14 - O segredo (Ricardo)

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— Não diga sim! Por favor, só não diga sim — escuto alguém gritando e automaticamente me viro na direção da voz conhecida.

Suspiro ao identificar Serena. O vestido vermelho e branco tomara que caia a deixou muito gata. Ela abre os olhos lentamente e nossos olhares se encontram, na mesma medida em que seu queixo cai. O que essa louca está fazendo?

Os noivos olham em sua direção, na verdade, todos estão olhando para a bela mulher que, aparentemente, tem algo contra o casamento.

— Serena?! — exclama a noiva, confusa. Soa quase como uma pergunta.

— Estou atrasada. — Serena aperta a saia do vestido com as mãos. — Não posso perder essa parte. Não diga sim antes que eu possa presenciar.

A noiva dá uma gargalhada com vontade.

— Você não pode mesmo perder, já que isso só está acontecendo por sua causa — afirma a noiva fazendo um coraçãozinho para minha amiga.

Serena engole em seco e ri nervosa.

— E se você disser não, — ela diz virando-se para o noivo — teremos que conversar sério.

O noivo ri, ele parece completamente perdido e confuso.

— Ricardo Gonçalves — diz o celebrante, ainda pasmado. — Você aceita Désiré Fontainelles como sua esposa?

— Sim.

Ao ouvir o nome do noivo novamente, me dou conta do que está acontecendo. Olho na direção de Serena, agora sentada e resmungando consigo mesma.

Aperto os lábios forçando para não sorrir. Ela achou mesmo que esse era o meu casamento? E iria interrompê-lo se fosse! Minhas bochechas ardem, e os cantos de minha boca não param de tentar se virar para cima. Serena me encara, provavelmente repreendendo o meu semblante, que apesar do meu esforço, zomba de sua belíssima aparição.

Eu me concentro em fotografar os noivos felizes, eles se olham, apaixonados. Se esse fosse o meu casamento, não consigo imaginar outra pessoa como minha noiva, apesar de saber que isso é impossível. Nunca poderemos ficar juntos.

Inconscientemente viro a câmera na direção da mulher de vestido vermelho e branco. Ela sorri para a noiva, o sorriso mais deslumbrante que eu já vi na vida.

Eu me aproximo de Fernando, meu parceiro e dou algumas instruções. Ele consente sorrindo.

Caminho na direção de Serena. Ela parece prestes a fugir novamente, mas não o faz.

— Não fala nada, tá bom?! — é o que ela diz.

— Foi uma grande entrada, eu diria.

— Não tem graça.

Suas bochechas coram, deixando seu rosto ainda mais iluminado e bonito.

— Eu até que achei bem conceitual.

— Ela é minha paciente... E você... — ela fecha os olhos tentando se acalmar. — Você é um cretino, filho de uma mãe. A culpa é toda sua.

— Foi você quem me disse para fotografar um casamento, estou apenas seguindo o tratamento prescrito.

Serena meneia a cabeça, concordando.

— Eu vi vocês conversando várias vezes e o que ela me contava... — suspira. — Tudo se encaixava. E você ainda tem um segredo. O que queria que eu concluísse?

— Eu sinto muito — eu me desculpo.

— Sente mesmo? Não acha que já me torturou o bastante com suas ações? Estou cansada de fazer papel de trouxa quando o assunto é você — ela da uma risadinha sarcástica. — Eu acabei de invadir um casamento e gritar para que o noivo não dissesse sim porque eu achei que o noivo era você.

— Serena, eu...

— Estou indo embora, faça boas fotos! — diz virando as costas pra mim e saindo do local.

Eu a alcanço e seguro seu braço. Sinto pingos finos e gelados em meu rosto. Hora perfeita para começar a chover.

— Só me solta — ela diz retirando o braço e correndo pela calçada. Eu a acompanho.

Serena para e ri passando as mãos pelos cabelos molhados. Ela se agacha antes de explicar:

— Eu sou mesmo uma pessoa de sorte — ela afirma. — Meu carro foi rebocado porque eu estacionei em local proibido pra poder chegar a tempo na merda do seu casamento, que nem era seu.

Eu me agacho perto dela e seguro suas mãos.

— Por favor, me desculpe. Eu nunca pensei que algo assim pudesse acontecer — digo. — Não sabia que ela era sua paciente, nem que tinha nos visto conversando e muito menos que estivesse passando pela sua cabeça que eu me casaria com alguém agora.

— Eu sei que gosta de mim, então por que está me fazendo sofrer tanto? — ela aumenta o tom da voz.

— Eu vou explicar tudo, na hora certa. Por favor, se acalme.

— E quando vai ser a hora certa? Não foi há quase sete anos e não foi em nenhum momento até agora — ela aumenta mais um pouco —, você está acabando comigo. Eu vejo como você me olha. Eu sinto o seu ciúme. É tão difícil admitir que você goste de mim?

— Eu não gosto de você, Serena. Eu te amo, droga — deixo sair, mais alto do que eu pretendia. — Nunca disse que não tenho sentimentos por você, mas nós dois não podemos ficar juntos.

— Por quê?

— Não quero falar disso com você aqui, no meio da rua, debaixo de chuva. Preciso te levar pra casa.

— Eu quero que me fale agora. Eu tenho o direito de saber, depois de tudo o que me fez passar.

Serena me encara aguardando a resposta.

Não consegui me concentrar no trabalho durante toda a semana. Serena estava estranha e me evitava como podia. Não tive oportunidades de conversar com ela.

Queria ficar feliz porque ela estava se dando bem com Edu, mas ao mesmo tempo sentia uma dor gigante no peito. Cada toque, cada risada e cada momento que ela dedicava a ele era exatamente o que queria para mim.

E ainda quero, mas não posso ter.

— Diga agora! — As lágrimas de Serena se unem as gotas da chuva. Seus olhos vermelhos imploram por respostas.

Eu não quero dizer. Isso vai destruí-la, como me destruiu. Como ainda me destrói. Contudo, ela tem razão. Serena merece saber e de um jeito ou de outro já está sofrendo.

— Serena, pelo que tudo indica, nós dois — eu respiro fundo, enxugando o rosto molhado pela chuva e por lágrimas —, somos irmãos.

[***]

Capítulo curtinho, eu sei!
É só pra dar uma liga na história.
Vou tentar postar mais essa semana!
Não me matem.
Esperto que estejam gostando!


Boa semana a todos.

Se estão curtindo, não esqueça de deixar seu voto e comente sobre o que esperam da história.

Beijos.


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