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 Por Anahi




Anahí: se eu fosse você, não apareceria na minha frente nem tão cedo.

Após recitar alguns mantras, eu me joguei no sofá, agarrando o telefone. Liguei para a Rádio.

Dulce: uia, o que foi que eu fiz agora? – ela riu.

Anahí: aquele seu recadinho delicado na secretária eletrônica me deixou em maus lençóis.

Dulce: desculpa, eu não queria te acordar...

Anahí: não foi isso, idiota – interrompi, antes que ela continuasse com a piadinha que eu sabia que viria em seguida. – Alfonso estava aqui quando você resolveu ter surtos de menininha de doze anos perguntando pelo meu 'vizinho gostoso'.

Ela gargalhou.

Dulce: OPA! E eu achando que você não fosse atacar tão cedo assim.

Revirei os olhos.

Anahí: eu não estava atacando. Só não tinha mais a quem recorrer para ligar aquele maldito computador e ver os malditos e-mails que você tanto me azucrinou para olhar ainda hoje. Foi um caso de necessidade.

Dulce: aham, aham – debochou. – Um caso do extrema necessidade.

Anahí: Dulce.

Dulce: tudo bem, tudo bem. Depois você me conta os detalhes sórdidos – riu, encerrando a brincadeira. – E então, viu? O que achou?

Estiquei o corpo no sofá e olhei para o teto.

Anahí: não, ainda não tive tempo. Assim que olhar, te falo. E o Peg?

Dulce: deixei lá em casa, aos cuidados da Maga. Já decidiu o que fazer?

Anahí: não... mas eu estava pensando...

E aí contei a ela a idéia que havia tido para reaver meu cachorro sem ter de sair do prédio. Definitivamente, eu não me contentaria com menos que aquilo.


Por Alfonso


E mais um lindo dia de engarrafamento em Nova York. Seria cômico, se não fosse trágico. E seria mesmo mais estressante, se eu não houvesse arranjado um bom passatempo para aquelas horas tensas do meu dia. Ouvir/analisar/rechaçar os comentários ácidos de uma tal radialista havia ficado bem mais interessante após os últimos acontecimentos em meu prédio. Eu diria que boa parte do desprezo pelas palavras feministas havia sido substituído pela diversão de contrapor a imagem que eu tinha dela há dois dias à imagem verdadeira e atual. Uma mulher gostosa nunca deveria ser desprezada. Mesmo que só dissesse abobrinhas. Era pecado. É.

E, como eu já podia imaginar, aquela história do cachorro – ou da falta dele – não seria simplesmente esquecida. Eu só não esperava que ela chegasse a tanto. Não mesmo.

– Ligue para nós, ouvinte. Deixe sua opinião, mostre que não quer ser calado por convenções e mais convenções, que está cansado de ser podado por atitudes ditatoriais de quem julga ter mais poder que você. Apóie essa causa, junte-se a nós.

Ela era louca. Estava simplesmente instaurando uma rebelião contra todos aqueles que proibiam animais em seus edifícios. Baseada no que dizia ser um direito de todo cidadão – aquele de escolher o que bem entendesse para fazer parte de sua vida, contanto que pudesse arcar com os custos disso –, ela instigava a todos a participar de sua campanha. AA – Animais em Apartamento.

O Pecado Mora Ao LadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora