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Saí do meu apartamento como se tivesse tirado um peso das costas. Ainda tinha os músculos tensos, um tanto irritado por todas as ofensas e subterfúgios de Melissa, mas ao mesmo tempo sentia-me aliviado. Era como se ali se encerrasse uma história. Uma história que sequer devia ter começado, muito menos tomado toda aquela proporção. Melissa não interferiria mais em minha vida, independente do que aquilo pudesse vir a causar em minha família.

Segui para o escritório e concentrei-me no trabalho pelo resto do dia. Ultimamente eu vinha sendo um tanto relapso com os negócios, deixando-os em segundo plano e focando-me completamente em Anahí e naquela gravidez. Gravidez que, por suposto, me tinha um tanto preocupado desde a última noite. Vez ou outra eu olhava o celular, procurando por alguma chamada perdida de Annie, sinal de que ela pudesse ter se sentido mal outra vez. Entretanto, ela não ligou. Tentando manter-me paciente, eu também não o fiz. Até as três da tarde, quando qualquer vestígio de paciência já havia me deixado.

Ela atendeu no quarto toque. Sim, eu os contei, tamborilando os dedos sobre a mesa.

Anahí: oi, amor. Eu estou bem!

Sorri, um pouco pela forma carinhosa com que ela falara, um pouco pela rapidez em informar o que, provavelmente, sabia que eu queria saber.

Alfonso: muito bem. Mas quem disse que era sobre isso que eu queria falar?

Ela riu.

Anahí: Poncho, era sobre isso que você queria falar. Eu já estava estranhando você não ter ligado ainda.

Alfonso: sou tão previsível assim?

Anahí: quando se trata de Noah? - Eu podia vê-la sorrindo dali, fácil. - Um monte.

Alfonso: e quando se trata de você?

Anahí: bem - respondeu, pensativa. - Acho que um pouco menos.

Alfonso: e se eu dissesse que estou ligando porque fiquei com saudades de ouvir sua voz?

Anahí: eu diria que você deixou de ser previsível e se tornou um tanto brega.

Eu ri, recostando-me na cadeira e apoiando os pés sobre o tampão da mesa.

Alfonso: brega, anjo?

Anahí: desculpa - lamentou-se, fingida. - Você sabe que eu sou sincera.

Alfonso: e muito pouco romântica.

Anahí: há uma grande diferença entre ser romântica e ser cafona, Poncho.

Alfonso: tudo bem, eu o sou por nós dois. - Ela riu e eu prossegui: - Está mesmo tudo bem, não é?

Anahí: está. Eu até liguei para a médica.

Alfonso: mesmo? - perguntei, retomando a seriedade. - E o que ela disse?

Anahí: que é normal o desconforto aumentar nesse final de gravidez. Explicou com uns termos técnicos que eu não me lembro que meu útero distendido tende a comprimir os demais órgãos, causando esse incômodo mais forte. Disse que pode ter sido intestinal - fez uma pausa e completou, parecendo um tanto envergonhada: - E, bem, eu fui mesmo ao banheiro depois daquilo.

Alfonso: então está tudo bem - comentei, contendo a risadinha por sua súbita timidez.

Anahí: sim. Ela disse que eu não tenho que me preocupar, a não ser que ocorra algum sangramento ou que a dor seja mesmo insuportável e persistente.

O Pecado Mora Ao LadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora