Voltei a minha posição, agachada a frente do grupo, e esperei por mais um tempo até que ouvi o som de uma forte explosão que chegou a balançar a estrutura do prédio. Meu coração disparou a medida que meus ouvidos zuniam e eu não tive duvidas que aquela era a hora de agir.

Olhei pra trás e gritei para que todos me seguissem, abri a porta a nossa frente, saí à rua e vi o caos. Na diagonal a minha esquerda bem mais a frente onde deveria estar o portão principal da cidade havia apenas chamas e destroços, parte do muro havia cedido e uma das guaritas ao lado do portão sucumbiu à explosão.

Ainda havia uma penumbra na cidade mas o sol começava a surgir no horizonte e tínhamos que ser rápidos se não quiséssemos ser notados. Corri abaixada pela lateral do prédio e meu grupo me seguiu em fila indiana da mesma forma que eu estava.

Mantive a arma em punho a todo o momento e atenta a qualquer hora que precisasse usá-la. Até então seguíamos sem sermos percebidos até que atirei em um homem que vinha ao nosso encontro em uma moto. Eu não pude reconhecê-lo mas se estava em uma moto certamente era alguém do grupo de buscas e mesmo que ele pudesse estar vindo a nós apenas para pedir que nos protegêssemos eu não poderia arriscar nossas vidas.

Os disparos não cessavam e eu custava a acreditar que isso tudo fosse apenas por causa de um homem. Em meio ao tiroteio ouvi alguém gritar?

- ALI!

E não perdi tempo em mandar que meu grupo corresse por um beco a nossa direita e seguisse pela rua de trás enquanto eu me virava para atirar em quem quer que fosse.

Olhei em direção ao portão em chamas e procurei quem teria dito aquilo mas não vi nada então segui pelo mesmo beco que meu grupo os encontrando um pouco mais a frente instantes depois.

Seguimos abaixados correndo pelos cantos e aos poucos pude ver outros grupos de pessoas fazendo o mesmo, avançávamos com cuidado enquanto os disparos continuavam incessantemente e então mais uma explosão aconteceu, dessa vez um pouco mais fraca.

Continuamos o nosso caminho e eu vi mais um homem das equipes de busca ser morto, mas dessa vez não por mim e sim por alguém do grupo que caminhava a nossa direita do outro lado da rua. Fomos em frente e quando menos percebi o grupo que seguia a minha direita já tinha se unido ao meu e estávamos perto de alcançar os fundos do refeitório.

Ao ver que tinha alcançado meu objetivo de levar todos a salvo eu imediatamente me voltei na outra direção e dei de cara com Rayssa.

- Até que enfim te achei. – Ela falou.

- E então, vamos?

- Vamos!

Segui de volta com Rayssa pelo caminho que fiz e meu objetivo era chegar até o prédio do Comandante e torcer para encontrá-lo lá, mas eu não contava que as coisas estariam tão fora de controle assim e pra piorar o sol a essa altura já tinha nascido e nossa vantagem da cobertura noturna tinha acabado.

Éramos apenas eu e ela se esgueirando pelas esquinas daquele caos enquanto a cidade ruía ao nosso redor e não demorou muito pra que o inevitável ocorresse. Ao me seguir saindo de um beco e correndo para trás de um carro onde eu estava Rayssa foi baleada.

Ela caiu no chão um pouco a minha frente e eu a puxei, pus a mão sobre o capô do carro e disparei duas vezes sem nem saber contra quem e quando me voltei a Rayssa para analisar seu ferimento vi alguém surgir por trás do carro.

Era o homem que possivelmente tinha alvejado Rayssa e ela já estava com a arma apontada a nós, eu não seria rápida o suficiente para atingi-lo e quando já tinha dado como certo nossa morte eu o vi cair de joelhos no chão com uma flecha atravessada em sua cabeça.

Pelo ângulo que a flecha estava ela só podia ter sido disparada por alguém que estivesse do outro lado da rua, na direção em que eu tinha disparado. E assim como fiz da primeira vez eu pus a mão sobre o capô mas dessa vez sem disparar, apenas me apoiei para me erguer e observar sobre o carro quem teria nos salvado da morte iminente e não pude acreditar no que vi.

Entre disparos, grunhidos, fumaça e gritos de dor de Rayssa eu mal podia me concentrar em o que quer que fosse mas o que vi foi inconfundível, quem eu vi era inconfundível, não pode ser, o homem que estava ali em meio ao caos, o homem que havia me salvado quando tudo parecia perdido. O homem era...

- Socorro! – Rayssa disse com a voz arrastada.

Ela me puxou pra baixo desviando minha atenção e por um segundo eu o perdi de vista, queria ajudar Rayssa mas precisava olhar mais uma vez e assim que olhei por cima do carro o vi de costas caminhando na direção oposta a mim.

"Vá!" foi a única e última coisa que eu o ouvi dizer antes que sumisse em meio ao caos tão inesperadamente quanto surgiu. Meu coração quis segui-lo mas eu não podia largar Rayssa ali, não naquela situação, não daquele jeito.

A levantei e a apoiei sobre meu ombro e seguimos na direção do refeitório novamente, mas eu irei voltar pra buscá-lo, pode contar com isso.

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now