CAPÍTULO 28

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— O que está acontecendo? — questiona Leonard, surpreso, enquanto olha para a dúzia de polícias apontando as armas na direção dele.

— Vire-se e coloque as mãos atrás das costas. — ordena um dos policiais, dando um passo para perto dele.

— Vocês não podem fazer isso comigo. — fala, ficando irritado. — Vocês idiotas sabem que eu sou?

— Não se mexa! — ordena o policial, com um tom de voz mais alto.

Leonard olha para ele e depois se vira para mim, que estou de pé observando a situação com uma das mãos no meu pescoço dolorido.

— Foi você de novo, não foi? — quase posso ver ele salivar de raiva. — Você e aquele imbecil!

Entro em choque quando vejo ele dar um passo rápido na minha direção e tudo que consigo pensar é nele tentando me matar novamente. Por sorte, o policial que está ao lado de Leonard o derruba rapidamente no chão, pressionando um dos joelhos nas costas dele, enquanto o algema.

— Por aqui, senhorita. — outro policial que está parado na porta se aproxima e me puxa pelo braço, me tirando de dentro do quarto.

No andar de baixo, observo alguns policiais bloqueando o caminho das pessoas para não subirem as escadas e também mais um homem uniformizado a minha direita, que está tentando impedir Jessy de passar por ele.

Meus olhos encontram os de Gabriel logo atrás dela, que está observando a confusão, e me vê parada em frente a porta. Quando dá um passo à frente, parecendo notar o meu estado, ouço a voz de Erick atrás de mim.

— Emily.

Me viro e o vejo subir as escadas, correndo até a minha direção preocupado.

Um sorriso de alívio se espalha pelo meu rosto e vou em sua direção, sendo recebida pelos braços quentes de Erick que me envolvem em um abraço apertado.

— Você está bem? — sussurra contra o meu ouvido, e solto um suspiro de alívio.

— Estou. — sorrio, enquanto me afasto, mesmo que eu esteja a ponto de chorar. — Nós conseguimos.

— Conseguimos. — ele também sorri, para em seguida depositar um beijo longo e demorado em meus lábios.

Erick e eu nos viramos quando ouvimos um homem pedir para que a gente libere o caminho e encontramos Leonard sendo carregado por dois policiais. A expressão dele ainda está carregada de ódio e raiva e isso parece piorar quando passa por nós.

— Isso não vai me impedir, Erick. — provoca ele.

Meu sangue parece congelar quando Leonard me encara e consegue sorrir de um jeito provocativo.

Erick parece perceber e me puxa de novo para um abraço.

Quando encosto minha cabeça contra o seu peito, percebo que está quase tão nervoso e agitado quanto eu.

— Vocês não podem fazer isso! — Jessy segue o pai escadaria abaixo, com Karen logo atrás.

Alguns policiais tentam argumentar com elas, que estão gesticulando freneticamente e parecem a ponto de chorar.

— Então. — começa Gabriel, se aproximando. — Nós conseguimos?

Me viro para olhá-lo e sorrio.

— Conseguimos.

— Agora só precisamos aguentar a fúria de Jessy e sua mãe. — responde Erick, olhando para as duas lá embaixo.

Olho por cima dos ombros de Gabriel e encontro Dylan parado perto do corrimão, olhando para a confusão que está acontecendo. Ao contrário da sua irmã e da sua mãe, ele está observando tudo com calma e não parece se abalar em nenhum momento, nem mesmo quando Karen começa a chorar.

Me afasto de Erick e caminho até ele. Dylan está tão absorto que só parece notar que sou eu quando paro na sua frente.

— Você está bem? — pergunto, preocupada quando não o vejo demonstrar emoção.

— Não imaginei que veria esse dia chegar tão cedo. — admite, e observamos Leonard ser carregado para fora do hotel.

— Eu sinto muito.

— Não sinta. — ele sorri de um jeito triste, e me sinto ainda pior. — Por mais que ele seja meu pai, só quero que ele pague por tudo que fez.

— Então, você já sabia? — questiono, me apoiando no corrimão.

— Não se chega ao topo sem se desviar desse caminho de vez em quando. — fala, e suspira.

Coloco uma mão em seu ombro, em forma de apoio, e um sorriso mais espontâneo surge em seu rosto.

— Dylan, arrume suas malas. — fala Karen, se aproximando a passos largos. — Nós vamos voltar pra casa agora.

— Sim, mãe. — concorda ele, voltando ao comportamento de antes.

— Não quero você perto dessa garota, está me entendendo? — Karen aperta o braço de Dylan com força enquanto o carrega com ela até o seu quarto.

Ele me olha por uma última vez antes de Karen bater a porta e os dois desaparecerem lá dentro.

Quando me viro para voltar para Erick, dou de cara com Jessy.

— Fique longe do meu irmão. — avisa, me olhando de cima a baixo e esbarrando no meu ombro ao entrar no seu próprio quarto.

Tento não revirar os olhos ao ouvir seu tom mandão e o comportamento igual ao da mãe, e caminho até ficar ao lado de Erick.

Ele sorri e pega a minha mão, enquanto Gabriel vira o rosto.

— Como está o Dylan? — pergunta meu melhor amigo.

— Não tenho certeza. — respondo.

— Ele vai ficar bem. — interrompe Erick. — Dylan é o único que sempre soube dos podres do pai, já deve ter imaginado esse dia milhares de vezes.

Apoio minha cabeça no seu ombro ao lembrar do olhar dele ao observar o pai ser carregado pelos policiais e o tom quase frio ao falar comigo.

— Vamos embora depois que os Clifford se forem. — fala Erick, depois de um minuto de silêncio. — Não vamos querer voltar no mesmo voo que eles.

— Nisso eu tenho que concordar. — fala Gabriel. — Vou arrumar a minha mala.

Ele se retira em seguida e Erick e eu o observamos entrar no quarto. Logo, a comoção no andar de baixo chama a nossa atenção e nós observamos a multidão curiosa se dissipar, indo embora com o resto dos policiais.

— Deixa eu ver isso. — pede Erick, erguendo meu queixo gentilmente e virando meu rosto.

— Eu estou bem, não se preocupe. — falo, o tranquilizando.

— Eu pedi pra que você saísse de lá, Emily. — Erick franze os lábios, tentando parecer brabo, mas sei que está preocupado.

— Leonard estava me prendendo contra a cama, eu não conseguia sequer me mexer. — explico, e o vejo se assustar ainda mais. — E mesmo que eu pudesse, iria com isso até o fim.

Ele fecha os olhos e respira fundo, desviando o olhar do meu. Suas mãos descem até as minhas e ele as segura com força, gentilmente acariciando minha pele em pequenos círculos consecutivos.

— Me perdoe ter pedido algo assim pra você fazer.

— Eu faria mesmo que você não tivesse me pedido. — envolvo a cintura dele com os meus braços e me aconchego para perto do seu corpo. — E valeu a pena, não foi? Nos livramos dele. — ele acena levemente com a cabeça. — Nós só temos que nos preocupar com Thomas agora.

— E Jessy. — completa ele, olhando por cima do meu ombro.

Me viro rapidamente, sem querer sair dos seus braços, e observo enquanto Jessy sai do quarto com a mala que trouxe. Ela para assim que nos vê, sua testa formando vínculos profundos e seus olhos demonstrando clara irritação e ódio.

— Bom saber que estão aproveitando. — fala, parando na escada. — Bom saber que não ligam pro fato de terem colocado meu pai na cadeia.

— Ele não teria que se preocupar se não tivesse feito tanta coisa errada. — rebate Erick, apertando os braços ao redor de mim e decido descansar minha cabeça em seu ombro, sem vontade de encarar a bruxa atrás de mim. — Torça pra não ter o mesmo destino, Jessy.

— Você sabe o que acontece com as pessoas que já traíram o meu pai, Erick. — ela solta um riso baixo. — Comece a torcer pra não acabar na mesma vala que eles.

Ela começa a descer as escadas com o queixo erguido e cheia de si, enquanto seguro o ódio dentro de mim.

— Sei que ela só está provocando, mas eu a odeio ainda mais. — sussurro contra a camisa de Erick.

— Somos dois, linda. — ele beija a lateral da minha cabeça, enquanto um sorriso surge no meu rosto, ainda sem me acostumar ao ouvir sua voz doce me chamar assim. — E lá vem a bruxa número dois.

— Está contente, Erick? — questiona Karen, dando passos furiosos até parar perto de nós.

Me viro e encaro seu rosto enrugado de questionamento e ira.

— Mais do que pode imaginar, Sra. Clifford. — vejo Erick abrir um sorriso.

— Sei que não foi você que fez isso com o meu marido, Erick. — viro o rosto quando ela me encara. — Vou perdoá-lo quando admitir isso.

— Acredite em mim quando digo que fui eu, e apenas eu, que decidi finalmente botar Leonard atrás das grades.

— Você e Jessy ainda podem se acertar. — Karen tenta abrir um sorriso fingido, tentando ignorar as farpas. — Tenho certeza de que ela vai te dar outra chance.

— Disso eu também tenho certeza. — Erick olha para mim e abre um sorriso gentil e encantador, para depois olhar para Karen. — Mas você sabe que isso nunca vai acontecer.

— Mãe. — chama Dylan, se aproximando de nós três, carregando mais uma mala.

— Dylan, querido. — o humor de Karen muda drasticamente.

— Por favor, mãe, sabe que a culpa não é de nenhum deles. — Dylan pousa uma mão no ombro dela. — Papai não estaria nessa encrenca se não tivesse feito tanta coisa errada.

Karen não rebate, apenas bufa em resposta e lança um último olhar em nossa direção antes de descer as escadas e seguir Jessy.

Dylan suspira alto enquanto a observa.

— Perdoem o comportamento dela. — pede, tentando sorrir. — Minha mãe não faz ideia do que meu pai está metido.

— Não tem com o que se preocupar. — falo, antes que Erick possa dizer algo de errado.

— Já está indo também? — questiona ele.

— Infelizmente. — responde Dylan, e depois vira a atenção para mim. — Posso falar com você em particular?

— É claro. — falo, mesmo que Erick não pareça gostar da ideia.

— Vou deixar minha mala pronta. — avisa ele.

Concordo com a cabeça e Erick segura meu rosto gentilmente, depositando um beijo rápido nos meus lábios. Ele sorri quando se afasta e acaricia minha bochecha.

— Bom saber que ele não tem ciúmes de você. — fala Dylan, irônico, quando Erick já está entrando no quarto. Eu franzo o cenho, confusa, já que não há motivo dele sentir ciúmes de Dylan. — Enfim... — continua ele, encolhendo os ombros. — Queria apenas me despedir.

— Você vai voltar com elas por causa do seu pai? — pergunto, mexendo minhas mãos, inquieta.

Há algo diferente nele que não consigo decifrar.

— Mais ou menos. — responde.

— Então a gente se vê depois de voltarmos.

— Eu acho que não. — ele franze os lábios e abre um pequeno sorriso. — Estou indo pra Alemanha.

— Alemanha? — sussurro, e cruzo os braços. — Uau, isso é... bem longe.

— É sim.

Nós trocamos um olhar rápido e ele desvia o rosto.

— Então acho que é um adeus, não é? — sussurro, sentindo meu coração pesar ao pensar nisso.

Mesmo que ele e eu não tenhamos convivido por muito tempo e que nossa amizade começou de uma maneira estranha, o considero um amigo, um dos poucos que tenho, e Dylan não faz ideia do quanto isso é importante para mim.

— É. — concorda, tão baixo quanto a minha voz.

Sorrio para ele e dou um passo em sua direção, abrindo meus braços para um abraço.

Dylan parece ponderar por um momento e olha de soslaio por cima do ombro em direção ao quarto de Erick. Quando vê que a porta continua fechada, ele caminha o pouco que falta e me abraça. Os braços dele ao redor de mim quase me erguem do chão, me surpreendo pelo gesto que estamos compartilhando.

— Foi bom te conhecer. — falo, o apertando rapidamente, pronta para me afastar.

— Você precisa fugir. — sussurra ele, me apertando mais quando tento me distanciar.

— Dylan...

— A cadeia não vai manter o meu pai afastado por muito tempo. — continua, e meu corpo treme ao ouvir isso. — Sei que isso foi planejado por vocês três, e Leonard também, e ele não vai deixar isso barato. Em, meu pai vai te matar.

— Ele não é o único. — resmungo, fazendo Dylan se afastar.

— E por que você ainda está aqui? — me questiona, franzindo o cenho. — Você tem que fugir. Peça pra Erick te levar pra qualquer lugar ou até mesmo Gabriel, mas não fique aqui quando Leonard sair da cadeia.

— Ele não é a minha maior preocupação.

— Mas deveria. — ele segura meus ombros com força. — Me prometa que vai tomar cuidado. Me prometa que vai fugir, mesmo que...

— Que...? — questiono, preocupada pelo comportamento dele.

— Que não seja como eu imaginei. — completa, confuso, e sequer tenho chance de perguntar o que está acontecendo quando continua. — Espero que Erick saiba o que está fazendo.

Dylan me puxa para um abraço rápido novamente e depois se afasta, me lançando um sorriso triste e pegando a alça da mala em seguida.

— Adeus, Emily.

— Adeus, Dylan. — sussurro, o vendo descer as escadas.

Sinto minha preocupação aumentar ao vê-lo sumir, mas deixando suas palavras de alerta ecoarem em minha mente.

E se tudo o que nós não fizemos até agora foi atiçar ainda mais a fera?

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