6 - Respirar (Serena)

58 9 17
                                    

Quase acerto a cabeça no volante. Que merda! Quem usava o celular antigo do Rick era o Edu? Isso não faz sentido. O que eu faço agora?

Conto até dez. Respiro, Inspiro. "Calma, Serena". "Calma". Faço tudo o que posso para diminuir minha crise de ansiedade. Que tal começar por ler as mensagens que escrevi pra ele durante todos esses anos? Péssima ideia. Sei que vou me arrepender. Vou deixar isso pra depois. Ainda bem que não me lembro de tudo o que disse quando ligava para esse número. Devo pedir desculpas pelos xingamentos?

Eu estou muito ferrada!

As batidinhas na janela do meu carro atrapalham o meu chilique.

Rick me observa do lado de fora, confuso.

Desço o vidro devagar, ajeitando o cabelo.

— O que aconteceu? Por que saiu correndo? — ele pergunta.

— Não saí correndo. Eu me despedi de você.

— Você disse: "Tenho que ir, tchau" e saiu correndo. Isso não é se despedir de maneira apropriada. Eu te magoei de novo? — Seu semblante triste e preocupado me deixa ainda mais confusa.

— Não tem nada a ver com você. É só uma dor de barriga. Isso! Estou com dor de estômago. Deve ser algo que comi. Ai! — reclamo levando a mão até a barriga. — Pode ser uma TPM também, já que está quase no meu ciclo. É coisa de mulher, melhor você ir pra casa. Não se preocupe, eu estou bem. Não é a primeira vez que tenho uma dor de barriga ou no estômago ou desejo arrancar meu útero fora.

Rick quase ri me encarando do lado de fora do carro.

— Abre a porta, Serena. Eu te conheço bem, sei que está mentindo. Você estava acertando a cabeça no volante agorinha, o máximo de dor que você deve estar sentindo é dor na testa.

Abro a porta deixando-o entrar, mesmo sabendo que é uma má ideia.

— Você sabe que fala muito quando fica ansiosa? Sempre fez isso. Até os 18 anos, pelo menos. Achei que talvez você tivesse mudado, mas algumas coisas nunca mudam.

— É verdade, meu estômago. Ai. — Meu tom soa tão falso que não consigo convencer nem a mim mesma.

Ele da uma risadinha sem graça.

— Não precisa me contar o porquê de você ter ficado estranha de repente, contanto que não seja por minha causa — diz baixando a cabeça e olhando para as mãos.

— Relaxa, não é por sua causa — afirmo tentando parecer o mais natural possível e falhando miseravelmente. Sou uma péssima mentirosa.

— Então é por causa do reencontro com Edu? — pergunta Rick me encarando.

— Só fiz algumas tolices, como sempre. Começando por entregar o cartão com meu número de telefone para ele.

Não é uma mentira.

— Você está solteira. Pode se relacionar com outras pessoas — comenta.

Posso. Menos com você, não é mesmo? – Penso. Queria ter coragem para dizer isso em voz alta.

— Sim, eu posso — afirmo. — Devo dar uma chance a ele? Eu tive muitos namorados e nenhum deles me elogiou da forma como ele fez hoje, devo me encontrar com ele e fazer dele o décimo terceiro? Não! Talvez eu deva namorar alguém aleatório antes, já que treze é um número que traz azar.

— Você só namorou os caras errados — diz desviando o olhar novamente.

— E onde é que eu encontro o cara certo? — pergunto. — Ah, é! Eu sou a terapeuta aqui. A famosa "terapeuta do amor", a que ajuda todos a se libertarem de um amor ruim e encontrar o verdadeiro.

Romântica (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora