Liberdade e Amor

Capítulo 48

POV Sienna/Arielle

Mais um dia neste inferno. Queria tanto sair daqui, desta casa, desta cidade, deste país. Tenho 28 anos de vida, sendo que 24 deles têm sido um inferno. Sou a mais velha de 4 irmãos, e a única rapariga. Os primeiros 8 anos de vida foram felizes, e tenho boas memórias, apesar do meu pai não ser alguém de afectos, não me tratava mal. Até que algo aconteceu, e tudo mudou.

O meu pai ignorava-me, a minha mãe que até aí nos tratava aos três da mesma forma, começou a ignorar-me. Já não havia histórias no final do dia, não havia compras só para as meninas, não havia um mimo, um beijo. Era como se para ela eu tivesse morrido. Passei a ter uma babá, que tratava de mim, que comprava o que o eu precisava, que me deixava na escola, me levava ao ballet. Se eu precisava de alguma coisa, fosse roupas, sapatos, ou algo para a escola, era a ela que eu pedia.

Eu tinha uma vida solitária. Não podia mais brincar com os meus irmãos, inclusive mudaram-me de colégio para não ser reconhecida como filha dos Hermsworth. No fundo, tratavam-me como se eu fosse apenas uma bastarda, ou pior, como se eu não fosse ninguém. Á medida que fui crescendo, o isolamento começou a ser maior. Deixei de poder jantar com eles, eu jantava no meu quarto ou na cozinha com a minha babá. Eu chorava todas as noites. Eu não percebia por que é que os meus pais me tratavam assim.

Até que, aos 10 anos eu percebi a razão. Eu era uma bastarda. Era a filha de uma empregada, que tinha engravidado do meu pai, e que me deu em troca de dinheiro. A minha "mãe" não conseguia engravidar, e por isso aceitou-me, era a oportunidade dela de ser "Mãe". E foi, ela foi uma boa mãe, até ao dia que ambos simplesmente deixaram de me querer. Nessa altura o Luke e o Chris já tinham nascido, ela já era "Mãe" de verdade. Já não precisava de fingir que era minha mãe...pelo menos dentro da "nossa" casa, dentro das quatro paredes onde morávamos.

- Sisi. Posso entrar?- Liam, o meu irmão mais novo. O único que me amava, e por quem eu tinha morreria se fosse preciso.

- Entra Li.- Vejo-o entrar, e sem hesitar corre para mim. Percebo os seus olhos vermelhos, ele esteve a chorar de novo.- Ei! Pequeno Príncipe o que se passou?

- Sabes que só tu me chamas assim. Só nunca percebi porquê?

- Porque tu foste o meu pequeno príncipe. Quando tu nasceste, eu estava a ler a história do "Meu Pequeno Príncipe", e sentia-me meio como a Rosa da história, amada, cuidada até que esse amor a abandonou, a deixando sozinha. Aí tu chegaste, e foi como se o sentimento do amor e do cuidado tivesse retornado. Tu foste o meu Príncipe, tu me cativaste.

- Sabes que eu sinto o mesmo por ti, certo? Eu amo-te muito Sisi.

- Eu sei. E eu amo-te a ti. O que é que se passou? Foi o pai de novo? Aliás, tu não devias estar no colégio?

- O pai não está em casa, ele está em Belfast com o Tio Jim...

- Em Belfast?

- Sim. Eu não sei o que aconteceu. Só sei que me foi buscar ao Colégio, colocou-me no avião sem me dizer nada.

- Mas e o colégio? Eles não podem simplesmente tirar-te do colégio assim.

- A mãe disse-me que eu ia para um colégio aqui em Dublin. Que o pai me queria afastar de certas pessoas.

- Como assim?

- Eu não percebi. O pior é que vindo para Dublin, vou ficar longe da Rita.

- Mas ela não vinha para Dublin, então nesse caso vão poder ficar juntos.

- Ela já não vem Sisi. O pai dela está internato, ele...está mal. Eu disse à mãe que não queria vir para cá...

- Deixa-me adivinhar, ela nem te ouviu...