20 - O coração que ama (Serena)

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Ando pelo bairro ao redor do consultório procurando uma lanchonete onde eu possa comprar uma coxinha de frango com catupiry. É tudo o que eu preciso almoçar hoje.

— Alô — atendo o celular.

— Que desânimo! Dormiu mal de novo, foi? — a voz de Lena soa mais como uma bronca do que como uma pergunta.

— Eu só quero uma coxinha e um copo grande de refrigerante — respondo.

— Então me espera onde está. Eu sei o lugar perfeito para te levar.

— Você é a pessoa mais linda desse mundo — afirmo.

Lena ri. Ela tem esse jeito rústico e todo debochado, mas é a única pessoa que eu preciso agora. Sempre posso contar com ela quando algo de errado está acontecendo.

Nós nos sentamos numa lanchonete pequena, mas aconchegante.

— Eu descobri esse lugar na semana passada. Como acha que ganhei uns quilinhos? Isso aqui deveria ser proibido — explica me arrancando uma risada. — O que aconteceu? Coxinha e chocolate no meio do dia é sinal de que está furiosa e precisa se acalmar.

— Tirei uma semana de folga e quando decido voltar, parece que o universo está contra mim.

— O que quer dizer? É por causa da família do Rick morar bem de frente pra sua?

Meneio a cabeça discordando, mas antes de falar qualquer coisa espero a moça colocar nossos pedidos na pequena mesa.

— Isso também, mas hoje, quando cheguei ao consultório dei de cara com João.

— Seu ex? Aquele nervosinho?

— Sim. Disse que sou responsável por ele não conseguir mais controlar a raiva. Afirmou que não consegue se relacionar com ninguém porque, por minha causa — enfatizo —, ele não pode confiar nas mulheres.

— Por favor, me diga que se recusou a atendê-lo — diz Lena, dando uma mordida generosa em seu salgado. Eu faço o mesmo antes de continuar:

— Eu expliquei que seria antiético me tornar sua terapeuta, mas que por consideração eu poderia ouvi-lo e encaminhá-lo para um colega apropriado que pudesse ajudá-lo.

— Deixe-me adivinhar. — Lena descansa o salgado no prato e me encara antes de afirmar: — Ele ficou bravo com você e disse que você precisava resolver, já que a culpa é sua.

— Como sabe? — questiono.

— Ah, Serena. Pelo amor de Deus. Aquele idiota namorou você só cem dias e fez algo assim toda semana.

— É verdade.

— E o que você disse? Não ficou com pena dele não, né?

— Eu disse que todos os sinais indicam que ele tem sim um problema psicológico e que suas atitudes são, em sua maioria, manipuladoras. Expliquei que existem vários problemas que podem levar alguém a desenvolver esse hábito de maneira intencional ou não. Pedi um exame e fiz um encaminhamento para um colega especialista em transtornos sérios de personalidade.

Lena quase engasga antes de explodir em risadas.

— Meu Deus! Serena, você é a melhor terapeuta que eu já conheci.

— Eu não estava brincando ou tentando ofendê-lo, falei sério. Não posso ser médica dele. Primeiro, porque ele não me respeita como profissional e segundo porque tivemos um relacionamento, não seria certo. Demorou, mas eu consegui convencê-lo disso.

— Então por que continua irritada?

— Quando ele saiu, Diogo entrou.

— Diogo? O Professor de Química que você namorou? Mas ele não morava em BH?

Romântica (COMPLETO)Where stories live. Discover now