Capítulo 11: adentrando o cerrado com os caipiras - Parte 1 de 2

143 24 4
                                    

Os gêmeos aguardavam Fontes no café da Lúcia. O dia estava quente e eles tomavam uma Skol, ao som de Raul Seixas. Viraram seus copos e caminharam para o meio-fio,assim que notaram a C-10 se aproximar. Fontes não submeteria seu Dodge Dart às estradas de terra para as quais seguiriam.

– Prontos, senhores? – Fontes perguntou, ainda ao volante, com o motor ligado.

Ambos assentiram, já abrindo as portas.

– Ei, ei! Não tão rápido! Façam o favor de buscar umas latinhas de Skol pra mim antes de entrarem. Hoje tá quente como o inferno!

Uílson, abrindo a porta do passageiro, olhou para Uílton que, entendendo o recado, foi buscar a bebida para o senhor Detetive, contrariado, segurando-se para não falar algo que o colocasse atrás das grades, ou pior, debaixo da terra.

E manda um beijo pra Lúcia!

Uílton voltou com um punhado de latas numa sacola.

– Aqui, sinhô – disse, fechando a porta.

– Muito obrigado, meu caro – pegou a bebida e deu um longo gole, engatando a primeira marcha, sem fazer a menor questão de oferecer alguma cerveja para os dois. – Espero que gostem do grande Tim Maia – colocou uma fita cassete no som e sorriu. – Agora sim! Podem me apontar o caminho. Vamos logo com isso.

"O caminho do bem... o caminho do bem... o caminho do bem... já iniciou... está acontecendo..."

Após dez minutos já não se viam as casas de Nessuno e, meia hora depois, Uílton disse para Fontes virar à esquerda, seguindo um estreito caminho de terra, mais feito para cavalos que para os poucos carros da cidade. Ainda bem que não vim com meu Dodge, pensou Fontes.

A rota levava a uma cachoeira de queda mediana, onde viam-se capivaras bebendo água e alguns índios se refrescando, nus, tentando amenizar o calor. A mata ao redor era densa; o cerradão protegia seus segredos da luminosidade do sol e impedia que aventureiros arriscassem um passeio à noite, encontrando aconchego na luz da lua.

Fontes parou a camionete a alguns metros da piscina formada pela queda d'água, sob a sombra de uma árvore solitária em meio à clareira. Podiam-se ouvir os pássaros; lindos cantos de sabiá. O detetive desceu e acenou para os indígenas, que retribuíram o aceno, curiosos com a situação. Os homens seguiram os passos de Fontes, repetindo seu ato, mais por medo do que por qualquer outra coisa; temiam aquela raça de homens de pele vermelha que habitavam a mata. Feiticeiros, selvagens!

– Pelo menos teremos um pouco de sombra – o detetive disse, olhando para o alto, observando as copas das árvores, ao seu redor.

A dupla apenas se entreolhou. Não gostavam da ideia de estar naquele lugar, e gostavam ainda menos do fato dos índios terem posto os olhos sobre eles; mas o senhor Detetive não era homem que você desejaria desagradar, logo era melhor pôr um rápido fim na situação, mostrar-lhe os ossos – dos quais nunca deveriam ter falado – e dar o fora dali!

– E, ah, cavalheiros... – Fontes os chamou, mostrando-lhes sua .38 na cintura. – É melhor nem pensarem em tentar alguma gracinha.

Eles engoliram em seco.

– É por aqui, sinhô – Uílson puxou a fila.

Fontes seguia atrás do par de caipiras que, hesitantes, penetravam na mata. Era irritante ver o medo e o cuidado com que eles prosseguiam; como paravam, atentos a cada barulho e olhando para ele como se implorassem para que os deixassem voltar.

É bom continuarem... – Fontes disse em resposta aos olhares.

E assim o fizeram.

– Como vocês caçam aqui, afinal? Parecem que têm medo da própria sombra – Fontes afastava do rosto os galhos que atrapalhavam seu caminho.

Um Perverso Tom de VinhoWhere stories live. Discover now