Epílogo

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CINCO MESES DEPOIS.

Noah se remexia impaciente em meu colo. Aos sete meses, não era mais aquele bebê submisso e conduzente. Agora ele tinha vontade própria, e a sua vontade naquele momento definitivamente não parecia ser estar ali, à espreita, em meu colo, fugindo de mais olhares. Queria a mãe, recém avistada ao fundo, fones no ouvido e toda a atenção voltada para o programa que conduzia naquela manhã, como em quase todas as outras.

Alfonso: calma, filhão! Assim vão nos ver aqui! - confabulei, tentando chamar sua atenção com meu tom de voz conspirador. De alguma forma surtiu efeito, ele me encarou. - Viu? Fica quietinho, bem bonito e comportado, e depois eu te levo pra azarar algumas menininhas na pracinha. Prometo!

- No ar outra vez em trinta segundos! - alguém berrou, roubando sua atenção. Daquela vez mantive-o quieto entregando-lhe meu crachá de visitante. Aquilo o distraiu.

Anahí: bem, nosso tempo está terminando, garotas. - Sua voz soou assim que a luz vermelha voltou a se acender na cabine, mas aquela não era Anahí. Era Ana Nicholls, embora um pouco mudada. Aquela que, em um tempo não tão distante, eu tinha vontade de estrangular com minhas próprias mãos. Sorri com as lembranças. - Como vocês sabem, vou ficar mais um tempinho longe. Casamento, lua de mel... essas coisas de mulherzinha em que eu acabei me metendo - desdenhou, brincalhona. - Não esqueçam de mim! Eu não vou esquecer de vocês, juro! E, por Deus, tenham consciência! Nada de crises de mulherzice demais nesse meio tempo! Amem com paixão, mas sejam bobas com algum comedimento, por favor! - quase implorou, dramática. - Um último conselho? Lembrem-se que mulher sábia é aquela que escuta, finge que acredita e deixa o bobo achar que é esperto! - riu. - Um beijo em cada uma de vocês, nos vemos em breve!

Um burburinho se instaurou enquanto o programa saía do ar e Anahí levantava, tirando o fone dos ouvidos e rindo enquanto falava com o pessoal da produção. Nos casaríamos no domingo, e muitos deles deviam estar reafirmando seus votos de felicidade. Achando que já era o momento de me fazer notar, enfiei a cabeça na porta que separava a cabine da área de controle de som. Ela logo nos viu e dispensou quem a rodeava, apressando-se até nós.

Anahí: Poncho! - animou-se. - Meu amor! - disse, dirigindo-se a Noah, que praticamente jogou-se do meu colo para o dela. - O que vocês estão fazendo aqui?

Alfonso: uma visita - minimizei. - Problema?

Anahí: claro que não! - disse, enrugando a testa. - O que foi? Por que essa cara?

Alfonso: 'lembrem-se que mulher sábia é aquela que escuta, finge que acredita e deixa o bobo achar que é esperto' - remedei suas palavras com algum sarcasmo. Ela riu instantaneamente. - É algo confortante saber que eu sou o bobo que se acha esperto - falei. - E não ria!

Anahí: você é muito bobo! - não me obedeceu, a risada embolando suas palavras. - Você sabe, Herrera, aquela não sou eu, é Ana Nicholls, lembra?

Alfonso: sei bem, engraçadinha, sei bem!

Anahí: vamos sair daqui - falou, pegando a bolsa. - Pessoal, estou indo! Espero vocês depois de amanhã, hein? - elevou o tom de voz. - Quem não aparecer, dou um jeito de mandar demitir! E estou falando sério!

Uma chuva de cumprimentos, comentários e risadas caiu sobre ela. Sobre nós. Conseguimos nos livrar deles em tempo recorde e logo estávamos na rua, seguindo para meu carro.

Anahí: de verdade, o que vocês vieram fazer aqui?

Alfonso: sei lá, Anahí. Dar uma volta, encontrar com você uma última vez antes que te roubem pra sua despedida de solteira e dia de noiva, dizer que não estou gostando nada dessa ideia de homens pelados dançando perto da minha mulher... Coisas desse tipo.

Anahí: eles não vão estar pelados - corrigiu, rindo de mim. - Eu já disse isso! Na verdade, nem sei se vai ter dançarinos, Poncho.

Alfonso: sim, e eu nasci ontem.

Anahí: você não pode falar muita coisa, ok? Que seja, que tenham os tais dançarinos gostosos...

Alfonso: opa! Que história é essa de gostosos que...

Anahí: você teve a sua despedida ontem - continuou, como se eu não a tivesse interrompido. - Aposto que haviam algumas stripers oferecidas por lá!

Eu não tinha como negar...

Anahí: tá vendo? - disse num tom acusatório. - Então não venha querer controlar meus dançarinos gostosos, ou as performances deles!

Contei até cinco mentalmente.

Alfonso: tudo bem, mas você não precisa insistir a todo o momento que eles são gostosos! Eu tô tentando lidar com isso e já é bem difícil sem que você fique esfregando isso na minha cara!

Anahí: oww - zombou, acariciando meu rosto. - Filho, olha como seu pai fica todo fofo ciumento. Olha bem!

Alfonso: não é engraçado - rosnei.

Anahí: tudo bem, não é. - Olhou Noah. - Não é engraçado, Noah. Ouviu bem?

Alfonso: vamos embora daqui.

Ao som de seu risinho incontido, abri a porta de trás para que ela colocasse Noah na cadeirinha. Em seguida, abri a da frente para que ela passasse. Dando a volta, entrei e dei a partida.

Assim que parei no primeiro sinal vermelho, senti sua mão correr pela minha perna. Olhei-a de rabo de olho.

Alfonso: o que é?

Anahí: nada - fez-se de desentendida. Olhando pelo retrovisor, viu Noah entretido com seus brinquedos. Sua mão subiu mais um pouquinho. - Por quê?

Olhei para seus dedos, que apertavam minha coxa, e em seguida para seus olhos, aquele azul intenso que quase sempre me desnorteava.

Alfonso: qual é a finalidade?

Anahí: finalidade?

Com um ar desentendido, subiu mais um pouco a mão. Incapaz de impedir, um sorriso contrariado surgiu em meus lábios. Não tinha jeito. Sempre seria assim, houvesse o que houvesse. Eu seria um bobo em suas mãos. Já fazia algum tempo desde que eu aceitara aquele fato.

Alfonso: tudo bem, já pode parar. Já estou bem.

Sapeca, ela riu.

Anahí: ótimo, dessa vez foi mais fácil do que eu imaginava.

Alfonso: Anahí!

Anahí: ok, ok, eu retiro o que disse - ergueu a mão que me acariciava em um juramento. - Não está mais aqui quem falou!

Alfonso: vai chegar o dia em que você não vai conseguir me comprar assim, tão fácil - menti, era óbvio.

Anahí: sei, Herrera, sei bem...

Sorrindo, deixei que ela segurasse minha mão livre enquanto voltava a dar a partida. Não tinha jeito, aquele seria meu destino. Eu já estava conformado.

"A vida de ninguém é repleta de momentos perfeitos. E se fosse, não seriam momentos perfeitos. Seriam apenas normais. Como você poderia saber o que é a felicidade se nunca tivesse experimentado as quedas?"

FIM.



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Vou chorar, sério!
Espero que vocês tenham amado a história como eu amei. Já sinto saudades dos surtos/cobranças e de postar aqui também. 😢

Maasssss já comecei outra história também, só procurarem no meu perfil. Espero ver-las lá! ❤😘

O Pecado Mora Ao LadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora