Inegavel

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Carolina

Sou incapaz de continuar olhando para ele, preciso inspirar profundamente em busca de alguma maneira para recuperar as forças que sinto serem sugadas da minha alma enquanto as minhas mãos não param de tremer. Pisco violentamente tentando afastar as lágrimas mesmo sentindo os pedaços do meu coração se desfazendo diante de cada memória dolorosa.

"Você disse que iria me proteger." Sussurro enquanto curvo os ombros para frente.

Dói de uma maneira avassaladora, o oxigênio que entra em meus pulmões machuca, o som dos seus passos se aproximando é o suficiente para ter uma reação, ergo-me da cadeira rapidamente colocando um espaço entre nós dois ainda maior.

"E eu falhei." Sua voz ainda se parece dolorida.

Encontro com o olhar âmbar cheio de emoções que não consigo ler, a barba desfeita e as olheiras marcadas, o cabelo um pouco maior bagunçado.

"Fiquei sozinha aqui, abandonada." Declaro com mais força. "Onde você estava Nicklaus?"

Ele ergue a mão passando nos fios por um momento posso jurar estar se sentindo afetado por isso, mas é a lembrança de como sou apenas um pedaço de carne que retorna fazendo as palavras saírem como um poderoso veneno.

"Como você queria ser avisado?" Pergunto ressentida. "Por que ninguém estava pronto para me salvar?"

As palavras saem mais rápidas derramando a melancolia que venho guardando durante todos esses dias, os pedaços de uma mulher perdida entre um amor impossível recém-descoberto para as partes de um passado que não deveria reaparecer. Mesmo prometendo diante daquele espelho todos os dias refazer alguma parte da minha alma vingando aquelas garotas, encontrar o olhar de Nicklaus é o suficiente para descobrir o quanto estou inegavelmente apaixonada por ele.

"Meu anjo..."

Ergo a mão o fazendo parar de falar a menção do apelido sangra a minha alma, os olhos mortos daquela menina eram de um anjo que morreu cedo demais...

"Não me chame assim, não quando as suas promessas são falsas e a sua presença é ínfima dentro dessa casa, não quando você está tirando o melhor de mim lentamente mesmo que de longe." Soluço cobrindo a boca.

Posso ver a maneira como ele entende cada uma das minhas dores, posso observar o quanto as palavras cortam a sua capa de frieza.

"Você é minha esposa, Carolina, não importa quantas vezes errar ou quantas vezes quebrarei as promessas que fiz ainda estarei de volta a nossa casa por você." Declara.

Fico completamente paralisada diante da sua admissão, ele dá passos largos desfazendo a distância entre nós, retirando a cadeira da minha frente puxando o meu corpo pela cintura como se nada fosse mais importante do que os meus sentimentos quebrados.

Do que reestabelecer aquela conexão estranha de dias atrás na cama quando nossos olhares estavam unidos em uma conversa silenciosa. Mas ele irá retornar para a vida no crime como para os assassinatos que tanto ama, para aproveitar o poder de ser o mais poderoso criminoso da Rússia, não por que me ama.

"Eu não posso." respondo

O empurrão que dou em seu peitoral desnudo o pega de surpresa, fazendo dar um passo para trás, a sobrancelha grossa erguida enquanto a testa fica enrugada em confusão.

"Não posso ser essa esposa da máfia, não posso estar com você Nicklaus."

"Do que você está falando?"

"Eu não posso sentar naquela cadeira e fingir que está tudo bem enquanto você desaparece, eu não posso aceitar calada todo esse medo no meu peito muito menos aceitar ser apenas alguém que você usa e convence com palavras bonitas para ter mais poder." Ergo as mãos desesperada. "Você só casou comigo por precisar desesperadamente de uma barriga para carregar o seu herdeiro, para dar mais frutos a sua organização, para esquentar a cama quando você resolve aparecer em casa."

Quando termino de falar estou ofegante, as lágrimas ainda caem e noto o silêncio, estava gritando sem dar conta diante das emoções a flor da pele.

"Eu fugi de toda a maldade que me rodeava e você trouxe ela de volta, isso é a maior traição que você poderia fazer dentro desse casamento, a dor de reviver cada um dos meus maiores medos pela ilusão de ter uma família com você."

A dor nos olhos dele consegue destruir os pedaços que ainda restam dentro do meu peito, seus passos para trás enquanto passa a mão pela barba e o murro que dá na mesa faz com que fique assustada. Mas é o grito doloroso e furioso escapando pelos lábios grossos causa uma destruição em massa dentro da minha alma.

Nicklaus parece uma besta furiosa se libertando ao puxar uma das cadeiras que compõe a enorme mesa de jantar, os músculos se contraindo com a fúria e a raiva erguendo o peso e o jogando contra a parede fazendo a madeira se quebrar contra um quadro enorme. Observo entorpecida enquanto ele puxa a próxima repetindo a mesma ação e quebrando uma vidraçaria inteira.

Ele puxa o ar com força seu queixo toca a clavícula antes de ir para o ombro fixando o olhar ferido nos meus.

"Sou um monstro por trazer você para esse mundo, mas quando irá pensar no quanto você é a verdadeira monstruosidade aqui?"

"O quê?" Questiono arregalando os olhos.

"Você e a sua enorme necessidade de atenção, a sua necessidade de repor o carinho dos seus pais, a sua carência Carolina é uma doença." Declara bufando.

Sinto o calor subindo pelo pescoço enquanto as palavras cortam e faz a fúria emergir, avanço com raiva na direção dele parando próxima demais, ergo o dedo apontando contra sua face.

"Quem é você para me chamar de doente?" Grito completamente perdida na raiva. "Você é a porra de um sociopata, você não quer um casamento, quer apenas uma ditadura."

Não estou disposta a estar criando mais conspirações na minha mente muito menos correndo em busca de míseros pedaços de informação, quando tudo o que precisava era dele aqui, era estar nos braços dele sendo protegida.

"Quem é você para saber o que quero ou não?" Ele abaixa o rosto segurando meu pulso. "Eu sou a pior pessoa que poderia existir na face da terra, sou um homem alimentado da maldade e ainda assim, sou um homem inegavelmente apaixonado por você." Declara com os olhos brilhando em expectativa. 

Dono do meu infernoOù les histoires vivent. Découvrez maintenant