Parte 1 - Procurando um namorado de mentira

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Baekhyun tinha vinte anos quando decidiu que precisava sair de casa.

Com toda a sinceridade do mundo, ele poderia dizer a quem quisesse ouvir, sem faltar com a verdade, que nunca havia sofrido agressões físicas por parte de seus pais. Contudo, suas feridas eram emocionais e estavam ficando cada vez mais profundas: não importava o quanto tentasse, nunca conseguia ser ouvido. E ele tentou. Várias vezes.

Sempre que tinha algo a dizer, seus pais mudavam de assunto. Não conseguiam encarar que o filho único já tinha crescido. Ainda tinha que pedir permissão para sair, dar relatórios de onde estava, com quem estava e ele que não ousasse voltar para casa depois das dez horas. Eles o controlavam como se ainda fosse criança.

Mesmo com tudo isso que se obrigou a aceitar, o que mais doía era a falta de apoio e de afirmação dentro de sua própria casa. Era só dizer algo que seus pais não quisessem ouvir que eles simplesmente davam as costas como se não tivesse dito nada. E quando o ouviam, faziam com que ele se arrependesse do que disse, faziam parecer que era tudo uma grande bobeira da parte dele. Ou um ato de rebeldia sem causa. Como no dia em que disse que pensava em sair de casa.

A primeira vez foi com dezoito anos, quando fez o primeiro comentário e sua mãe, na mesa de jantar, parou de comer. Reagiu como se ele tivesse dito que planejava cometer um crime.

Voltou a tocar no assunto algumas vezes e teve reações parecidas em todas elas, com exceção da última. Sua mãe já tinha chorado algumas vezes por isso, sentia que não estavam fazendo bons papéis como pais ou diziam que Baekhyun era ingrato e que só estava exagerando e procurando briga. Mas, desta última vez, em específico, ela chorou e disse:

— Filho, mesmo que você saia dessa casa, feliz... com o amor da sua vida... casado e depois dos trinta anos de idade... ainda assim eu vou sofrer. Vai ficar um buraco em mim e eu não vou saber conviver com o meu bebê me abandonando assim.

E foi ali que Baekhyun entendeu que não ia conseguir sair de casa antes que ela percebesse que ele já tinha crescido e que ter Baekhyun — que nunca conseguiria atender completamente as suas expectativas — vivendo ali, não poderia ser eternamente confortável. Tinha que desconstruir esse pensamento de seus pais de que ele seria e faria sempre o que fosse agradar. Às vezes, era como se fosse invisível e ainda assim não queriam ouvi-lo ou deixá-lo ir.

Em uma noite qualquer, todas as suas memórias despertaram. Como quando se assumiu gay e seus pais disseram que ele não podia saber disso, que deveria ser uma fase. Diziam que, por ele nunca ter namorado, então nada do que dizia fazia sentido, pois ele só estava confuso. Mas ele vivia dentro do próprio corpo, e só ele sabia como seu coração batia por outros garotos, desde moleque.

Houve outro momento, em que ele tentou dizer que não gostava das roupas que seus pais compravam para ele, quando o responderam que ele nem sabia como queria se vestir e que tudo aquilo era frescura, pois ele já teve várias fases quando adolescente.

Assim como em vários momentos em que tentava colocar sua opinião para fora, seja por política, pautas importantes e até fofocas entre tios e primos, sempre diziam que, da vida, ele não sabia nem um terço. Era como se ele só não tivesse direito de ser ouvido. E somente naquela noite ele foi entender o motivo:

Ele sempre se calou e não insistiu. Nunca fez questão da própria voz.

Por isso, precisava agora fazer para valer. Afrontar, para tentar reaver os anos em silêncio. Seria ouvido por bem... ou por mal.

Em parte, era mesmo por bem, porque despertar em seus pais a ideia de que ele nem sempre estaria ali para fazer tudo o que quisessem seria bom para eles. Eles iam perceber que ele cresceu. Se ele os incomodasse, então eles iam acabar achando bom que ele fosse morar longe, iam achar que chegou o momento. Assim, sua mãe não ia chorar pelo seu bebê, ia ficar feliz porque criou um homem cheio de personalidade e que já tinha crescido.

Como Ser Expulso de CasaWhere stories live. Discover now