Ilusão

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Carolina

O dia, amanhece completamente ensolarado, na Rússia é um presságio de coisas boas, afinal nem sempre o calor chega a essa terra tão fria.

Entretanto, a dor que invade meu peito não é amenizada pela beleza do jardim se iluminando pelos raios, o calor que toca minha pele na varanda do quarto não ameniza o frio que sinto percorrer a coluna.

Abro os olhos apoiando as mãos no balaústre, suspirando, ao olhar para baixo encontro as iris coloridas analisando cada pedaço recoberto pelo robe que uso. Soltando o cigarro para a fumaça subir, finalmente ofertando uma visão do demônio que realmente é, Nicklaus parece abarrotado de alguma forma me incomoda.

Vê-ló tão tranquilo enquanto passei os últimos dias transtornada, imaginar que sua viagem pode muito bem ter sido noites regadas a sexo e álcool, ao contrário das minhas insones.

Seu irmão aparece atraindo sua atenção, mas lançando um olhar na minha direção com um sorriso. Algo que noto não agradar Nicklaus sua expressão se torna tão fechada quanto estava no momento em que me tirou daquele beco.

"Vamos menina, vamos" — A voz de Yves atrai minha atenção, a senhora aparece no meio do quarto. — "Carolina!" — Fala espantada

"O que aconteceu?"

"Saia da varanda menina, Nicklaus já chegou em casa, ele não pode te ver antes do casamento, dá azar." — Como uma mãe preocupada, suas mãos me puxam.

Guardo a resposta para não estragar sua empolgação, mesmo acreditando que apenas o fato de casar com o chefe da Bratva, só tenho tempo para aproveitar a bandeja com café da manhã, após isso o quarto começa a ser preenchido por tantas pessoas que perco a conta.

Parece que tudo transcorreu em uma hora, mas a realidade é que foi o dia inteiro sendo preparada para estar perfeita, desde o cabelo e até mesmo citei a depilação, ficando completamente envergonhada ao ver o sorriso da mulher contratada para isso. Durante o dia inteiro Yves esteve ao meu lado saindo em poucos momentos, até mesmo Maya veio.

Não tínhamos nada a comentar sobre o que aconteceu no dia anterior ou sobre o meu destino, mas o conforto de ter dois rostos conhecidos era tudo que precisava para não desabar.

Agora, com os cabelos trancados nas laterais, caindo nas costas e formando cachos perfeitos, sendo cobertos por um laço azul-claro com flores silvestres, cobrindo a costura do longo véu rendado se encaixando em cima da minha orelha com dois pares prateados de adereços florais.

Minhas bochechas cheias de vida pela maquiagem natural realçando detalhes que nem sabia poder gostar, meus cílios cheios e a boca pintada com um rosa-claro.

Já o vestido de saia rodada subindo em um arco até chegar na cintura drapeado com seda abraçando meus seios e formando um grande decote em v com desenhos de flores marcadas por pérolas pequenas exibindo todo meu colo para se dividir em longas mangas detalhadas em renda até se abrir nos pulsos deixando o tecido mais solto.

Honestamente, se um dia na infância imaginei casar, tenho certeza de estar realizando esse sonho, pois a imagem que observo no espelho é a versão de uma princesa. Solto um suspiro quando finalmente fico sozinha em cima do tablado, infelizmente não é por muito tempo.

"Um verdadeiro anjo." — A voz grave atiça todos os meus pelos.

Após os dias depois do que aconteceu ainda sinto o calor correndo para o baixo ventre com a presença dele.

"Não deveria estar aqui, Yves disse que dá azar."

E essa é a única coisa que escapa da minha boca, Nicklaus usando um colete preto por cima da camisa social também preta parece estar indo mais a um velório. Talvez seja um, o velório dos meus sonhos.

"Acredita nisso criança?" Questiona oferecendo a mão para poder descer do tablado.

Aceito de bom grado conseguindo ficar em pé sobre os saltos altos, nem assim chego perto do queixo dele. O perfume delicioso tomando conta das sensações e a visão da barba crescida bem feita.

"Não" Finalmente consigo responder.

Ele ergue a ponta dos dedos acariciando minha bochecha com calma. Um carinho estranho, mas que simplesmente quero mais.

"Vim aqui para alertar sobre a sua entrada na organização." — Mantenho os olhos fechados escutando deixando meu rosto pender para sua mão que continua.

"Acreditei já estar envolvida" Respondo.

Posso jurar ter um sorriso em seu rosto, a única coisa que me faz abrir os olhos e la está as pontas dos dentes se exibindo de maneira singela.

"E está, mas para ser esposa do Boss precisa entrar na organização." Sua voz firme causa um arrepio de medo.

"O que significa?"

"Não posso dizer Carolina."

"Então, para que veio?"

"Para te alertar que independente do que acontecer, mantenha a coluna erguida como rainha que será, engula o choro, o grito e deixe tudo isso para quando estivermos a sós."

Engulo em seco sentindo o estômago queimando pelo nervosismo e o medo, essa cerimônia além de matar uma parte minha parece exigir algo que nem sei se tenho o poder de dar.

Nicklaus percebe minha aflição e desce a ponta dos dedos pelo meu pescoço, percorrendo a pele exposta do colo em direção ao decote, fazendo meus pensamentos irem em outra direção.

"A cada vez que te vejo cometo mil pecados diferentes." Sua voz sai rouca e grave

Preciso apoiar a mão em seu braço direito buscando equilíbrio quando quero que esse maldito desejo por ele acabe.

"Nicklaus.", Murmuro

"Deixe-me ir Carolina ainda preciso escolher uma maldita gravata."

Rapidamente ele desfaz a nossa proximidade deixando um espaço vazio que agora percebo detestar, encontro minha voz quando ele está na porta.

"Verde-Oliva"

Ele ergue uma sobrancelha olhando me por cima do ombro.

"A gravata" Completo sentindo as bochechas queimando.

Sem responder, ele se vai, solto o ar com força, voltando a ficar apavorada com essa cerimônia. Ando de um lado para o outro no quarto até que Yves finalmente chega, pelo seu olhar posso imaginar que já sabe.

"Aí, menina" ela se aproxima segurando as minhas mãos tremendo "Não sei o que vai acontecer, mas seja forte."

Engulo a mentira e questiono.

"Aconteceu algo Yves?"

"O conselho exigiu que você seja iniciada" Ela murmura torcendo os lábios.

Seu vestido vinho a deixa bons anos mais nova.

"Isso significa?"

"Nada bom, nada é bom vindo do conselho."

"Eles não obedecem Nicklaus?" Questiono

"Vai, além disso, é sobre manter a organização até onde sei." Ela suspira dando leves batidinhas sobre minha mão "Não demonstre fraqueza, tubarões sentem o cheiro de sangue a quilômetros de distância."

"Essa cerimônia vai ser a minha morte." Murmuro

"Uma condenação talvez querida, você é mais forte do que imagina." Ela abre um sorriso enorme." Agora vamos, você está maravilhosa."

"Nicklaus?"

"Está te esperando no altar."

A pele ao redor dos seus olhos enrugam ao falar dele, inspiro e respiro buscando forças. Então de mãos dadas com ela. Saio de dentro do quarto em direção à ilusão de uma vida feliz.

Dono do meu infernoWhere stories live. Discover now