Cimento pra rebocar sua cara de pau

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Meio sem jeito de contar, Seungkwan coçou a nuca.

— Um ano.

— Um ano?! — Os olhos arregalados e a risada incrédula da mulher mostrou com clareza sua surpresa. — E fala da mamãe, escondendo um casamento praticamente.

— Não exagera... Quer dizer, às vezes parece que somos casados e eu facilmente moraria com ele, mas só estamos juntos. Um final de semana na minha casa, outro na dele e por aí vai. Não parece porque estamos sempre trabalhando e só vejo ele alguns dias da semana, mas já faz quase um ano oficialmente — ao dizer isso, ele mesmo encostou na cadeira e pareceu perdido ao olhar para o nada. — Caralho, já faz mais de um ano que conheci ele.

A risada de Jinseul aliviou seu choque inicial ao notar como perdeu totalmente a noção do tempo, mas logo o assunto continuou conforme vieram as perguntas: "Como se conheceram?", "Quando ficaram?", "Quem se declarou primeiro?", além do arco da fofoca que incluía Seokmin.

Após outra xícara de café e uma de chá para a mulher que amamentava, ele já tinha contado tudo e estava de saída para chegar cedo em casa, ou pegaria o trânsito do horário de pico. Saiu da casa da irmã com um sorriso enorme no rosto, feliz por ela e genuinamente agradecido por ela também estar feliz por si. Nunca passou tanto tempo falando de sua vida pessoal com alguém da família e, por mais que parecesse algo besta, isso lhe fez muito bem.

Sentir que podia contar com ela para alguma coisa era bom.

No caminho para casa, um toque de notificação soou no carro. Ele nem havia percebido que ligou o celular para receber corridas no automático pelo costume assim que entrou. Olhou o relógio, ainda faltava quase uma hora para o horário de buscar o Hansol, então daria tempo de fazer essa corrida que parava perto da empresa e ainda poderia ganhar mais um pouco.

Como costume de ser trouxa também, aceitou e logo recebeu uma mensagem.

Eu tô na loja de construção, preciso levar 10 sacos de cimento

Pode ser?

Cimento?
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É, tem como?


Achando bem estranho, mas não mais estranho do que uma geladeira, tortas, churrasqueiras entre outros, acabou aceitando mesmo assim. Era só cimento e iria no porta-malas, de qualquer jeito, então achou que não haveria problemas.

Assim que chegou no lugar, logo viu o passageiro com um carrinho da loja com os sacos sujos e pediu ao cara que colocasse um saco plástico embaixo para não sujar o carro por dentro. Assim foi feito e seguiram viagem para um bairro conhecido, meio afastado do centro, mas logo percebeu que era no mesmo bairro de onde Hansol trabalhava, então estava tudo mais do que certo.

Essas coincidências assustavam o motorista, mas não reclamaria enquanto elas facilitassem sua vida. 

Passaram pela rodovia, passaram da prefeitura, pela praça do Paço Municipal e pela rua onde Seungkwan vivia vendo casa pra alugar, mesmo que estivesse sem dinheiro pra comprar nem uma garrafa de cachaça pra afogar as mágoas e dormir a noite toda. Na rua em que passava quase todos os dias para buscar o namorado, o passageiro disse que podia parar que ele conseguia descer ali mesmo. 

Não era bem o endereço que constava no aplicativo, mas não ia brigar por alguns wons a menos. Encostou na frente de um terreno que tinha um prédio a ser construído e ficou esperando o rapaz descarregar o cimento. Viu ele levar um por um para dentro do terreno fechado por várias madeiras pregadas uma na outra e quando ele levou o último, não voltou mais. 

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