21 - Expectativas (Ricardo)

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Eu deveria ter inventado que amava outra pessoa? Não! Eu Deveria ter ficado em Boston e sofrido sozinho. Eu nunca deveria ter voltado. Esse choro, esse sofrimento e essa dor, eu os deveria ter sentido calado. Eu não achei que fosse possível ter o coração partido em mais pedaços, mas ele se transformou em areia de repente. Já não é possível juntar, colar ou fazer dele um coração inteiro novamente.

Eu a aperto forte, como se isso fosse unir pelo menos os pedaços do que resta do coração de Serena. O meu pode esfarinhar, mas o dela não!

Isso é loucura! Tem que existir algo que eu possa fazer.

Quase sete anos se passaram e eu ainda me pego preso à solidão que senti sem tê-la do meu lado o tempo todo.

As piadas ruins, as dancinhas engraçadas, os conselhos confusos e a paixão por coisas aleatórias. Eu nunca me esqueci de tudo o que aprendi sobre Serena ao longo da vida. Ela continua a mesma, sorrindo para vitrines com livros, ouvindo músicas como se contassem a sua história, comendo besteiras escondida dos pais e fingindo ser forte, quando na verdade não é. Eu sabia que isso a machucaria e eu estava certo o tempo todo. Esconder dela não tinha sido um erro. Mas agora, eu não posso acreditar no que está acontecendo. Talvez eu seja o problema em toda essa equação.

Eu a abraço mais forte, tentando unir nossos pedaços. Não consigo soltá-la, eu não posso deixá-la ir assim, não depois de ficar tão esperançoso.

— Tudo bem, Rick. Eu vou ficar bem. Sinto muito por estar errada.

— Ei, Serena — digo, enxugando suas lágrimas. — O seu pai não é seu pai de verdade, mas o meu pode não ser também, não é verdade? Ainda podemos ter esperança. Você tem uma irmã, talvez ela seja a filha do meu pai.

— Rick! — ela suspira. — Não vamos complicar as coisas. Eu estava sendo ingênua por todo esse tempo.

— Chegamos muito longe para deixar de acreditar. Você mesma estava empolgada, você disse que ia dar tudo certo. Não podemos ser irmãos.

— Por que está fazendo isso? Já sabemos que você estava certo.

— Eu não posso desistir de você. Só me deixe continuar tendo esperança, me deixe continuar tentando.

— Isso só nos fará mal — ela retruca, quase retomando o choro.

— Por favor! — peço.

— A tarde já se foi, Rick. Está escurecendo. Às vezes isso acontece, a noite chega de repente sem que possamos perceber. É como os nossos problemas chegaram e se instalaram.

— Mas o sol sempre nasce no outro dia — insisto, quase sem voz.

— Você disse que faria do meu jeito. Vamos apenas voltar pra casa e na sexta-feira conversamos.

— Está bem — digo.

— Não se preocupe, eu consigo dirigir. Foi só uma crise de ansiedade.

Está tão óbvio que ela ainda não consegue. Suas mãos estão trêmulas, seu rosto vermelho. E novas lágrimas ainda despontam de seus olhos. Eu não estou muito diferente, mas nunca a deixaria dirigir assim.

— Eu te levo. Não estou de carro.

— Eu aceito — ela diz.

Serena olha para o céu, estrelado. Ela tinha razão. Já é noite. São estrelas de verdade. Eu queria poder olhar para um céu de verdade com ela a minha esquerda. Queria poder usufruir do nosso amor de verdade e beijá-la debaixo desse céu único e real.

— Posso ligar o rádio? — pergunto.

— Pode — ela responde, sem vontade.

Uma música antiga começa. Eu a conheço bem, mas ela nunca fez tanto sentido quanto faz agora. Não posso desistir e não vou.

Romântica (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora