou e levantou a lona para conferir – algo em seu interior ainda tinha esperanças – e se deparou com a morena com a qual transara há poucos dias, caída, sem vida, com marcas de faca no abdômen e peito.

Cacete... – sussurrou para si mesmo, desviando o olhar para o bar.

E neste movimento, Fontes deparou-se com um rosto conhecido.

O mesmo rapaz de franja castanha que avistara no Dodge negro frente à escola. Ele estava . Sentado, bebendo e sorrindo! O detetive cerrou os punhos, caminhando em sua direção. Tinha a certeza de que o infeliz era, de alguma forma, o culpado pela morte de Roberta. Não tivera coragem, não tivera culhões, para confrontar os policiais de frente e a matara para deixar algum recado. O mais provável é que o filho da puta também fosse o responsável pelo sumiço das crianças.

Ele respirava pesado e mal piscava. Gotas de sangue começaram a pingar de suas mãos, furadas pela pressão das unhas.

ZÉ! – Silas gritou, notando a confusão que se aproximava. Sua voz, porém, soava distante na cabeça de Fontes.

Ele nem tomou conhecimento de seu nome sendo chamado e seguiu, fixando os olhos no rapaz, que parara de sorrir. Este postou seu copo na mesa e começou a encarar Fontes, que se aproximava. Ao ter a certeza de que era o alvo vermelho daquele touro raivoso, o rapaz se levantou, vacilante, e tentou se proteger atrás dos dois homens que o acompanhavam, apontando na direção de Fontes. Os homens pararam de sorrir, levantaram-se e agiram como uma barreira, deixando claro a posição de capangas que ocupavam, e, como Fontes não recuava, foram para cima dele.

O detetive Fontes pegou um tamborete de madeira no chão e acertou o queixo de um dos capangas, que caiu ao chão, criando um filete vermelho no ar, seguindo um de seus dentes. O outro sacou uma arma, mas Fontes pegou uma garrafa na mesa ao lado e lançou. O vidro acertou em cheio seu rosto e se espatifou, cortando sua testa, suas bochechas e seu nariz. O jovem chefe dos brutamontes tentou correr. Tentou. Fontes se atirou em cima dele, caindo ambos ao chão, e começou a martelar seu rosto com os punhos.

Caso continuasse socando a face do rapaz, provavelmente o mataria. Silas aproximou-se, chutando o estômago de seu amigo e o empurrando para longe. Fontes até se levantou, partindo para cima de Silas, mas este o acertou com um soco no rosto. Na segunda vez que o detetive se levantou para revidar, porém, parou quando ouviu o cão de uma pistola sendo puxado atrás de si.

MAIS UM PASSO E EU ATIRO. – era Danilo, o dono do lugar. – Puta que pariu!

– Zé, caralho, que porra foi essa? PUTA QUE PARIU, infeliz! ABAIXA ESSA PORRA, DANILO. ABAIXA ESSA PORRA LOGO – esbraveja Silas.

Foi ele! – Fontes apontou o braço para o rapaz desacordado. – Ele matou a Roberta e tá sumindo com as crianças! Ele tava na frente daquele cacete de escola, porra!

O que... – Silas começou a dizer. – Cacete, Zé! Como você pode ter certeza de uma merda dessa? – olhou para Danilo. – Eu já disse pra abaixar isso, caralho!

E ele o fez.

– Porra...! PORRA! – Danilo começou a andar em círculos. Fontes olhava para as mãos sujas de sangue e machucadas pelos ossos do rosto do rapaz caído. Estava incrédulo. – Que merda, caras! O que deu em você, Zé? Caralho! Esse cara que você quase matou tava aqui sentado o tempo todo, tava aqui quando aquela puta morreu. Caralho, Zé, você não sabe mesmo quem ele é? Mesmo?

Fontes se virou e Silas arregalou os olhos para Danilo. Depararam-se com a leve certeza de que tinham feito cagada. Muita cagada.

– Tales SUÍÇO – Danilo acentuou a última palavra. – Merda! A gente tá muito fodido! A gente tá morto! Por culpa de vocês! – Voltou a apontar a arma e eles levantaram as mãos. A vida passava rápida pelos olhos dos investigadores.

– Merda! – Silas gritou. – PUTA QUE ME PARIU!

Fontes se manteve em silêncio. Os capangas começaram a se levantar. O detetive refletiu e chegou à conclusão de que provavelmente já estava morto. Pra que relutar?

Apontaram a arma para ele.

– Ligue para o senhor Max – o maior deles, com um filete de sangue escorrendo da boca e uma janela no meio dos dentes, disse para Danilo.

– PORRA! – Silas insistia em gritar. – Porra, Zé!

Fontes continuou em silêncio, mesmo quando a coronha da arma acertou sua testa.

Tales Suíço recuperava a consciência, levantando-se do chão à medida que seu carrasco caía, perdendo a sua própria.

Silas levava a mão ao rosto, entendendo o quão grave era a situação. Um dos capangas, com o rosto destruído, foi até onde ele estava e levantou a coronha.

Não! – Silas levantou os braços. – Eu não tive merda nenhuma a ver com isso! – alegou. – Merda nenhuma!

– Para o carro então, infeliz! – o segurança disse, mas acertou-lhe o rosto do mesmo jeito.

Silas ainda assim sorriu, imaginando a irônica inversão dos papéis entre polícia e bandido. O sorriso lhe custou um segundo golpe.

– Você está bem, senhor? – o sem-dente se agachou ao lado de Tales.

Que porra... – ainda não encontrava as palavras, mas cuspiu um dente. A fada do dente faria uma festa aquela noite!

Fontes era arrastado pelo bar.

As pessoas ao redor olhavam, desesperadas e – por mais estranho que soe – um pouco excitadas. Havia um corpo na rua e estavam com a expectativa de verem outros dois passarem desta pra melhor ao vivo e a cores. Seria assunto para o resto da semana de trabalho.

Malditos abutres.

Um Perverso Tom de VinhoWhere stories live. Discover now