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Saí do chuveiro e chamei por Poncho. Tinha esquecido de trazer a toalha para o banheiro. Ele não atendeu. Praguejando, sacudi-me como podia e fui para o quarto na ponta dos pés, evitando ao máximo molhar o chão. Inferno, onde aquele homem havia se metido que não me atendia?

O quarto também estava vazio. Os papéis que ele olhava, largados sobre a cama, junto com o celular. Enruguei a testa e gritei-o mais uma vez. Em vão. Suspirando, fui até o armário e peguei outra toalha. Sequei-me apressada e vesti a primeira roupa que achei no guarda-roupa. Procurei-o por todo o apartamento e nada.

Estava parada na sala, com as mãos na cintura, quando uma ideia me ocorreu. Se não estava em nenhum lugar, ele só podia ter ido até seu apartamento. Fazer o quê, era uma incógnita que eu logo resolveria!

Apressei-me até a porta e saí. Nada no corredor. Caminhei até a porta ao lado e toquei a maçaneta. Ela estava encostada. Empurrei-a de leve, evitando fazer barulho. Sabe aquelas loucas que perseguiam os maridos por todas as partes, revistavam seus celulares e contratavam detetives particulares quando achavam que sozinhas não conseguiriam nada? Era como eu me sentia naquele momento.

Assim que entrei, ouvi a risada rouca de Poncho vinda da cozinha. Melissa dizia alguma coisa, com aquela sua voz falsamente melosa, e ele parecia adorar. Um enjoo instantâneo me abateu. Aquela mulher me dava ânsia.

Conforme me aproximava da cozinha, passei a distinguir suas vozes e entender a conversa.

Alfonso: eu disse que seria fácil - falou, risonho. - Medrosa.

Melissa: ah, e eu lá ia saber? Morro de medo dessas coisas, já te disse - deu um suspiro forçado no exato momento em que eu aparecia na porta. Nenhum deles me viu, mas eu arfei quando vi a situação em que eles estavam; Melissa enrolada numa minúscula toalha, quase pendurada no braço do meu homem. - Obrigada, Chito! -CHITO? - Não sei o que teria feito sem você! - e aí ela literalmente pendurou-se nele.

Apertei os olhos, uma onda de fúria me atingindo em cheio. E foi nesse momento em que ela me viu. Sorrindo, deliciada, suspendeu uma das sobrancelhas, o rosto ainda apoiado no ombro de Alfonso.

Anahí: cena comovente.

Ele quase pulou, empurrando Melissa para longe. Seus olhos correram até mim, com aquela típica frasezinha masculina idiota estampada nas íris esverdeadas: não é nada disso que você está pensando.

Dando-lhes as costas, caminhei apressada para fora daquele lugar.

-

Por Alfonso

M E R D A.

Aquela foi a única palavra que me veio à mente quando ouvi a voz de Anahí e vi a clara reprimenda em seu olhar quando a fitei. Fiquei momentaneamente sem palavras, encarando-a acho que quase suplicante. Sabe, bem naquele estilo 'amor-não-é-nada-disso-que-você-está-pensando' que acho que todos os homens já usaram pelo menos uma vez na vida. Mas, caramba, não era mesmo! Só que ela parecia não perceber isso ao nos dar as costas e sair em disparada rumo ao próprio apartamento.

Acordando com um estalo, corri em seu encalço. A voz de Melissa soou atrás de mim, chamando-me pelo nome, mas eu não lhe dei atenção. Alcancei Anahí no exato momento em que ela batia a porta com força em minha cara. Ou tentava. Por sorte, consegui segurá-la antes que se fechasse entre nós.

Alfonso: anjo, por favor...

Anahí: anjo? - remendou, a ira atingindo-me em cheio quando virou-se ao perceber que eu a tinha alcançado. - Anjo, Alfonso? Ah, por Deus, cala a boca!

O Pecado Mora Ao LadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora