Indiscutivel

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Carolina

Depois de um dia inteiro dedicado a conversar com professores solícitos, alguns que até mesmo me desprezaram por ser bolsista, agora, dispostos a esclarecer os detalhes necessários para completar cada carga horária.

A coordenadora do curso separou o horário de almoço exclusivamente para repassar o material necessário a ser comprado, se prontificando imediatamente em contatar os fornecedores.

Agora, no cômodo que antes estava vazio, tenho uma pequena clínica montada. Com direito a mesa de vidro, notebook de última geração, um armário com equipamentos de atendimento básico e uma maca hospitalar.

Passo as mãos no rosto ainda desacreditada, mas, ao mesmo tempo, ciente, nada disso é de graça. E em quase três dias ao lado de Nicklaus continuar acreditando na bondade chega a ser ingênuo.

Descobri que Yves criou tanto ele quanto Dimitri, o irmão dele, apesar de ser uma pessoa amável e bondosa, a senhora de cabelos grisalhos deixou-me ciente de que não existe saída, em seu olhar o amor pelos dois se sobrepõe à qualquer maldade que devem fazer.

"Nada como um bom sono para gerar um bom dia de trabalho"

Pulo assustada com a voz grave tão próxima, nem consigo terminar de virar o corpo dando de cara com o peitoral coberto por um terno.

Ao erguer o rosto encontro com os olhos mais esverdeados do que castanhos, o sorriso erguido no canto dos lábios é devastador de tão belo. Sinto o coração pular não só pelo susto, mas pelas sensações causadas por Nicklaus. O calor subindo pelo pescoço e cobrindo minhas bochechas com as lembranças de como fui colocada para dormir. Abaixo o rosto querendo esconder a vergonha.

" Gostou da surpresa?" — Os dedos calejados erguem meu queixo, a ponta do polegar passando pelo machucado já cicatrizado.

"De você dar um jeito para não poder sair desse lugar?" — Questiono

Seu sorriso se alarga, fico paralisada enquanto desce o rosto tão próximo ao meu, encaro os lábios cheios.

"O que posso fazer? Se não quero que corra riscos ao sair da faculdade"

Deixo-me enganar mais pela proximidade do que pelas palavras sacanas.

"Yves me ajudou"

Ele se afasta, sem retirar a mão da minha bochecha, até colocar uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.

"Vem, quero que jante ao meu lado."

Pisco os olhos atordoada com o pedido tranquilo, acenando em concordância. Sou guiada pelos corredores da mansão até a sala de jantar. A mesa de madeira enorme preenche a maioria do lugar, uma iluminação amarelada que deixa mais aconchegante.

Nicklaus leva-me até uma cadeira do lado direito da ponta, puxando e indicando para sentar. Apoio as mãos na mesa posta, os talheres refinados, dois pratos e duas taças já prontas. Um jovem entra trajando uma roupa de garçom, serve um vinho a Nicklaus que movimenta a taça de uma forma tão suave contrastando com a maldade em seu olhar. Após um aceno, o vinho é servido e a garrafa fica entre nós na mesa.

Encontro os olhos dilatados analisando os meus ferimentos, desvio o olhar resolvendo provar do vinho.

" Na próxima vez que matar um homem por você lhe darei o seu coração. "

Engasgo com o vinho queimando a garganta com a declaração repentina, o mais estranho é que gostaria de sentir medo, mas a realidade m diante da crueldade de suas palavras e da malícia expressa em seu olhar, tenho a certeza de que ele cumprirá a promessa e com isso sinto-me segura ao seu lado.

"Obrigada" — Agradeço, não tive ninguém para me proteger e mesmo sendo a seu modo é isso que sua promessa deixa claro, dentro da sua casa e dentro das suas regras serei protegida

Parando o movimento de levar a taça aos lábios, Nicklaus me encara como se de repente tivesse criado duas cabeças.

" Como disse?" — Ergue a sobrancelha desconfiado

"Obrigada." — Repito usando o guardanapo para esconder o sorriso.

Não deveria sorrir por ele ameaçar matar alguém por mim, deveria?

Ele estreita o olhar esperando por algo a mais, algo do qual percebo infelizmente não ter. Quanto tempo se leva para ser corrompido pela maldade?

Yves interrompe qualquer que seja os questionamentos dele, ao entrar junto de dois rapazes com bandejas servindo o jantar. Suspiro com gosto ao provar do filé com risoto e o vinho, o silêncio pela primeira vez parece ser tão reconfortante. Sinto o peso do olhar questionador, mas ignoro, quando não suporto mais solto os talheres e ergo o rosto, noto o prato dele intocado com o sorriso malino balançando o vinho na taça.

"Algum problema?" — Questiono.

"Nenhum".

Limpo os lábios com o guardanapo.

"Não está com fome?"

"Não é o que está no prato que quero comer."

Aperto os olhos até finalmente compreender o que está dizendo, sinto os lábios ressecados pela ansiedade. Ele estende a mão e tenho a sensação de que mais uma vez é a sua maneira de deixar-me escolher.

Afasto a cadeira e seguro na mão firme seguindo para o seu colo, as costas dos dedos acariciando minha bochecha e os lábios se acomodam em meu pescoço.

"Tenho algo para você." — Estremeço com a voz grave contra minha pele.

"O que seria?" — Questiono em um suspiro.

Nicklaus desce a ponta dos dedos pelo meu braço de maneira lenta como uma carícia indecente, aquecendo meu baixo ventre de modo tão imoral para algo que deveria ser tranquilo ou normal.

Segura minha mão esquerda escolhendo o anelar sinto o toque metálico e quando sua mão fica embaixo da minha deixando como apoio noto a elegante aliança de aro prateado com pequenas pedras verdes. Pisco os olhos atônita.

"Não posso aceitar isso." — Falo rápido demais.

"Claro que pode." — Retruca usando uma mão para apoiar minhas costas prendendo-me contra a mesa.

"Não posso Nicklaus, já não basta tudo o que me deu hoje, não quero ter mais dívidas com você."

Sua mão direita se ergue e apoia meu queixo, fazendo-me fixar o olhar apenas nele.

"Minha noiva e futura esposa pode aceitar todos os meus presentes sem se preocupar com dívidas."

"O quê?" — Nem mesmo reconheço a voz que grita, porém, a ponta de fúria nos olhos dilatados entregam que não gostou da minha reação.

"Você escutou bem Carolina, daqui a uma semana iremos nos casar." — Sua voz autoritária decreta de maneira indiscutível.


Dono do meu infernoWo Geschichten leben. Entdecke jetzt