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Escutem: Skinny Love - Bird.

Fiquei olhando o teto, estirada na cama, por um tempo sem fim. Apertava os dedos, remexia-me, incômoda, sacudia os pés. Nada me satisfazia. Estava irritada. Entenda bem, eu estava irritada mesmo. Com a situação, com Melissa, com Alfonso e até mesmo com aquela gravidez, que me impedia de correr até o apartamento ao lado, agarrar aquela vadia pelos cabelos e fazê-la tirar aquele sorrisinho vitorioso do rosto da forma mais cruel e dolorosa possível.

Ok, eu podia estar pensando (e agindo) como uma louca, incoerente e idiota, mas, dane-se! Eu estava furiosa. E, dá licença, eu tinha todo o direito ficar furiosa com o que eu bem entendesse. Inclusive com Alfonso!

Olhei para a porta. A maçaneta que girara seguidamente assim que me tranquei, estava imóvel. Tudo estava silencioso, aliás. Eu não sabia se Alfonso tinha seguido meu conselho e voltado para seu apartamento ou se só estava ali, do outro lado, esperando minha crise passar para me comprar outra vez com todo aquele seu jeitinho irritantemente perfeito de (quase) sempre. Não importava. (Mentira, importava muito!)

Virei para o lado. Para o outro. Bufei. Não tinha sono, não encontrava posição e estava em cólicas para saber o porquê de todo aquele silêncio vindo da sala. Ele nem insistira em me falar! Fitei o relógio. 2:42 AM. Suspirei e voltei a virar-me de frente, encarando o teto. Mantive-me imóvel, deixando que a sonolência me vencesse. Por minutos incontáveis, talvez uma hora inteira.

Quando me mexi outra vez, senti um incômodo na barriga. Não era como se o bebê estivesse chutando, era diferente. Algo parecido com aquelas malditas cólicas que não me acometiam desde que engravidei. Repuxei o tronco, apoiando-me na cabeceira. O incômodo permaneceu, e eu franzi o cenho. Levantei, meio desajeitada, e comecei a andar pelo quarto. Talvez aquilo ajudasse, talvez fosse apenas Noah remexendo-se lá dentro.

Anahí: bebê, qual é o problema? - murmurei, olhando para a barriga e acariciando-a. - Não brinca com isso de nascer antes da hora, hein? Seu quarto ainda nem está pronto.

Dei mais alguns passos, e o incômodo pareceu diminuir um pouco, mas ainda estava ali. Olhei outra vez o relógio e daquela vez já passava e muito das três. Sem fazer barulho, segui para a porta e girei a chave na fechadura. Girei a maçaneta e saí, pé ante pé, as meias que usava inibindo qualquer barulho.

A sala estava escura e eu nem me atrevi a olhar para o sofá. Tinha medo da minha reação no dia seguinte se descobrisse que ele tinha mesmo ido embora. Segui para a cozinha e acendi a luz lateral, que era mais fraca. Outra vez o incômodo, daquela vez mais forte. Arfei, apoiando ambas as mãos na bancada, a cabeça baixa. Fechei os olhos.

Alfonso: Anahí? - A voz rouca vinda da porta sobressaltou-me. Olhei-o. - O que houve? Está sentindo alguma coisa?

-

Por Alfonso

Seus cabelos estavam desalinhados e ela vestia as mesmas roupas que usava quando se trancara no quarto, mais cedo, os olhos fragilmente confusos. Linda, daquele jeito todo natural. Entretanto, o que me chamou a atenção foi o gemido que ouvi vindo de seus lábios pouco antes de ela inclinar a cabeça, apoiando as mãos na bancada.

Tendo em vista o escândalo que fizera da última vez em que nos vimos naquela noite, antes que ela se enfiasse no quarto e me impedisse de tentar explicar qualquer coisa, eu não esperava ser recebido muito bem. Contudo, ela pareceu feliz (ou, mais certo, aliviada) em me ver. Suspendendo os olhos confusos até os meus, respirou fundo.

Anahí: tem alguma coisa acontecendo aqui - disse, sem muito nexo, levando a mão até a barriga. - Acho que... não sei. Está doendo.

Instantaneamente, sobressaltei-me. Apressei-me até ela, cingindo-a com os braços.

O Pecado Mora Ao LadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora