1 PT 1 - Quando tudo isso começou? (Serena)

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Alguns anos antes:

Eu odeio acordar e ter que ir a escola. O ensino médio é uma droga e eu não me encaixo em nenhum dos grupos idiotas que existem naquele lugar. As garotas populares só pensam em meninos, roupas caras e em manterem uma ridícula aparência de felicidade. Uma felicidade que certamente não existe. O grupo dos valentões me marcou para ser a vítima da vez, eu era a única feliz de verdade naquela bosta de lugar e pelo visto preciso ser punida por isso.

— Tira esses fones de ouvido. Depois que seu pai te deu essa coisa nem tem como conversar com você — grita minha mãe.

Eu retiro os fones e suspiro.

— Mãe, esse MP4 é a única motivação que eu tenho para terminar o ensino médio. Inclusive, mamãe querida, é o penúltimo ano. Todo mundo já tem um celular, eu sou a única que ainda não tem. A senhora podia considerar me dar um — peço, pela milésima vez, mesmo sabendo que ela não vai comprar.

— Sem chance. Não está na hora para mais uma atualização querida. Você já tem o computador e a internet que tanto queria, sinta-se satisfeita.

— Eu tentei! — exclamo colocando de volta os fones de ouvido.

— Não vai tomar café da manhã?

— Se eu comer qualquer coisa eu vou vomitar assim que chegar naquele lugar nojento — afirmo.

— É o segundo dia do penúltimo ano, fique contente — ela grita antes que eu saia.

É claro. Segundo dia de mais um ano inteiro de tortura. Antes eu tinha esperança, mas agora eu já desisti. São sempre os mesmos alunos, os mesmos grupos e o mesmo bullying de sempre.

Respiro fundo antes de entrar e enfrentar o segundo dia no inferno. Eu estou atrasada, esse corredor é imensamente largo, mas é claro que uma das bonitonas tinha que esbarrar em mim e derrubar todas as minhas coisas. Eu já nem espero um pedido de desculpas, acho que me acostumei com a situação patética em que vivo. Ela me olha e abre um sorrisinho irritante antes de rir com as amigas. Danielle consegue ser uma otária na maior parte do tempo e ainda se orgulhar disso. Sinto inveja, queria ter essa autoestima.

— Deixa que eu te ajude com isso — diz um garoto já recolhendo a maior parte dos meus livros.

Eu diria que isso é o clichê perfeito se não soubesse que as coisas que há nos livros e filmes não acontecem na vida real. Aqui, nessa situação, é só um garoto legal me ajudando a me sentir ainda mais idiota.

— Nunca te vi por aqui, mas já vou avisando, se escolher me ajudar vai criar um problema para si mesmo — afirmo, mas ele me ignora.

Querido John! — Ele lê a capa do meu livro. — Gosta de Nicholas Sparks?

— É o meu livro favorito no momento — respondo. — Você gosta?

— Eu não leio muito, mas eu já li "Um amor para recordar" — diz. — A propósito, eu sou o John. — Ele estende a mão e eu dou risada.

— É sério? Você tá brincando né? Veio de onde? Da Inglaterra?

— Eu não estou brincando. É que a minha mãe é fã do John Lennon. Eu vim do bairro vizinho — ele responde rindo.

— Seja bem vindo John. Essa escola é uma merda e as pessoas são orgulhosas. Você pode odiar ou amar, isso depende de com quem você conversa, então para o seu bem, eu o aconselho a ficar longe de mim ou você pode se sentar num alfinete amanhã.

— Relaxa! Eu já fui até preso no banheiro. Acho que dou conta.

— Obrigada por me ajudar — digo saindo de perto dele. Ele não está me entendendo. Ficar perto de mim é suicídio social.

Romântica (COMPLETO)Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon