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Parecia que toda a cidade se apertava naquele ginásio poliesportivo. E não era exagero. Um sem fim de rostos passavam por mim, sorridentes, enquanto eu caminhava, me esgueirando pelos cantos, tentando chegar ao bar improvisado mais ao sul do ambiente. A música alta ressoava a plenos pulmões e algumas pessoas se arriscavam em alguns passos mais ousados, no centro da pista de dança. Maite já havia se perdido por ali, agarrada aos braços de Christian e ostentando seu indecente vestido da discórdia, combinado perfeitamente com a máscara vermelha e brilhosa, que era uma das exigências da festa. 'Dez anos. Esconda o rosto e mostre o coração. Alguém se lembrará de você?'. Aquelas frases, rabiscadas em letra elegante ao pé do convite, apareciam em letras garrafais bem na entrada, e seguranças asseguravam que ninguém entrasse com o rosto descoberto. Normas da casa. Ou do idealizador da festa, melhor dizendo. O caso é que a máscara preta que me apertava os olhos, na mesma proporção me tirava um pouquinho do bom humor e da expectativa de rever velhos amigos. Finalmente chegando ao bar, gritei ao garçom que trouxesse uma boa dose de uísque puro, sem gelo, e deixei o olhar correr ao redor, observando a movimentação. Muita coisa havia mudado desde que eu pisara ali pela última vez, no baile de formatura, dez anos atrás. O espaço parecia ter dobrado de tamanho e tudo exalava um ar mais moderno, acompanhando o passar do tempo. A decoração colorida, com luzes neon, divertia o ambiente. E toda aquela diversão parecia se refletir nas pessoas, que conversavam ou dançavam animadas.

- Ah, não acredito! Se não é o bom e velho Herrera de volta às origens. - Desviando o olhar para a voz alta bem ali ao meu lado, instantaneamente um sorriso de reconhecimento se desprendeu de meus lábios. Mesmo com a máscara, era impossível não reconhecer aquele olhar brincalhão, os cabelos levemente encaracolados e o rosto largo, ostentando um sorriso maroto.

Alfonso: se não é meu bom e velho fiel escudeiro, Uckermann! - Levantando do banquinho alto onde havia me sentado enquanto esperava a bebida, cumprimentei-o com um firme aperto de mão, seguido de um abraço saudoso. Não o via fazia quase quatro anos, tempo em que me mudei para Nova York e ele, para Boston, a fim de assumir um cargo importante numa empresa automobilística.

No fim, ambos havíamos crescido e nossas vidas tomado rumos completamente distintos, porém as recordações do passado nunca deixariam de existir.

Christopher: ta mais gostoso do que nunca, hein cara? - brincou, e eu o repeli do abraço, gargalhando. Corri os olhos por sua figura espremida num terno preto, reto, e dei um leve tapinha em seus ombros, displicente.

Alfonso: infelizmente, eu não posso dizer o mesmo, não é?

Cerca de trinta minutos depois, continuávamos sentados próximos ao bar, algumas boas doses de uísque, vodka e cerveja já consumidas, sem moderação. E quem se importava? Nenhum de nós dois, ao menos. Após descambar o assunto por diversos assuntos banais, como trabalho, família e a vida em outras cidades, chegamos num ponto altamente em comum. Mulheres.

Christopher: olha aquela morena, que espetáculo - girou os olhos, desejoso, enquanto observava a mulher em questão remexer todo o corpo, totalmente sensual. - Ôh eu com uma dessas.

Alfonso: e a Mika?

Christopher: terminamos há mais de dois anos, Poncho - respondeu como se eu houvesse dito um tremendo absurdo. Mika era um caso antigo, desde a época da faculdade. Por todas as idas e vindas que presenciei ao logo dos anos de amizade pós-colegial, sabia que não era tão absurdo assim perguntar por ela. Ou por eles. Porém, pelo visto agora parecia realmente passado.

Alfonso: sério? - apertei os olhos. - Pensei que, no fim, fosse dar em casamento.

Christopher: esses anos não te fizeram mesmo bem, bro - descansou uma mão em meu ombro, forjando uma expressão desolada. - Pensei que soubesse que a palavra casamento nunca seria empregada numa mesma frase em que o nome Christopher estivesse presente.

O Pecado Mora Ao LadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora