17 de dezembro, 2018 - Segunda (10h36) → 1 de 3

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Bom, voltando ao relato... Esses dias tem sido bom ficar só com o Nicolas à noite. E combinamos que um pouco antes de dormir ficaríamos ambos sentados na sacada do quarto, contando um para o outro os pensamentos mais obscuros que tivemos no dia. Ou em tempos passados, não importa. A intenção é se abrir com isso para alguém que possa dar uma resposta imediata. Para me acostumar com a ideia de... sabe? De ver um psicólogo.

Ainda tenho uma espécie de tabu dentro de mim quando falo nisso, amiga. É complicado.

Enfim. Durante essas noites, sou praticamente o único que fala. O Nicolas ouve com toda a atenção do mundo. Às vezes dá a impressão que ele nem pisca. Falei sobre o motivo de eu me machucar, para tentar dar vazão à dor emocional que sinto. Ele me perguntou:

"E por acaso adianta? Quando você se machuca, a dor que sente no peito diminui?"

Demorei um tempo para responder, mas não por não saber a resposta. É por estar com vergonha dela. Eu estava sentado no chão, de pernas cruzadas. Mexia nos dedos do meu pé pois não sabia o que fazer com as mãos. Ele não insistiu na pergunta, mas respondi com a cabeça o óbvio: não.

Afinal, é verdade. Nessa noite, com a pergunta simples do Nicolas, consegui finalmente retornar a esses momentos com um pouco mais de equilíbrio. Quando eu faço esses relatos para você, minha memória visita esses momentos ainda com um resquício da dor que eu havia sentido (afinal, ao lhe contar eu meio que revivo tudo sem filtro – como foi minha promessa desde o início desse diário). Mas ao ouvir a pergunta do Nicolas, voltei apenas ao ponto específico do motivo de eu me ferir.

Amiga... Fiquei um pouco surpreso ao perceber que, de todas as vezes que cometi o autoflagelo, em nenhuma delas me senti melhor. Na verdade, foi bem o contrário. Eu piorava, pois começava a emanar uma onda de ódio contra mim mesmo. O e-mail anterior, que lhe enviei, é uma prova. Só de escrever aquilo eu estava sentindo raiva de mim.

Eu comentei isso tudo com o Nicolas, que me perguntou outra coisa:

"Então você não se fere para sobrepor a dor do sentimento. Você faz isso para se punir... Não é?"

Isso não era nenhuma novidade, então movi a cabeça positivamente sem muita emoção.

"Por que, Zak?"

Ele estava muito triste quando perguntou isso. Ainda na cadeira de rodas, se inclinou para mim, que estava no chão, e acariciou meu queixo. Inclinei a cabeça na direção da mão dele, aceitando o gesto com o peito ardendo.

"Para eu aprender a não ser idiota, e não fazer de novo o que quer que seja o erro que eu tenha cometido."

"Não acho que se punir por um erro vá ensinar a não repeti-lo. Aliás... Você acha que funcionou, em alguma das vezes?"

A resposta era óbvia, mais uma vez.

"Não", falei, quase sem voz. Ele ficou quieto, então fui dando continuidade a essa linha de pensamento: "Nunca adiantou para sobrepor a dor que eu sentia no peito, e nunca serviu para eu aprender a não errar de novo. Então..."

"Então?", incentivou ele.

"Acho que eu só faço aquilo para descontar a raiva que sinto de mim mesmo. No fim das contas é apenas isso. Eu sinto raiva de mim. Eu meio que... Me odeio."

Ele deu um impulso numa das rodas e girou a cadeira para ficar de frente para mim.

"Zak, como pode falar com tanta facilidade que odeia o homem que eu amo?"

A voz dele não tinha tom de bronca. Foi gentil, suave, e cheia de algo que preencheu meu peito de um sentimento bom e ao mesmo tempo doloroso. Meus olhos lacrimejaram, e eu sorri de leve.

O Monotono Diario de Isaac [BETA]On viuen les histories. Descobreix ara