CAPÍTULO 6

361 124 55
                                    

A rotina diária do trabalho do Sr. Prior é acordar às 7:00 e sair de casa às 8:00 e em menos de 30 minutos chegamos na empresa.

Assim que acordei de manhã na terça, me apressei em vestir as roupas que separei com Berta no dia anterior e parecer apresentável. A governanta me ajudou com um pequeno toque na maquiagem, apenas rímel, blush e batom claro, e depois fomos até a cozinha tomar café da manhã.

O Sr. Prior já estava sentado à mesa, lendo um jornal e tomando uma xícara de café. Assim que me viu, me olhou de cima a baixo e voltou a comer. Mesmo com essa reação, eu não conseguia fazer meu coração se acalmar ao vê-lo depois da noite anterior.

Me lembro claramente do toque gentil dele no meu cabelo, o jeito como me olhava e o seu sorriso. Essa última parte ainda me fazia corar só de relembrar. Não foi nada de mais, sei que não, pois preciso me convencer de que o calor que sinto agora, ao me sentar ao lado dele, é apenas por causa do tempo quente.

— Bom dia. — falo, pegando a xícara de café que Berta me oferece.

— Bom dia. — responde ele, ainda encarando o jornal.

Olho disfarçadamente na sua direção, percebendo que está usando um terno preto e uma gravata azul está solta ao redor do pescoço, o cabelo está molhado e algumas poucas mechas ainda gotejam na sua camisa.

— Você quer ajuda com a gravata? — pergunta Berta, se sentando na minha frente.

— Pode deixar comigo. — responde, terminado o resto do café e se levantando, olhando para mim. — Não demore.

— Sim, senhor. — respondo, me apressando.

Depois que termino de comer, o Sr. Prior ainda não saiu de dentro do quarto e só nos restam apenas 10 minutos para sairmos.

Caminho até a porta do quarto dele e bato levemente, entrando logo em seguida quando ouço a voz dele permitir que eu abra a porta. O encontro parado em frente a um espelho acoplado a porta do guarda-roupa, olhando entre o computador em cima da cama e de volta para o espelho, enquanto tenta arrumar a gravata.

— Sr. Prior? — pergunto, me aproximando, tentando não encarar cada canto do quarto dele. — Já estou pronta.

— Já vai. — sussurra, mais para si mesmo, ainda tentando dar um nó. — Merda.

Reprimo um sorriso ao ouvir ele dizer um palavrão.

— Precisa de ajuda? — pergunto, me aproximando e vendo qual vídeo que está passando na tela do computador. Há um homem mais velho do outro lado explicando como se faz um nó.

— Eu consigo. — ele se encara no espelho de novo e depois a mim, quando eu ainda estou observando todo o esforço dele. — Você não sabe fazer isso, sabe?

— Não, mas posso aprender. — respondo, olhando para o computador.

O Sr. Prior suspira, larga a gravata ao redor do pescoço irritado e fica de frente para mim. Me aproximo dele, intercalando minha atenção da tela para o homem na minha frente, enquanto tento me concentrar em não olhar direto nos olhos do meu chefe e não corar ao me deparar com o fato do quão próximo estamos.

Termino de dar a última volta com a gravata, finalizando o nó, e aliso levemente o tecido azul com meus dedos.

— Prontinho. — digo sorrindo, orgulhosa do meu trabalho.

— Obrigado. — agradece ele, sem olhar para mim também.

— Vou estar esperando lá fora. — mantenho minha cabeça baixa, tentando não mostrar meu rosto vermelho.

Depois da cor normal voltar às minhas bochechas, o Sr. Prior sai do quarto e nós vamos para o trabalho. Ao sair do elevador, encontramos Michael nos esperando na garagem e logo partimos.

Remexo nervosa o zíper da bolsa que Berta me deu, para que eu possa levar meus pertences ou qualquer outra coisa do trabalho. Meu celular e uma folha de papel são as únicas coisas que estão dentro. Chegamos poucos minutos depois, pois o caminho do prédio até a empresa não é longo. Michael abre a porta para o Sr. Prior, enquanto eu respiro fundo ainda dentro do carro, tentando manter a calma.

Conto até cinco e saio, me equilibrando no salto.

— Bom dia, senhorita Emily. — cumprimenta Michael, sorrindo, e retribuo.

— Bom dia, Michael.

— Você está muito bonita. — fala. — Boa sorte hoje.

— Obrigado. — agradeço, e começo a seguir o Sr. Prior para dentro do prédio. — Tenha um bom dia.

Aceno rapidamente para Michael e começo a caminhar mais rápido para alcançar meu chefe.

Há um homem parado ao lado das portas que as abrem para nós quando passamos e nos cumprimenta quando entramos. A recepção é um espaço grande com uma bancada, onde uma mulher bem arrumada está sentada atrás dele mexendo no computador. Ela está bem vestida como qualquer outra pessoa aqui presente.

Sigo o Sr. Prior até o fundo do lugar, parando em frente à dois elevadores com as portas fechadas. Mais pessoas estão esperando e elas acenam na nossa direção quando paramos ao lado delas.

Aceno rapidamente de volta, segurando com força minha bolsa.

— Vamos. — fala o Sr. Prior, entrando no elevador quando as portas se abrem.

Apenas nós dois entramos, as outras pessoas ainda esperam pelo segundo. Meu chefe parece não notar e se nota, não se importa.

Assim, ele aperta o botão para o penúltimo andar e nós subimos.

Quando nós saímos novamente, observo com curiosidade as duas mesas, uma de frente para a outra, onde há uma garota já sentada ocupando a mesa da esquerda. Um pequeno corredor leva a uma sala à esquerda e uma porta está fechada ao lado da direita. O lugar tem uma cor suave e a decoração é leve.

A garota se levanta e caminha na nossa direção, sorrindo. Ela é bonita e está vestida com uma calça de couro, uma blusa de manga curta e saltos. Ela tem cabelos morenos longos e ondulados, olhos castanhos e está usando batom vermelho.

Percebo o quão linda ela é com o formato oval do rosto, enquanto o meu é quadrado, e as sobrancelhas mais grossas.

— Bom dia, Sr. Prior. — fala ela.

— Bom dia, Jessy.

Jessy?

Jessy, a secretaria que o Sr. Prior disse que vai demitir?

Ela vira a atenção na minha direção.

— Oi, sou a Jessy. — fala, estendendo a mão para me cumprimentar.

— Sou a Emily. — digo, apertando de volta.

Ela sorri, mas há algo errado na expressão do seu rosto. Seus olhos me examinam de cima a baixo e depois sorri mais um pouco, tentando disfarçar o que acabou de fazer.

— Emily é a nossa nova secretária. — fala o Sr. Prior ao meu lado, com as mãos nos bolsos da calça.

Jessy parece ficar em choque, encarando ele com os olhos arregalados e a boca meio aberta, como se quisesse discutir algo, mas não pudesse.

— Ah... — sussurra, sorrindo sem graça e se virando para me olhar, tentando mostrar ainda o seu jeito gentil e simpático. — Seja bem-vinda, então, a Empresa Prior.

— Obrigado. — agradeço, ao mesmo tempo em que a culpa começa a me consumir.

— Farei o pedido do meu almoço e de Emily às 13:00. — fala o Sr. Prior, caminhando até o corredor.

— Perdão? — pergunta Jessy, se virando confusa para olhá-lo.

— Meu almoço. — repete, também se virando. — Você vai ficar encarregada disso.

— Mas as tarefas? — começa ela, parecendo mais agitada. — As reuniões? As...

— Emily vai cuidar disso. — responde, a encarando de volta e depois a mim. — Vamos.

— Sim, senhor. — sussurro, caminhando até o lado dele.

Tento não olhar para trás, para Jessy, sabendo muito bem que arrumei uma inimiga.

O Sr. Prior abre a porta da esquerda, revelando um escritório muito parecido com o dele no apartamento. Esse também tem uma pintura escura e a decoração são as estantes de livros, mas a mesa daqui parece ser ainda maior. À nossa direita está a vista para a cidade, que já está sendo banhada pela luz do sol.

Me viro discretamente, olhando pelo vidro perto da porta que dá a visão da mesa de Jessy, que pode ser coberta pela persiana. A garota está caminhando lentamente até a cadeira, enquanto encara o chão de cabeça baixa.

Meu coração se aperta com a visão.

— Senhor? — chamo.

Erick está tirando o paletó e o colocando pendurado em um cabide perto da mesa.

— Sim? — responde, sem me olhar.

— Jessy já seria demitida se eu não estivesse aqui?

Ele para por um momento, apoia as mãos nas costas da cadeira e me encara, respirando fundo.

— Posso saber o motivo da pergunta?

— Eu roubei o emprego dela? — pergunto de novo, apertando a alça da bolsa.

— É isso que te preocupa? — questiona, mas não respondo. Ele suspira, colocando as mãos no bolso novamente, e sai de trás da mesa. — Não, você não roubou o emprego dela. Jessy seria demitida de uma maneira ou de outra.

— Berta disse que ela trabalha há muito tempo para o senhor. — comento, mantendo a cabeça baixa e encarando meus dedos do pé.

— Sim, e daí? — diz, dando de ombros.

— Então, por que agora?

— Você precisa entender que com você ou sem, ela seria mandada embora do mesmo jeito. Você só deu sorte de ser contratada. — responde. — Depois de muito tempo em uma empresa, alguns empregados começam a achar que podem relaxar, mas não é assim. — franzo o cenho, erguendo minha cabeça para poder olhá-lo, enquanto ele continua a explicar. — Eu já planejava isso a muito tempo, só precisava de alguém experiente para ficar no lugar dela e eu encontrei você.

Desvio o olhar, tentando não corar ao ouvir essas palavras.

— Ok. — sussurro.

— Mais uma coisa. — fala o Sr. Prior, chamando minha atenção. — Mantenha sempre sua cabeça erguida quando caminhar por essa empresa. Você é uma novata e é tímida, alguns funcionários podem se aproveitar de você.

— Se aproveitar? — pergunto, sentindo meu coração começar a acelerar.

Meu chefe parece ter notado meu estado e a escolha errada de palavras que usou.

— Eu não quis dizer isso. — fala, rapidamente se aproximando de mim e engolindo em seco. — Eu quis dizer que por você ser a minha secretária e ser tímida, eles podem tentar tirar algumas informações de você.

— Ah. — sussurro, tentando me acalmar para que minhas mãos parem de tremer.

— Se algum dia alguém dentro dessa empresa fazer algo contra você, eu me livro dele. — fala para mim, depois sorri e se vira para visão da cidade.

Acho que isso era para me reconfortar, mas não me sinto confortável quando sei que pessoas estão se machucando por minha causa, mesmo que sejam pessoas iguais a Philip.

Ouço o Sr. Prior suspirar.

— Você fez a agenda de tarefas que eu pedi? — pergunta.

— Sim, senhor. — respondo, tentando tirar as palavras dele da minha mente. Abro a bolsa e tiro a folha em que anotei os horários das tarefas dele. — Aqui.

O Sr. Prior pega o papel da minha mão e a examina com cuidado, se sentando na cadeira lentamente.

Depois de jantarmos ontem, ele me passou as anotações de tarefas de quando era Jessy que fazia, me mostrando qual o exemplo que devo começar a seguir. Em seguida, me entregou uma agenda, que era de Jessy também, onde continha todas as reuniões e tarefas importantes dele que estavam marcadas para esse mês. Levei tudo para o meu quarto e comecei a trabalhar nelas, preparando a agenda do Sr. Prior para hoje. Mas mesmo sabendo que dei o meu melhor, que usei outras referências, o medo de tudo ali estar errado e de ter feito uma grande burrada me faz tremer da cabeça aos pés de ansiedade.

— Terei outra reunião com Dominico hoje? — resmunga, para si mesmo. — Ele não desiste nunca.

— Tem algo mais que o senhor quer que eu faça? — pergunto.

Ele ergue o olhar, parecendo esquecer por um momento de que eu estava ali, e responde:

— É só isso por enquanto. — e volta a encarar a anotação.

Curvo a cabeça ligeiramente, mantendo as mãos em frente ao corpo.

— Com licença. — peço, abrindo a porta e saindo.

Caminho de volta até a entrada e observo quando Jessy se aproxima.

— O Sr. Prior pediu para que eu lhe ensinasse a usar o telefone. — fala, indicando com a mão à mesa atrás de mim.

— Ok. — sussurro, sem graça, enquanto me sento.

Jessy fica à minha frente e me mostra como devo atender a uma ligação do escritório ou como fazer uma para ele. Depois disso, ela se senta de volta no seu lugar, mexendo no computador e escrevendo algo no teclado rapidamente.

Olho dela para o aparelho ao meu lado, sem entender o que devo fazer agora. Talvez eu tenha que escrever um relatório ou sobre como será o dia hoje. Ou responder alguém que queira falar com o Sr. Prior sobre a reunião.

Começo a me sentir ansiosa de novo e chego a me assustar quando o telefone toca do meu outro lado, indicando uma chamada do escritório do meu chefe.

Respiro fundo e atendo.

— Sim? — pergunto, e observo quando Jessy desvia o olhar da tela para me observar.

— O que você está fazendo? — questiona o Sr. Prior, parecendo estar sorrindo.

— Eu não sei. — sussurro, olhando para a sala dele e o vendo, através de uma fresta do vidro, parado em frente à mesa e me encarando também.

Observo quando ele abaixa a cabeça e ri, fazendo meu rosto ficar vermelho, e só então percebo a frequência com que isso acontece quando estou perto dele.

— A reunião é as 9:00, certo? — pergunta.

— Certo.

— Ligue para todos que marcaram presença e confirme se virão.

— Sim, senhor. — falo, observando quando ele dá um sorrisinho.

— Era só isso. — diz, desligando logo em seguida, mas ainda se mantendo em pé em frente à mesa, me encarando.

Coloco o telefone de volta no gancho e me concentro em começar a fazer o meu trabalho.

Meus quatro dias de trabalho na empresa foram seguidos de tarefas fáceis. Conheci algumas pessoas novas e fiz mais alguns inimigos. Jessy não fala muito comigo, apenas quando me passa algum recado do Sr. Prior ou quando me pergunta o que quero almoçar. Sei que agora não há volta para o nosso começo horrível, mas queria poder fazer uma boa amizade com ela. Jessy parece ser uma ótima pessoa e me dói saber que ela nem teve chance de me julgar em uma situação normal quando nos conhecemos. Sem falar que Berta parece gostar dela, mas ainda não sei o motivo. Talvez o Sr. Prior e ela tenham namorado alguma vez e ele a levou para o apartamento.

Suspiro preguiçosamente, batendo distraidamente com o lápis no caderno.

Preciso pensar em uma maneira de me redimir com ela, talvez haja ainda uma chance de sermos amigas, e preciso pensar em algo que eu possa fazer para o Sr. Prior também para mostrar o quanto sou grata.

Olho para o escritório dele, o observando através da fresta que não está coberta pela persiana. Ele está sem o paletó, que sempre pendura no cabide quando chega, e está passando a mão pelo cabelo, parecendo estressado, enquanto fala ao telefone. Ele desliga e encara o aparelho por alguns segundos, antes de se virar na minha direção.

Me viro na mesma hora, fingindo mexer no computador.

Não demora para o telefone ao meu lado tocar.

— Sim? — atendo, esperando ouvir um tom de voz irritado do meu chefe.

— No meu escritório. — fala, para desligar logo em seguida.

Fecho os olhos com força, mordendo os lábios e respirando fundo.

Quando me levanto e passo pela mesa de Jessy, penso até em me despedir dela e dizer que agora nunca mais vai ter que olhar na minha cara.

Serei demitida.

Serei demitida.

Serei demitida.

É a única coisa que se passa pela minha cabeça enquanto abro a porta dos escritório e paro em frente à mesa do meu chefe.

— Você já viu os dados da reunião de hoje? — o Sr. Prior está recostado contra a cadeira e com os dedos cruzados sobre o colo.

— Sim, senhor. — respondo, o mais confiante possível. — Eu já os imprimi, estão sobre a minha mesa.

Ele balança a cabeça.

— A reunião é às 17:00, quero você me esperando do lado de fora do escritório um pouco antes.

— Vou avisar a Jessy.

— Ela não precisa estar lá.

— Mas...

— O que é discutido na reunião não é mais problema dela, é seu agora.

Hesito.

— Ok. — sussurro.

— Boa sorte hoje. — deseja e logo em seguida me indica a porta, me liberando.

Curvo minha cabeça rapidamente antes de sair.

Caminho até minha mesa novamente, sentindo meu coração que estava calmo acelerar ao ver Jessy.

Respiro fundo, apoiando minha cabeça entre as mãos.

Apesar de ser um ótimo trabalho, me sinto péssima toda vez que lembro que um dia chegarei ao escritório e Jessy não vai mais estar aqui. Mesmo que o Sr. Prior me garanta que iria demiti-la de qualquer maneira se não tivesse me encontrado, não me conforta como eu gostaria. Além do mais, além de não bastar ter pegado o papel como secretária que pertencia a Jessy a muito tempo, tirei a atenção do Sr. Prior dela, porque é fácil perceber o que ela sente por ele.

Sempre que Erick chega na empresa, Jessy o recebe com um cappuccino quente e uma rosquinha, a favorita dele, segundo ela. Toda vez que ele me chama no telefone, ela tira imediatamente a atenção de qualquer coisa que esteja fazendo para me observar.

Tento me distrair vendo as anotações novamente, percebendo que isso não vai me levar a lugar nenhum.

Não sei por qual motivo, mas uma lembrança minha e de Gabriel retorna a minha mente.

Sorrio, sentindo a saudade voltar.

Nós estávamos sentados na calçada em frente à minha casa e eu estava segurando minhas anotações e mostrando a ele. Gabriel apenas me olhava quando tentava explicar que eu adorava anotar tudo isso, mesmo quando não entendia nada.

No decorrer dessa semana, tentei não pensar muito em casa. Pensar em minha mãe e em Gabriel me faz querer chorar e voltar correndo para casa, mesmo que isso signifique voltar para aquele lugar horrível. Minha mãe já deve ter notado minha ausência durante essa semana e com certeza a de Philip, mas, mesmo que ela quisesse, não poderia fazer nada para me achar. Gabriel também não e é melhor que me esqueça. Sou declarada uma fugitiva de acordo com o chefe da nossa rua e da boate e quem quer que se envolva comigo será punido.

Eu queria apenas poder desejar um último feliz aniversário a Gabriel.

Olho para o calendário ao lado do telefone.

O aniversário dele é hoje e o meu daqui a três dias.

Sorrio ao lembrar que ainda tenho a nota de cinco pratas que ele me entregou da nossa carteira falsa. Se eu pudesse dar algum presente para Gabriel, guardaria uma grande parte do meu salário e daria a ele, daria uma chance para que pudesse sair daquele lugar e levar seus irmãos o mais longe possível e começar uma nova vida, porque eu sei que Gabriel não vai aceitar se for apenas para ele ir embora. Gabriel jamais deixaria sua família para trás.

A distração para não pensar em coisas ruins não está funcionando, todos os números que estou encarando não fazem sentido.

Vejo as horas se passarem enquanto tento trazer a mim mesma de volta a realidade e me preparar para a reunião.

Hoje estou usando uma calça de couro e blusa longa cor de vinho e começo a desconfiar que foi uma péssima escolha quando começo a transpirar de nervosismo. Os dedinhos do meu pé estão escorrendo no salto e tenho medo de ter que apertar a mão de alguém quando entrar na sala e eles sentirem a palma da minha mão úmida.

Meia hora antes da reunião, as pessoas que marcaram presença começam a sair do elevador e caminham até a sala. Percebo, com medo, que todos são homens.

Me apresso e saio por um momento para ir ao banheiro, que fica ao lado da minha mesa, para poder jogar um pouco de água no rosto. Volto logo em seguida, arrumando os papéis dentro da pasta que levarei comigo.

— O que está fazendo? — pergunta Jessy, e só noto agora que ela está parada ao meu lado, me observando.

Engulo em seco, percebendo que uma hora ou outro isso iria acontecer.

Não contei a Jessy o que o Sr. Prior disse, ela já tem muita raiva acumulada de mim e não quero que me mate antes da reunião acontecer.

— Arrumando os papéis para o Sr. Prior. — respondo.

— Já estão aqui. — ela ergue um amontoado de folhas que está carregando nas mãos, que, parando para observar, não estão tremendo e suando iguais às minhas.

— Eu... ahn... — sussurro, tentando pensar em algo. — O Sr. Prior me mandou ir sozinha, para ver como vou me sair.

Eu espero, torcendo para que ela caia nessa desculpa e tento decifrar qual é a reação dela.

Primeiro Jessy me encara, depois olha para as folhas que estão nas suas mãos e em seguida para trás, para o escritório do Sr. Prior.

— Entendo. — ela suspira, jogando uma mecha do cabelo cacheado sobre o ombro. — Achou melhor eu não estar lá pra não atrapalhar você enquanto baba pelo Erick?

A encaro.

— O quê?

Ela ri.

— Você não disfarça muito bem. — fala, e se aproxima ainda mais. — Você olha pra ele o tempo todo quando está no escritório, sem falar que se derrete toda quando Erick te chama.

Fico paralisada ao ouvir ela falar isso tudo na minha cara.

Não havia percebido que olhava tanto para o Sr. Prior, mas apenas isso também não quer dizer que eu gosto dele, ainda mais quando sei que ela gosta.

— Jessy, eu não sei do que você está falando, mas não é nada disso. — falo, esperando esclarecer as coisas.

— É, claro que não. — resmunga, para em seguida arrancar a pasta das minhas mãos. Ela joga os papéis que antes estava segurando em cima da mesa e olha as minhas anotações. — Como você sabe isso tudo? Porque é óbvio que você não fez uma faculdade.

— Não tem como você saber. — falo, tremendo.

— Talvez, mas eu tenho certeza de que estaria trabalhando em uma sala própria do que como secretária de alguém.

— Você não sabe. — sussurro, perdendo a coragem conforme ela me encara com ainda mais raiva.

— Tenho certeza que Erick te acolheu de alguma zona, igual fez com aquele motorista dele. — ouço o tom rancoroso e debochado na voz dela. Não me importo que me insulte, mas Michael não tem nada a ver com isso. — Mas não foi só por isso, não é? O que precisou fazer?

— O quê? — ela está me deixando confusa.

— Pode me dizer, está tudo bem. — a vejo sorrir ainda mais. — Com quem você teve que dormir pra entrar aqui?

— O quê? — repito, dessa vez mais alto.

Sempre tentei não me importar com o que as pessoas falavam de mim, mas ver Jessy falar dessa maneira, quando sei que estou aqui porque o Sr. Prior viu potencial em mim, faz com que eu sinta mais tristeza do que raiva. Mesmo que eu estivesse na pior fossa da minha vida, jamais faria algo desse tipo.

— Jessy, pare, por favor. — peço, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.

— Ah, meu Deus, você fez isso mesmo. — ela ri.

Torço para que ninguém na sala de reuniões consiga ouvir o que está acontecendo aqui, pois iria chatear muito o Sr. Prior.

Cruzo os braços e respiro fundo, tentando não chorar.

— Jessy... — chamo, mas ela me interrompe.

— Agora eu vou te dizer o que você vai fazer. — fala, ficando séria e apontando com a pasta na minha direção. — Fique trancada dentro desse banheiro até a reunião acabar e só saia quando eu voltar. Vou dizer a Erick que está passando mal, entendido?

— Eu preciso ir pra reunião, o Sr. Prior está me esperando. — digo, mas minha voz está saindo tão baixa que acho que ela não está ouvindo.

— Você não vai, eu que vou. — ela pega de volta os papéis que eram dela e as empurra contra o meu peito. — Faça bom proveito.

Não tenho tempo de argumentar, pois ela se vira para ir em direção à sala. Quando para em frente à porta, me vê ainda parada e aponta para o banheiro.

Estou dividida em fazer o que Jessy mandou ou participar da reunião de qualquer maneira. Mas, por mais que eu não consiga, não posso me deixar levar para o lado pessoal, preciso pensar na empresa agora

Se eu entrar de qualquer maneira lá, o Sr. Prior não vai entender nada e irei arruinar tudo, chamando a atenção dos homens na sala.

Respiro fundo, apertando com força as folhas que estou segurando, e caminho até o banheiro.

Uma Nova Chance Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang