Imaginei

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Carolina

O toque quente é um afago do qual aproximo mais meu rosto, porém, a dor no ventre faz com que acabe contraindo o corpo. As memórias da noite intensa voltam enchendo a mente de dúvidas.
Desde quando gosto de dor?
Desde quando sinto tanta atração por esse homem?
Abro os olhos com tantas dúvidas mas elas somem diante do olhar quente dele, as íris tão iluminadas pelo sol da manhã, deixando os raios castanhos misturados ao verde é como ver uma guerra.
Era isso que Picasso tentava retratar na obra de Guernica? A dor, a solidão e o conflito de uma cidade em chamas após um bombardeio dentro da guerra interna de sentimentos distintos.
Talvez... talvez esteja apenas sonhando mais um pouco e imaginando que talvez um homem inescrupuloso como Nicklaus sinta algo por mim.
"Como posso sair se o seu olhar parece implorar para ser fodida?" A voz grave falando essa obscenidade faz com que aperte as coxas.
Estremeço um pouco pela dor, ele abre um sorriso feroz mas vitorioso. Seus dedos voltam a se movimentar contra minha bochecha numa carícia lenta.
"Preciso ir Carolina." Por um momento posso jurar ter visto dúvidas em seu olhar.
"Então vá" Respondo querendo manter a firmeza de que não existe nenhum sentimento por ele.
Não posso arriscar entregar um pouco mais a esse homem, não quando já toma tanto das poucas migalhas que consegui unir para reconstruir o que sobrou do meu coração.
"Você é uma péssima mentirosa." Acusa.
Viro o rosto fugindo do olhar selvagem, mas os dedos fortes descem para o meu queixo forçando para que o olhe. Aproximando nossas festas e fazendo a nossa respiração se mesclar.
Meu peito parece dançar quando ele faz isso, é tão erótico e tão sentimental.
Será que nunca disseram a Nicklaus para não dar pedaços de pão aos famintos? Quanto mais é jogado ao chão mais sinto fome, dele.
Aperto seu pulso de maneira firme, magoada por ser deixada, furiosa por não receber uma explicação, triste por saber que apenas meu corpo lhe interessa, confusa por ele ainda estar aqui quando imaginei que seria usada e jogada de lado.
"Tem sorte que preciso sair meu anjo ou iria te foder mesmo dolorida apenas para lhe lembrar que não adianta mentir para o rei das mentiras."
O hálito mentolado pela primeira vez longe de qualquer traço alcoólico ou de cigarro é ainda mais viciante.
"Aonde vai?" Crio forças e questiono.
"Resolver problemas para manter o meu pequeno anjo a salvo em sua gaiola de ouro." Seus olhos brilham enquanto aproxima nossos lábios de leve.
Suspiro pronta para dar-lhe tudo quando ele rapidamente se afasta, erguendo o corpo da cama e fechando o segundo botão do terno cinza que molda cada pedaço do corpo enorme.
Seu olhar é quente mesmo distante, então, como no dia anterior Nicklaus se vira saindo do cômodo sem mais nenhuma palavra. Jogo as costas de volta na cama olhando para o teto.
Como alguém pode querer a companhia de um demônio?
Depois de alguns momentos sem conseguir a resposta para essa pergunta resolvo sair da cama, estranho o fato de que estou em um quarto diferente. Ao largar o lençol que cobria meus seios as lágrimas rapidamente se formam, as manchas de sangue espalhadas pelo meu corpo se misturando aos hematomas de dedos.
Inspiro profundamente completamente louca por ficar excitada com a lembrança dele segurando cada parte da minha carne e tomando para si pedaços meus que nem ao menos sonhei ter.
Balanço a cabeça precisando fugir disso, fugir de mim mesma, tomo um banho relaxante lavando os cabelos e quando saio encontro um vestido leve e rodado em cima da cama.
Ao lado um comprimido que reconheço ser para dor e a bandeja com um copo se água. Sentindo ter recobrado um pouco da sanidade saio de dentro do quarto, caminhando pelo corredor longo em direção as escadas .
Porém uma mao firme me puxa antes que possa gritar tenho a boca coberta , minhas costas gritam com a dor contra a madeira. E quando a luz se acende demoro um pouco para reconhecer estar em um lavabo mas é os olhos azuis cruéis que reconheço.
"Você realmente acreditou que poderia fugir de mim, não é mesmo minha ratinha!"
Minha respiração pesa enquanto fico completamente louca, buscando empurrar ele para longe, quero sair desse lugar. Sinto o ar fugindo dos meus pulmões com tamanho desespero.
"Shiiiiiuuuuu, bem quietinha Carolina. - Fico paralisada, posso ver o quanto ele gosta disso aproximando o rosto e cheirando os fios dos meus cabelos. - Como teve coragem de entregar algo meu para Nicklaus?"
O ódio na voz rouca e a perna que enfia entre as minhas coxas são como um tormento. As lágrimas caem pelas minhas bochechas.
Imaginei que estava protegida, imaginei ter algum poder, imaginei que jamais o reencontraria e agora estou aqui... com medo e sozinha mais uma vez contra esse monstro.

Dono do meu infernoOnde histórias criam vida. Descubra agora