XXVI - Será mesmo que um dia tudo melhora?

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Depois de 15 dias em coma, precisei ficar mais 2 naquele quarto de hospital em observação, até finalmente ter alta. Era uma sexta-feira gelada. Saí do hospital e fui direto para a delegacia, onde deveria depor os fatos do que aconteceu, para que consigam pegar o "sujeito" que tentou me matar.

Não iria falar que fora Guilherme, só iria causar dores de cabeça e confusão e não sei como Matt iria reagir. Então disse o que havia acontecido e disse que a pessoa estava de touca e capacete, não dava para reconhecer e logo depois fiquei fraco e cai ao chão. O oficial de justiça me pareceu acreditar que não sabia quem era.

Finalmente estava em casa, no meu quarto. Peguei uma muda de roupa e fui para o chuveiro, tirar aquele cheiro de hospital que estava impregnado em minha pele. Liguei a agua quente e deixe que meus pensamentos fluíssem. Devo denunciar Guilherme e aguentar as consequências ou devo omitir e correr mais riscos com ele solto?

- Alô – digo atendendo o meu celular que estava tocando me tirando de meus devaneios.

- Oi Érick, é o Rafa, como está?

- Estou bem obrigado – Rafa tinha se tornado um irmão, me ligou todos os dias no hospital e sempre que podia ia me ver e Matt não se importava, o que eu estava achando estranho.

- Soube que saiu do hospital, posso ir aí a noite? – me perguntou com um cetro receio.

- Claro, pode sim.

- Tá ok então, a noite a gente se vê, até mais – e desligou o telefone.

Terminei de tomar meu banho e resolvo descer para comer algo. Meu pai e minha irmã, não haviam voltado do trabalho ainda. Meu irmão não estava em casa, não tinha ideia de onde podia estar e minha mãe estava na sala sentada no sofá, com um olhar para o nada.

- Tá tudo bem mãe?

- Está meu filho – disse ela me encarando com um olhar de quem acabará de chorar

- Mãe, você não me engana, o que está te perturbando?

- É seu irmão, ele está estranho, passa o dia fora de casa e só volta tarde da noite, não sei o que está acontecendo, não sei onde ele fica.

- Calma mãe, a noite eu converso com ele.

Fui para a cozinha, e me servi do almoço que ainda estava sobre o fogão. Como estava com saudade de comida de verdade. Almocei bem e subi para meu quarto. Já não bastava o que havia acontecido comigo, ficar 15 dias em coma, podendo acordar ou não, e deixando minha mãe preocupada, agora meu irmão deixando ela assim também.

Acabei adormecendo e acordando com um beijo em minha testa, depois em minha bochecha. Podia sentir seu cheiro, seu toque em meu cabelo. Abri os olhos devagar, e o vi ali, sentado em minha cama, com aquele sorriso que eu amava. Como ele pode ser tão lindo?

Ele me beijou, um beijo cheio de saudades e amor. Eu me sentia realizado, completo com ele, me sentia amado. Retribui seu beijo e fomos aumentando a intensidade do mesmo. Ele tirou minha camiseta e eu tirei a dele, ficamos nos olhando um tempo e retornamos nosso beijo. Até que batem na porta.

- Érick, seu amigo está aqui – informou minha mãe

- Pede para ele subir mãe, por favor.

Olhei para Matt e não pude segurar o riso. Ele estava com um sorrisinho sarcástico no rosto e com o olhar ele dizia estar bravo por ter nos interrompido. Fui até a porta e destranquei, dando de cara com Rafa na porta.

- Acho que interrompi - disse ele olhando de Matt para mim, foi ai que me toquei que esquecemos de por nossas camisetas.

- Relaxa, entra ai

Dei um abraço nele e fomos para minha cama, ele cumprimentou Matt e ficamos os 3 sentados na cama conversando, dando risada, as coisas entre eles realmente estavam muito bem e fiquei feliz com isso. Estava um clima bom, até que Matt na inocência, perguntou a Rafa:

- E ai Rafael, resolveu as coisas com Guilherme? Voltaram? – quando ouvi aquele nome sendo dito, senti um arrepio na espinha, mas disfarcei minha frustração.

- Não está sabendo? – perguntou Rafa sério – Ele se mudou para Nova Iorque.

- Sério? – perguntei um pouco aliviado

- Sim, procurei ele para conversar, no domingo antes de acontecer aquilo com você, ele havia me dito que não queria nada comigo e que iria para fora do país amanhã.

- Boa sorte para ele – completou Matt.

Eu não estava acreditando nisso. Como eles não podia achar estranho aquela história? Do nada ele sai do país no dia que eu fui baleado e ninguém suspeita de nada. Eu admito que tendo a desconfiar das coisas, ser um pouco neurótico, mas estava um pouco na cara que ele havia fugido de algo. Mas para minha sorte e segurança ele estava longe.

Rafa ficou mais um pouco e logo foi embora. Matt foi antes, iria tomar banho, jantar, depois voltaria para dormir comigo. Fui para o banheiro e tomei um outro banho, afinal iria passar a noite com meu namorado queria estar cheiroso. Depois desci para jantar com minha família, ou uma parte dela, já que meu irmão não estava.

Jantamos, ajudei minha mãe arrumar a cozinha, meu pai foi para sala assistir seu jornal e minha irmã se arrumar para sair com suas amigas, afinal era sexta noite. A porta da sala é aberta e minha mãe corre para ver quem entra e vê meu irmão.

Ele estava com os olhos vermelhos, olhos de quem havia chorado o dia todo. Estava com a aparência cansada e parecia fraco. Ele foi em direção ao sofá, um pouco cambaleando e sentou-se. Sua camiseta estava manchada de sangue.

- O que aconteceu com você Henrique – perguntei assustado

- Eu passei mal, aliás acho que chegou a hora da gente conversar sério – disse ele com a voz séria, olhando em todos ali.

- Pode falar Henrique – completou meu pai

- Cadê Michele? Quero falar com todos de uma vez – sem entender, subi as escadas e fui até o quarto de minha irmã e pedi para que ela se juntasse a nós na sala. E logo descemos novamente. Pronto família reunida, aguardando ele começar.

- No dia em que Érick foi para o hospital e a gente foi correndo vê-lo, a mãe ficou lá com ele e Michele voltou para o trabalho e eu disse que ia embora sozinho – começou ele de cabeça baixa – eu estava saindo do hospital e desmaiei. Alguns médicos me socorreram, mas eu não acordava, suspeitaram de alguma coisa e fizeram alguns exames em mim... – ele ficou quieto por uns instantes, como se quisesse ganhar força para falar

- O que aconteceu com você meu filho? O que deu seus exames– perguntou minha mãe começando a ficar preocupada.

- Me entregaram a poucos dias os resultados e descobriram que ...– respondeu Henrique com a voz embargando e seus olhos enchendo de lagrima – Eu ... estou ... com ... câncer.

V

Até a eternidade! (Romance Gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora