Infiel

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Nicklaus

Quais as probabilidades de um raio cair no mesmo lugar duas vezes?

Pelo que os noticiarios dizem, os cientistas continuam a todo momento elaborando novas teses sobre essa possibilidade.

Então, qual a possibilidade em precisar matar a própria esposa uma segunda vez?

Micaela não foi nada além de um maldito acordo, mas preciso admitir o quanto a descoberta da traição abalou a porcaria do meu ego junto a sensação de que algo maior estava indo pelo esgoto. Ninguém que vive ao redor da máfia mantém segredos escondidos por muito tempo sem realizar trocas, sem buscar ganhar algo, somos naturalmente ambiciosos e invejosos.

Seja quem for que tenha encoberto Micaela pode estar fazendo o mesmo agora com Carolina, o que ainda não entra na minha cabeça enquanto assisto novamente a gravação recuperada exibindo Razmunikin a levando e a trazendo de volta, o que os dois tem em comum?

Levo as pontas dos dedos aos lábios secos pela ansiedade e agitação, coisas que jamais imaginei sentir com a possibilidade da infidelidade de uma mulher. Na verdade tudo o que sinto nesse momento é vontade de acorrenta-la outra vez naquele quarto para ser o único a qual a alimenta, a serve, a devora e a vê como o belo anjo maldito que é.

Sinto como se estivesse completamente entorpecido por esses sentimentos causados por ela, as decisões que tomo embaçando os meus pensamentos mais criticos enquanto a venda parece finalmente cair dos olhos revelando um mundo além daquele que imaginei viver.

"Nicklaus, irmão." A mão pesada de Dimitri é o suficiente para recobrar os meus pensamentos.

Ergo a cabeça encontrando com seu olhar, um pouco piedoso porém contido como se esperasse algo além, algo que não demora muito a chegar quando a fúria incendeia cada veia do meu corpo, atiro o aparelho contra a parede erguendo a mão e mordendo o punho até sangrar, até sentir a carne se rasgando o suficiente para causar uma dor necessária ao colidir direto com a dor de imaginar Carolina sendo infiel.

"Acho que estou tendo algum tipo de infarto". Declaro.

Fazendo os botões da bulsa pularem enquanto rasgo o tecido em busca de ar.

"humrum, deve ser o infarcorno."

As palavras terminam de sair da boca maldita de Dimitri e meu punho ja encontra com o seu maxilar, fazendo com que caia no chão de costas enquanto busca defender o rosto dos meus ataques. Posso sentir o suor escorrendo pelas minhas costas, os sentimentos por ela desvanecendo o ódio. Acabo caindo de costas no chão olhando para o teto do nosso escritório projetado para ficar como um banker dentro da mansão. A falta de certeza sobre ter escutas e câmeras adulteradas sendo a minha segunda maior preocupação.

"Honestamente, ela não parece ser assim."

"Foda-se ela."

"Não é como se nós dois tivessemos algum exemplo ou algum sentimento maior até mesmo pela nossa mãe Nick." Ele murmura alto o suficiente soltando o ar com força. "Não fomos forjados como os outros, nós nascemos ruins, tão ruins que nossa própria mãe era capaz de ver em isso nos nossos olhos e morreu sabendo que nenhum dos seus pedidos seria atendido."

"Quando nós começamos a agir feito dois maricas e relembrando o desgosto da nossa mãe?"

"Desde que pela primeira vez queremos manter alguém ao nosso lado"

"Que..."

Ele bate no meu peito ficando sentado próximo o suficiente para que veja seu rosto.

"Antes que fale alguma merda,sei o quanto deseja manter algo tão bom como ela só para si e não estou dizendo que tenho interesse na garota".

"Então que merda que você quer dizer Dimitri?"

"Quero continuar sentindo inveja de vocês dois com esses sentimentos confusos, mas principalmente saber que meu irmão tem um motivo para voltar para casa".

Fecho os olhos suspirando com a cabeça pesada de tantas dúvidas e pensamentos contraditórios.

"Ela se parece com aquelas fogueiras que acendemos durante nossos treinamentos na floresta em meio ao inverno." Admito alto o suficiente para que escute.

"Então a baixinha aquece o seu coração?" O deboche e o sorriso dessa vez não me abalam.

Talvez pela constatação de que sim, ela aquece pedaços mortos dentro de mim, pedaços dos quais nem imaginava ter, a possibilidade de abrir mão dela é aterrorizante por que de alguma maneira Carolina tem aquecido cada um dos meus pensamentos e adocicado cada hora do dia na qual penso em chegar em casa.

"Vamos supor que ela não tem nada com Razmunikin".

Ele retira o celular do bolso da calça, acessa a galeria e o maldito video volta a rolar.

"Vamos analisar o video de maneira mais analitica irmão". Sugere dando play. "Olha só isso".

Novamente passo a dar maior atenção as sombras na janela, ao modo como as sombras parecem se perder deixando o homem.

"Qual o intuito de apagar o video e depois darem um jeito de libera-lo editado?". Questiona.

"Trabalho mau feito, alguma coisa saiu fora do contexto e o escolhido para pagar foi Razmunikin."

"Acredita que ele é o chefe?"

"Não, ele é uma peça que foi descartada." Ergo o corpo do chão passando as mãos nos fios já grandes. " Quem está no comando tem algum interesse em Carolina ou então não abriria mão de ter o sub chefe na lista de pagamento por um erro."

"Ela é uma órfã, conferi cada passo da vida dela quando você se interessou, os pais morreram em um acidente, ela foi para um orfanato e depois fugiu de lá."

"O que a fez fugir do orfanato Dimitri?" As palavras fogem dos meus lábios.

Nossos olhares se encontram e o questionamento solto que só pode ser respondido por uma única pessoa transpassa entre nós dois.

"Comece a cuidar de Razmunikin e o leve para a sala de jantar."

"O que pretende fazer?"

Abro um sorriso, ignorando a sua pergunta jogo o restante do tecido rasgado no chão saindo de dentro do local e conferindo mais uma vez cada parte que disfarça a entrada os cantos protegidos por paines que refletem a luz e criam imagens refletidas nas paredes. A biblioteca sempre é um lugar inesperado quando se vive em um mundo machista.

Ao chegar na sala de jantar encontro com minha menina pálida tocando pouco na comida, os ombros baixos e todas as preocupações voltam ao meu peito como uma faca sendo cravada, ela foi abusada.

Quando seu olhar se ergue encontrando o meu, os lábios ressecados se abrem um pouco enquanto tenta consertar a postura, pisca algumas vezes para ter a certeza de que não sou uma miragem. Solta o ar com força virando o rosto, caminho na direção dela em passos lentos, toco os fios e vejo o horror que expressa pelo contato, dou um passo para trás. Ela percebe e sabe que percebi.

"A infidelidade não é apenas o contato fisico com outra pessoa."

"E o que seria então?" Sua voz sai uma mistura entre choro e rouquidão.

"Esconder que foi abusada entra na minha lista." Declaro.

Ela ergue os olhos as mãos tremulas descendo para os joelhos.

"Nicklaus.." 

Dono do meu infernoWhere stories live. Discover now