Incontrolavel

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Carolina

Observo a inabitual luz escapando pelo espaço da porta aberta, atraindo-me para o lar da besta, o silêncio da mansão em nada se compara as vozes enlouquecidas da minha mente gritando, brigando, disputando um lugar sem saber como falar ou como agir, deixando apenas o imoral tomar conta e guiar os meus passos. Meus pés descalços tocam o carpete, atravesso o beiral da porta sem quebrar o silêncio, a pouca luz que ilumina vem do closet e da lua que invade pela varanda aberta, as pesadas cortinas nem ao menos se movem com o vento frio.

Já o alvo do meu desassossego respira profundamente deitado no meio da cama entre os lençóis de seda no tom marfim, o painel combinando com o estrado de madeira rústica trabalhados formando ondas que levam ao brasão esculpido no painel logo acima da cabeça dele. Seu corpo divino desnudo, exposto, coberto apenas pela calça de moletom, deixando as tatuagens traçadas em cada uma das curvas do peitoral, os piercings nos mamilos brilhando e a barriga plana, os pelos escuros abaixo do umbigo levando ao cós da calça. As mãos enfeitadas pelos anéis de prata, o maxilar marcado e o brinco de diamante na orelha direita.

Sim, o epítome da minha fraqueza, destruidor de cada um dos meus sonhos de princesa, aquele que derrubou o castelo do que imaginei ser o mundo ou a esperança em viver dias melhores. Ao seu lado, sou apenas mais uma, apenas uma mortal desgarrada do rebanho corrompida diante da beleza ilusória que reveste a maldade crua desse homem.

Outra onda de vento enche o quarto, acordando-me das minhas lamúrias, trazendo de volta a fúria, o ódio, a insanidade, em passos rápidos corto a distância e estou em cima do seu quadril na cama imobilizando parte de seu corpo com a ponta da faca contra o lado direito do peito dele, pois até nisso o diabo foi amaldiçoado nascendo com o coração no lado oposto. As iris verdes analisam a minha face, talvez a surpresa, mas não, nada consegue surpreendê-lo.

— Faça o que veio fazer Carolina. — Não é um pedido, mas uma ordem e isso me revolta de uma maneira incontrolável.

Com a ponta da faca cravo fundo em seu peito, rasgando a carne de uma maneira desleixada, fazendo o formato que desejo, seus grunhidos contidos por entre os dentes não passam despercebido pela maníaca que deseja ver sua agonia. Sinto os batimentos contra os meus ouvidos completamente perdida para o sangue que verte da pele tatuada, deixando uma marca minha da única maneira com a qual ele pode se lembrar de mim, em uma cicatriz cheia de ódio e ciúmes. A letra do meu nome sob seu maldito coração de pedra, quando finalmente termino de esculpir ergo o olhar para os seus orbe, o olhar de um demônio, sua mão enorme recobre meu pulso apertando com força fazendo a faca cair em cima dos lençóis.

— Não deseja me matar, Carol? — Sua pergunta é um teste a minha sanidade, mas acima de tudo uma questão sobre a quão perdida estou.

Aquelas fotos estão atormentando cada pedacinho de lucidez, pois estou com ciúmes sinto como se estivesse sendo dilacerada de dentro para fora apenas com o pensamento de que ele esteve com outra e mesmo após ver aquelas fotos, estou aqui quase implorando para que ele se declarar outra vez e me garanta que nunca esteve com nenhuma outra desde que estendeu me a mão.

— Não. – Finalmente consigo falar em um murmúrio alto o suficiente para que suas sobrancelhas se arqueiem com a resposta

Na verdade quero gritar que estou tão apaixonada quanto ele,quero que saiba o quanto poderia lutar para morrer por ele e o quanto fui tomada pelo medo de ser rejeitada se falasse sobre o que Razmunikin fez comigo.

— Então veio aqui para fazer um C no meu peito. — Ergue a sobrancelha— Tsc achei que seria mais criativa amore mio.

O problema é essa raiva essa desconfiança que alimenta cada veia minha fluindo muito mais rápido do que qualquer julgamento, como pode se declarar tão apaixonado a momentos atrás e agora me dar apenas a sua camada mais fria?

— E fui... — Abro um sorriso que provavelmente causará a minha morte. — Enquanto estava conversando com o seu irmão.

Declaro faminta pelas suas reações,desesperada pelo seu fogo bruto.

No mesmo instante seu semblante se transforma, de um belo anjo questionador para o verdadeiro demônio que consome cada uma das minhas energias, aquele que quebrou a minha inocência. Em um movimento rápido, os fios dos meus cabelos ficam envolvidos nos seus dedos, deixando meu pescoço exposto para a língua traiçoeira que percorre a artéria com maestria, atiçando a devassidão para brincar.

Envolvida pelos lábios quentes e fogosos tomando tudo da minha boca incendiando meu corpo com prazer, o sangue se tornando seco entre nós fazendo parecer que nada tão grave havia acontecido, um lapso meu pensar isso, pois o clique metálico foi alto o suficiente para cortar a onda de luxúria.

Separamos nossas bocas sem fôlego enquanto tentei puxar ele de volta ficou presa, percebendo o metal em volta do meu pescoço. Incrédula tentei outra vez, seu olhar em nenhum momento desviou do meu, frio, quente, punitivo, raivoso. Estava tão ocupada em senti-lo envolvida no seu manto de pecado que não percebi seus movimentos calculados.

— Te avisei para não falar com nenhum homem, essa é a sua punição. — A declaração da voz firme e fria.

O lugar nem é mais desconhecido de tantas vezes que acabei vindo parar aqui nos últimos meses, mas não é o suficiente para aplacar a fúria.

— Eu sou a porra da sua esposa e não um cão — Grito completamente irritada por seguirmos nesse círculo vicioso.

O homem se movimenta como um animal prestes a atacar a presa e no caso, sou a porra da presa que se sente doente de desejo por ele. Necessitando novamente dos seus toques, querendo continuar de onde páramos, mas magoada demais para demonstrar algum arrependimento contra as suas ordens.

— Você é minha, sua voz tem que soar para os meus ouvidos e não para qualquer merda.

— Nicklaus... - suspirei - Não me deixe presa aqui.

Senti as lágrimas se formando para implorar as engoli, ciente de que tudo entre nós sempre se dará entre pagamentos infelizes de mesma proporção, nosso amor é doentio, nosso ódio é vicioso. Por isso deixei que se fosse saindo pelas escadas provavelmente em busca de descontar sua fúria em um inocente que pagara pelos meus pecados, assim, aceitei a sua punição sem relutar. O sangue seco nas minhas mãos manchando a minha pele não é apenas dele, desde que percebi o quanto estava presa sob essa escuridão passei a compartilhar do sangue derramado pelas mãos daquele diabo. Infelizes são os que cruzam o seu caminho, pois não saíram vivos ou intactos, sou a prova viva da condenação.

Trinquei os dentes por a realidade ser que a enorme letra traçada em seu peitoral antes imaculado e agora manchado pelo sangue com um formato distorcido é a mais clara evidência de que sim... sou tão doente quanto ele. E o pior de tudo é que dentro desse inferno que vivo sou completamente apaixonada pelo dono dele.

Arfo perdendo o fôlego com facilidade parece que tudo se torna catastrófico demais quando envolve nós dois, toco na cama para buscar apoio dentro desse labirinto que prende meu peito. As paredes se fecham cada vez mais levando junto o oxigênio, a pontada aguda no meu ventre faz com que grite em desespero perdendo lentamente a consciência, o sangue que sinto molhar as minhas coxas não são de Nicklaus mas meu..

Estou atordoada demais fazendo contas infinitas na cabeça, buscando compreender o que está acontecendo, não posso .. não agora.. não quando envolve tantos sentimentos.... A bagunça gira na minha cabeça e o mundo gira enquanto a dor alucinante aumenta fazendo-me cair de vez contra a cama e soltar um último grito.

Dono do meu infernoWhere stories live. Discover now