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Cerca de dois meses haviam se passado desde o dia em que ela assumira nosso relacionamento para o público, com aquele comunicado na Rádio. Dois meses em que vivíamos praticamente juntos. Quando eu não estava na Companhia ou ela na Rádio, na maioria das vezes estávamos juntos. Nosso relacionamento vinha evoluindo de uma forma boa, bem saudável. O passado definitivamente tinha ficado para trás. Não que o mencionássemos sempre, mas agora, quando o assunto entrava em pauta, não havia aquela sensação de mal-estar que existira por muito tempo entre nós.

Quando eu parava para pensar em tudo que nos acontecera no último ano, ainda me batia aquela sensação de incredulidade - daquelas bem bobas mesmo, sabe? - por me ver onde estava agora e, principalmente, com quem estava. Eu havia passado dez anos da vida me recriminando pelos erros do passado e me perguntando o que teria acontecido com Anahí, se ela estaria bem, se teria se refeito depois de tudo o que nos havia acontecido em Chicago. E aí, de uma hora para outra, eu a tinha de novo comigo, nossos problemas resolvidos, e com um filho prestes a vir ao mundo. Filho, aliás, que crescia a cada dia em sua barriga. Barriga esta que, se antes ela julgava enorme, agora seu novo adjetivo preferido para descrevê-la era monstruosa.

Bobagem. Eu a descreveria como linda.

Anahí: você tem mau gosto.

Alfonso: e você não para de comer - brinquei quando a vi abrir outro KitKat e levar a boca. - Depois reclama da barriga enorme.

Imediatamente ela desfez o movimento de levar o chocolate à boca e parou de andar, me olhando ressentida.

Anahí: você assumiu!

Vinquei a testa, surpreso.

Alfonso: assumi o quê?

Anahí: que minha barriga está enorme! Eu sabia, eu sempre soube e você sempre tentou negar pra não me deixar pior! Mentiroso!

Alfonso: por Deus, Anahí - ri. - Você até me assustou. Eu não disse que ela está enorme, disse que você reclama por ela estar enorme, mas também não para de comer.

Ela suspirou, dramática.

Anahí: é mais forte que eu - e levou a mão à barriga. - Você acha que é fácil sentir fome por dois?

Alfonso: não, não acho - gesticulei com a cabeça, sorrindo. - E eu não me importo que você coma - juntei a mão à dela, em sua barriga. - Você continua linda.

Anahí: sim, uma gorda linda - resmungou, me fazendo rir. - Muito linda.

Alfonso: não seja boba - corri a mão até suas costas e a incentivei a andar. Estávamos naquele supermercado há quase duas horas e ela ainda não tinha decidido que tudo aquilo que tínhamos no carrinho já era suficiente para suprir a população de um país em guerra por um mês inteiro. - Vamos pegar suas verduras.

Ela fez uma careta, desgostosa.

Anahí: precisa mesmo disso?

Alfonso: precisa - assenti, sem deixar margens para discussão. Anahí odiava legumes e verduras. - O que mais você quer?

Anahí: acho que nada - respondeu, pensativa. - E você, já pegou tudo?

Olhei o carrinho de compras repleto. Metade, compras minhas, metade, compras dela.

Alfonso: há cerca de uma hora.

Ela mostrou a língua, infantil. Eu sorri.

Anahí: ei, isso é meu! - brigou quando viu um pacote de Doritos que pegara do meu lado do carrinho. - Seu bandido!

O Pecado Mora Ao LadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora