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"É possível não sentir esses arrepios ao lembrar-me do toque, do cheiro, do beijo dele?"

Anahí: Shakespeare falava do mais puro e conturbado amor. Suas histórias eram intensas, misturando amor e ódio, poder e privilégios com a pobreza e a falta de status. Ele adorava brincar com esses extremos, jogá-los um contra o outro. E eu nem falo só de Romeu e Julieta. A maioria de suas obras eram assim... Hamlet, Otelo, Macbeth...

Na sala de aula reservada para a monitoria de Literatura, eu tentava enfiar, a trancos e barrancos, um pouco sobre a obra de Shakespeare na cabeça de Poncho. Eu tentava. Assim como eu sabia que aquela mudança em nosso relacionamento não daria certo durante os momentos em que eu tivesse que encarnar a professora e ele o aluno.

Ele me desconcentrava. E eu tinha certeza que era deliberadamente. Enquanto eu falava, ele sorria, provocava. E aquilo era mais gritante naquele dia por estarmos só os dois na classe. Os outros dois alunos que haviam se inscrito para o projeto tinham fugido da aula naquela véspera de feriado. Poncho, ao contrário, não faltava nunca. Embora a Literatura não fosse exatamente no que ele mais prestava a atenção.

Alfonso: a gente podia sair daqui.

Anahí: não, a gente não podia - franzi o cenho. - As provas já começam semana que vem, você precisa estudar. E eu também não posso sair antes de acabar o horário da monitoria.

Ele olhou o relógio na parede.

Alfonso: mas só faltam cinco minutos - replicou pidão, levantando e seguindo até onde eu estava, recostada na mesa. - Ninguém vai se importar.

Anahí: não, Poncho - neguei, firme, e estendi as mãos em frente ao corpo quando ele se aproximou. - E nem adianta chegar mais perto. Não vai rolar.

Alfonso: nem se eu pedir com jeitinho? - ele sorriu e, abrindo um parêntese, ainda me era inconcebível que aquele sorriso fosse mesmo direcionado a mim. Fecha parêntese. - Por favor...

Anahí: não. - Ele colocou as mãos em minha cintura. - Para, alguém pode ver a gente assim...

Alfonso: e qual é o problema? - perguntou, estalando um beijo em meus lábios. Involuntariamente, senti minhas bochechas esquentarem. - Eu não me importo.

Fechei os olhos com um suspiro. Senti que ele tirava meu óculos e os reabri. Odiava estar apaixonada e todas as consequências que aquilo trazia consigo.

Anahí: o problema é que eu tenho uma bolsa para manter - franzi a testa, incomodada com a súbita falta de visão. - Devolve meu óculos.

Alfonso: só se você for comigo.

Anahí: Poncho, não dá! - revidei, enfática. - Eu não posso sair daqui até...

Fui interrompida pelo som do sinal anunciando o fim da aula.

Alfonso: o sinal tocar? Pronto - sorriu, dando outro beijo rápido em meus lábios -, problema resolvido. - Recolocou meu óculos. - Vamos embora.

Respirei fundo e o olhei correr até a mesa e guardar os livros na mochila. Quando voltou, eu ainda me encontrava no mesmo lugar, os braços cruzados.

Alfonso: caramba, eu já disse que você é bem chata?

Anahí: algumas vezes - dei de ombros. - Aonde você quer ir?

O Pecado Mora Ao LadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora