Parte 23 - Recuperando frações de si mesmo

58 7 20
                                    

Nesse meio tempo, Chanyeol também viveu.

Depois de decidir voltar a voar, fraquejar e acabar nos braços de Baekhyun para recobrar o fôlego, no dia seguinte já conseguiu dar os próprios passos. Trabalhou muito naquele período, tatuava, desenhava, planejava, editava, recuperou vários de seus clientes antigos e ganhou outros novos. Mas Chanyeol queria muito, muito, poder tocar Baekhyun.

O pobrezinho até tentou pensar em monges, em coelhinhos, em montanhas e todos os animais da fauna da Austrália. E em Hello Kitty e na Pucca, também em Sakura Card Captors e nas antigas bolachas coloridas da Trakinas de banana, frutas vermelhas e limão. Contudo, a cada dia que passava, tudo o que conseguia sentir, da forma menos polida possível, era a vontade de tê-lo nos braços. E, isso, ainda no começo.

Tentou se concentrar em outras coisas. E aí trabalhava em dobro, recebia elogios em dobro, e conseguiu até recuperar uma rixa antiga.

Havia um tatuador que simplesmente o odiava — por inveja do trabalho de Chanyeol. O que piorou em uma tarde, no passado, em que vários tatuadores organizaram uma oficina de tatuagens.

Aquele rapaz esteve lado a lado com ele, e Chanyeol era tudo mais do que ele. Mais bonito, mais alto, simpático, habilidoso, criativo, autêntico, mais tudo. E, para tentar diminuir Chanyeol de alguma forma, lançou um comentário homofóbico ou dois, em forma de piadas de extremo mau gosto, naquela época, cinco anos atrás. Chanyeol fingiu que não percebeu — mas jurando ódio eterno, silenciosamente, ao invejoso homofóbico.

O tal cara começou a copiar os designs de Chanyeol e agia como se fosse ele quem tinha criado. E cobrava mais barato, para roubar clientes. Mas a sorte do outro foi se esgotando e, com frequência, acabava fazendo algo que dava muito errado e sobrava para Chanyeol cobrir e arrumar o trabalho do fulano. Sempre odiou ter que cobrir tatuagens de qualquer outro profissional e achava bastante chato. Mas as do invejoso ele cobria com gosto.

Admirar outros profissionais da área sempre foi uma prática saudável e que era muito comum de acontecer. Chanyeol admirava Junmyeon, o melhor com cores e aquarelas. Yixing sempre o deixava boquiaberto, com trabalhos com realismo que pareciam ser fotografias. Amava os dois amigos e os trabalhos deles. E ficar feliz por uma pessoa que tem a mesma paixão que você só se chamava bom senso. Respeito. E ter um bom coração. Ser uma pessoa boa. O que o tal cara desconhecia.

Naquela tarde, cinco anos depois, Chanyeol pensava em muitas coisas, e até se sentia mais ele mesmo, sem ficar só pensando em relacionamentos afetivos — o idiota do ex-namorado dele e o perfeitinho e atual Baekhyun. Pensar nas próprias desavenças podia até ser saudável. Mostrava que estava olhando para a própria história, e não só preso em coisas que Kanghee havia escrito por ele, dentro do peito dele.

Tinha passado horas cobrindo uma tatuagem do invejoso naquele dia, e havia ficado lindo. Inclusive a moça gravou stories no Instagram para mostrar sua nova ilustração, marcado Chanyeol e falando mal do tal outro tatuador.

Pensando em tudo isso, Chanyeol sorria de leve, comendo uma barrinha de cereais, do lado de fora do estúdio. Via os carros passando na rua, bagunçando com o vento as duas mechas de cabelo que ficavam perto do rosto, o resto todo preso em um coque malfeito, e que ficava absurdamente bonito nele. Estava com muito calor — talvez porque estivesse inteiro de preto, como sempre, e o sol o atingia diretamente. Mas sentia que aquele calor era algo de dentro do peito, com o nome de vida, que voltava a alagar suas veias de terra seca.

— Dá pra ver na sua cara a alegria venenosa de cobrir tatuagem dele — Yixing dizia, achando graça, acendendo um cigarro.

Chanyeol nem se mexeu, só permitiu que o sorriso de canto se erguesse mais um pouco, mastigando a barrinha, olhando-o de soslaio com uma expressão de quem obviamente concordava.

Como Ser Expulso de CasaTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon