28

3.3K 198 16
                                    


Ela não se moveu, mas também não correspondeu. Não no primeiro momento. Tentei persuadi-la com a língua, forçando um espaço que ela não parecia disposta a ceder. Sentia seu corpo mole em meus braços e entreabri os olhos. Apesar de qualquer resistência, os dela estavam fechados. Voltei a fechar os meus e entrelacei os dedos em seus cabelos, agarrando-os e trazendo-a para mais junto. Senti o tremor que percorreu seu corpo no exato segundo em que ela se rendeu. Movendo os braços, apertou as mãos em minha cintura e entreabriu os lábios, dando passagem à minha língua.

Qualquer pensamento sobre o que acontecia fugiu completamente enquanto eu a beijava. Sentir que ela correspondia com a mesma intensidade, fez com que eu buscasse um contato ainda maior. Nossos corpos estavam colados e o meu prendia o dela contra a parede, sem qualquer delicadeza. Ao contrário disso, minha mão descia por seu corpo, exigente, enquanto as dela introduziam-se por meu paletó e me apertavam sobre a camisa. Não havia raiva, mágoa, ressentimento ou qualquer outro sentimento daquele tipo que pudesse impedir o que acontecia entre nós. Havia desejo. Eu a desejava como louco, de uma forma tão contundente que fazia com que qualquer questionamento ou indecisão sobre o certo daquela atitude, fosse relegado a um canto obscuro da mente.

Não sei quanto tempo fiquei ali, beijando-a, mas só parei quando as mãos, que antes me traziam para perto, me repudiaram, e ela se afastou. Abri os olhos e prendi os dela. Ficamos em silêncio, naquela troca significativa de olhar, a respiração ofegante, por tanto tempo que eu não pude contar. Eu não conseguia decifrá-la, e aquilo me agoniava. Num passado distante eu saberia o que ela pensava somente de olhar para seus olhos expressivos. Hoje eu não via nada. Nem sinal de um mínimo entendimento que fosse. Nada.

Anahí: isso não significou nada - quebrou o silêncio, desviando o olhar do meu e ajeitando os cabelos. - Nada significou, na verdade. Está aí sua resposta.

Dei um passo para trás, largando sua cintura. Por um segundo, não soube o que dizer e fiquei perdido, observando o rosto firme e inexpressivo, o olhar fugitivo, à minha frente. No instante seguinte, quando as palavras acomodaram-se finalmente em minha mente e o real entendimento do que ela havia dito me atingiu em cheio, uma onda de fúria voltou a tomar conta de mim. Mais uma vez, eu havia baixado a guarda e deixado o orgulho de lado para tentar buscar um entendimento - independentemente do quão vulnerável aquilo pudesse me deixar -, e ela havia, simplesmente, pisado em minhas tentativas. Ótimo, aquela seria a última vez.

Alfonso: certo - disse com uma passividade que eu estava longe de sentir, olhando-a firmemente nos olhos. - Era somente isso que eu precisava saber. Não importa mais. Nada importa - dei de ombros. - Estou te deixando em paz.

Ela não disse nada, e eu também não esperei muito tempo para que o fizesse. Com um último olhar, dei-lhe as costas e segui para o meu apartamento. Estava terminado.

Daquela vez era definitivo.

Estou desistindo de você, abrindo mão, renunciando, deixando pra lá, tentando esquecer. (Caio F. Abreu)

Por Anahi

Eu tinha acabado de entrar no banho quando a campainha tocou. Suprimi um palavrão e puxei a toalha pendurada ao lado do boxe, me enxugando. Aquela semana tinha se convertido num verdadeiro caos e aquilo era definitivamente o que faltava para melhorar meu dia. Bufei.

Passando pelo quarto, larguei a toalha sobre a cama e vesti um hobby, à caminho da porta. Ainda o amarrava, distraída com o laço, quando me pus na ponta dos pés para olhar pelo olho mágico.

E aí (quase) me assustei.

Alfonso estava ali, parado, a expressão impaciente e fechada, os braços cruzados, trajando um paletó preto parecido com o que usava na última vez em que nos vimos. Mas o que diabos... respirei fundo duas vezes. E mais uma. Em seguida, abri a porta.

O Pecado Mora Ao LadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora