FUGITIVOS DO INFERNO 01 - Ciclo Da Era [COMPLETO]

XXXIII. NÃO PERCA O CONTROLE

Os olhos de Enzo brilhavam em puro êxtase de a ver ali. Ele queria falar alguma coisa, mas não conseguia. Sua boca estava aberta, mas nenhum som deixava seus lábios. Antes que pudesse segurar suas mãos, foi puxado pelo pescoço com força para um abraço. Eloísa o apertou forte, o mais intenso que podia. Suspirava e tremia agarrada e ele, que retribuiu o gesto e apertou os braços ao redor de sua cintura. Enzo estava com os olhos arregalados, surpresos, mas eles logo se fecharam ao ceder ao toque dela. Ele sentia a troca de calor entre os dois enquanto seus dedos formigavam.

Ele olhou para trás em direção a Lupita, mas ela não estava mais no local. Pensou em como Eloísa se sentiria na presença do anjo novamente, mas a verdade é que depois de uma semana com o ser ao seu lado, seus neurônios já não fritavam tanto e ele aprendeu a gostar dela.

- Pensei que não fosse mais sair - sussurrou ela, obrigando-o a olhá-la mais uma vez. Lorenzo soltou o ar que parecia preso por quinze dias e, finalmente, respirou sossegado.

- Nunca mais faz aquilo - pediu.

***

O céu poderia cair que nada tiraria a alegria de Lorenzo naquele dia. Mesmo que tenha sido estranho para ele que a todo minuto a garota o puxasse para abraçá-lo mais, como se apenas em seus braços se sentisse segura, pensou que se acostumaria com aquilo facilmente. Lupita estava sentada no motorista do carro branco de última geração. Estava chateada e com razão. Eloísa não a reconheceu assim que acordou e isso a deixou frustrada e ao mesmo tempo aliviada. Assim que eles pegaram a rodovia principal, o anjo encarou Eloísa pelo retrovisor e disse:

- Tem certeza de que está bem? - A garota estava com um tom de pele um pouco esverdeado demais e o homem concordava que não parecia muito bem, apesar de assentir. Lupita franziu a testa, não estava tão convencida. - Isso não deve trazer boas lembranças - lamentou. - Tinha pensado em não falar disso, mas não posso, então... Desculpa, certo? Não devia ter a deixado naquele carro sozinha - com um tom tristonho.

Enzo não precisava encará-la por mais de um segundo para notar que Eloísa não sabia do que Lupita falava. Franziu o cenho e virou a cabeça um pouco para o lado, confuso.

- Não se lembra do acidente?

Eloísa o encarou e balançou a cabeça em sinal positivo com velocidade, mas ele apertou os olhos, notando ainda mais que algo de errado acontecia com ela.

- Está mentindo - Declarou. Eloísa arregalou os olhos olhando-o. - Por que está mentindo? - Perguntou Enzo, em um tom de ataque que não usava com muita frequência, exceto quando algo o assustava. O carro freou bruscamente, e Lupita olhou o volante antes de encarar Lorenzo. - O que foi? - Perguntou à mulher de cabelos pretos e ela não parecia conseguir falar. - Lupita? - Estava nervoso, não queria aceitar os pensamentos que sua mente insistia em bombardeá-lo.- Eloísa, o que está fazendo? - sussurrou encarando a loira.

- Não estou fazendo nada - com os olhos castanhos assustados. Os quatro pneus fizeram um estrondo ao estourarem como bexigas, o carro abaixou. Enzo segurou a mão da garota. - Não sou eu que estou fazendo isso - jurou, olhando-o nos olhos. Lupita gritou, levantou as duas mãos até a cabeça e puxou os próprios cabelos enquanto gritava tão alto que doía nos ouvidos dele. - Não estou fazendo nada - repetiu em um grito.

Mas no mesmo instante se lançou para trás e bateu com força na lateral interna do carro, como se uma corda invisível a tivesse puxado. Pôs suas mãos entre as clavículas e encarou a si mesma. Enzo estava assustado, havia algo de muito errado com ela. Eloísa o com seus olhos grandes e castanhos, mas eles foram se amarelando como mágica. Em poucos segundos, todo o globo ocular da garota começou a deixar um líquido amarelo escorrer.

- Enzo... - chamo-o, quase sem conseguir. - Tira ela de dentro de mim - pediu.

Ele a encarava confuso, com a boca aberta e sem saber o que dizer. Lupita parou de gritar, mas sua cara vermelha expressava sua dor e ela parecia prestes a explodir. Eloísa virou a cabeça em direção ao anjo.

- Saia da minha cabeça! - Gritou e manteve o grito por alguns segundos. Os vidros do carro se estouraram como pó soprado da mão. Enzo e Lupita puseram as mãos sobre os ouvidos. O eco era absurdo. Quando ela se silenciou, o homem voou para cima da garota, pôs as mãos sobre a cabeça dela.

- O que está fazendo? - Gritou enquanto tentava entender. Os olhos então se encontraram como das outras vezes, mas não era igual. Ele teve certeza. - Não é ela - encarou o anjo.

Lupita entendeu o recado. O anjo retirou o pequeno diamante do porta luvas do carro e antes que Enzo pudesse esperar, desceu. Abrindo a porta de trás e puxando Eloísa pelos cabelos de dentro do veículo. Lorenzo, ainda em cima da garota, foi arrastado junto para o asfalto.

O pequeno diamante se mostrou uma lança de quase um metro de cumprimento em poucos segundos. Os olhos de Eloísa se mantiveram amarelos por mais alguns segundos até que ela os fechasse. Lorenzo não tinha reação. Na verdade, sua face estava tensa e seus lábios tremiam.

- Não sou um demônio - rebateu, abrindo seus olhos novamente, que agora eram vermelhos como sangue. Encarou Lupita, mas com nítido medo do que o anjo tinha na mão. Enzo a ergueu e fechou a porta do carro com o impacto do corpo.

- O que é você? - perguntou e esmurrou a lataria ao lado dela, que se amaçou com o impacto. Ela... Sorriu. Seus olhos voltaram à coloração castanha, as sobrancelhas relaxaram e Eloísa retirou as mãos de cima das dele.

- Pensei que fossemos uma dupla, Enzo - disse com dificuldade, pois ele ainda pressionava seu pescoço com a mão esquerda. - Para sempre.

Ele a soltou quase no mesmo instante. O fugitivo cambaleou para trás assustado. Seu coração estava tão acelerado que tinha certeza de que suas pernas iriam ceder. O corpo se rebelava contra sua mente, tudo era o mais genuíno colapso. Encarou Lupita, que esperava apenas pela ordem para enfiar a lança de diamante no ser que ocupava o corpo de Eloísa, mas Lorenzo mal conseguia respirar. Continuou indo para trás, tentando fugir. Não podia fazer aquilo.

Aquela era Teodora e ele nunca seria capaz de machucá-la.