12 - Preocupação (Ricardo)

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Encaro o teto, é a quarta vez que toca Speak Now da Taylor Swift no apartamento vizinho. Devo ter decorado as músicas dessa "play list", visto que já chegamos na última música novamente.

Eu me levanto ainda sonolento e nem me preocupo em pentear os cabelos ou calçar os chinelos. Toco a campainha do apartamento 215 e bato na porta até que ela atenda.

Serena abre assustada e arregala mais os olhos quando me vê.

— São duas horas da manhã, Serena — aviso.

— E daí? — ela pergunta.

— Está me torturando de propósito? Preciso dormir, ainda não terminei de fazer as fotos para o projeto no qual eu estou trabalhando.

— Ah, sinto muito — ela diz. Eu a conheço bem para afirmar que não, ela não sente nada. Está contente por me fazer sofrer. — Eu costumo dormir mais tarde. E gosto de ouvir música enquanto faço faxina — explica.

— Você faz faxina às duas horas da manhã? — pergunto incrédulo. — Não está conseguindo dormir?

— A faxina me ajuda a pensar no que preciso ou esquecer o que me atormenta — admite. — Vou desligar o som para não te atrapalhar.

— Você pode usar fones de ouvido — sugiro. — Ou talvez tomar um dos remédios que me passou e ir dormir. Está funcionando pra mim.

— Nenhum remédio funciona pra mim e já faz um tempo que não uso fones de ouvido. Como sou solteira e moro sozinha não tem mais ninguém que possa reclamar do que eu escuto. Pelo menos não tinha. Imagino que pra quem é casado deve ser mais difícil porque a pessoa pode não gostar das mesmas músicas. Ser uma pessoa casada deve ser difícil.

Eu não entendo o porquê de repente ela começar a falar coisas sem sentido.

— Você está pensando em se casar? — pergunto confuso.

— Eu? Não. Quem pensaria em casamento depois de uma semana de namoro? Ninguém! Um mês, dois meses, até cinco meses é um prazo muito curto para se pensar em casamento. Imagina, isso é algo muito sério. Casamento, tsc — ela diz e debocha, como se eu fosse o louco aqui. — Eu nunca me casaria com alguém depois de apenas cinco meses. É preciso conhecer bem a pessoa para depois se casar.

Ela parece aflita e nada faz sentido. Serena finalmente respira profundamente e fica em silêncio. Ela pisca algumas vezes e engole em seco.

— É, acho que você pode ter razão — afirmo, sem saber o que dizer.

— Não tenho? É lógico que eu tenho razão — ela ri enxugando as mãos na roupa.

— Você deveria dormir — aconselho, coçando a nuca. — Deixe pra escutar músicas amanhã. Não se esqueça de que agora você tem dois vizinhos.

— Não vou me esquecer.

Volto para meu apartamento e me deito novamente. O que é que se passa naquela cabecinha? Serena está agindo estranhamente desde a última vez que conversamos.

No início da semana, quando me viu, ela correu e entrou no apartamento, sem me cumprimentar.

Eu vi, quando na terça ela estava entrando no restaurante em que eu estava almoçando sozinho, virou as costas e saiu.

Na quarta, acenei para ela e Lena esperando que viessem me cumprimentar, mas elas me ignoraram fingindo não ter me visto. Eu nem sabia que Lena estava na cidade. Fiquei bem chateado.

Romântica (COMPLETO)Where stories live. Discover now