CAPÍTULO 19

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— O que você pensa que está fazendo? — questiona Karen, com a voz esganiçada.

— Estou te impedindo de ser uma velha sem coração. — responde Gabriel, afastando a mão da mulher e me puxando para perto de si.

— Seu insolente. — resmunga, ficando vermelha de raiva. — Você não faz ideia de quem eu sou, não é?

— Eu não me importo se você é a rainha da Inglaterra ou a Bruxa Má da Branca de Neve, isso não te dá o direito de sair batendo nos outros.

— Vamos nos acalmar, por favor. — pede Erick, intervindo ao perceber que Gabriel não vai pegar leve. — Karen, desculpe pela grosseria do meu amigo. Ele não é de participar muito desses eventos.

Erick lança um sorriso fofo e sedutor para Karen, esperando que isso amenize a situação, enquanto Gabriel e eu estamos chocados por percebemos a palavra que Erick usou para se referir a ele.

— Mesmo assim. — fala a mulher, passando a mão pelos cabelos. — Isso não é motivo para a sua secretária te tocar tão descaradamente no meio de todo mundo.

Todo mundo?

Não há ninguém nesse lugar, os garçons não passam por aqui já tem algum tempo e mesmo quando nós estávamos em meio a multidão eu apenas ficava em silêncio ao lado de Erick.

— Ela só estava sendo gentil porque achou que eu tinha me machucado. — explica.

Viro meu rosto para o outro lado, esperando que Karen não veja minha expressão carrancuda, pensando que as desculpas que Erick está dando a ela estão começando a me deixar enjoada, percebendo que ele ainda está tentando explicar a situação para essa velha.

— Você está machucado? — pergunta Jessy, se aproximando rapidamente para perto de Erick.

— Eu estou bem, não foi nada de mais. — responde, se livrando da mão de Jessy antes que ela possa prendê-lo novamente.

Ouço Karen respirar fundo, em seguida observa Gabriel e eu de mãos dadas e depois se vira novamente para Erick.

— Acho melhor voltarmos para a inauguração. — fala, dando as costas logo em seguida.

Nós assistimos ela sair ainda furiosa pela porta de serviço.

— O que aconteceu pra você se machucar? — questiona Jessy, depois que a mãe se retira.

— Já disse que não foi nada. — responde Erick, erguendo um pouco a voz e a encarando com raiva. — Foi você quem trouxe sua mãe pra cá, não foi? Você sabia que estaríamos aqui e queria provocar uma briga.

— Pelo amor de Deus. — resmunga ela, revirando os olhos, enquanto Gabriel aperta meus dedos. — É esse tipo de comportamento que você espera de mim?

— E o que mais eu deveria esperar? Desde que te conheci, é o que você adora fazer.

Ela ri, abaixando a cabeça por um momento e depois virando a atenção para Gabriel.

— Olá de novo, Gabriel. — ela lambe os lábios.

De novo?

— Vai a merda. — responde ele, me olhando logo em seguida ao perceber minha expressão confusa.

— Acho melhor fazermos o que minha mãe disse. — fala ela, passando o braço pelo de Erick. — Vamos voltar, querido.

— Vá na frente. — fala ele, começando a se livrar dela.

— Não esqueça que os repórteres adoram uma fofoca, meu amor. — ela passa a mão pela lapela do terno. — E você sabe que apenas uma boa fofoca consegue derrubar um império.

Erick suspira fundo, afasta as mãos de Jessy de si e olha para mim.

— Vamos voltar. — avisa, e encara Gabriel. — Tente se comportar na frente do resto do pessoal.

Gabriel revira os olhos, mas não protesta.

Erick sai do lugar com Jessy logo atrás, enquanto me viro para Gabriel.

Minhas sobrancelhas se elevam quando finamente percebo como ele está vestido. Apesar de não ser tão formal e diferente como os outros, Gabriel está usando um terno preto com uma blusa branca por baixo. Parece um pouco grande para ele, mas nada muito exagerado.

— O que foi? — pergunta Gabriel, e percebo que estou encarando ele.

— Nada, só... — o observo de cima a baixo. — Você está bonito.

— Valeu. — ele sorri, ficando vermelho, e pega a minha mão. — E você está... — Gabriel me gira lentamente, e seu sorriso aumenta. — Eu não tenho nem palavras.

— Obrigado. — sorrio, sentindo minhas bochechas queimarem.

— E o colar também. — sussurra, e seu sorriso começa a desaparecer.

— Como você sabia? — pergunto.

— É uma longa história. — ele acaricia minha mão. — Prometo que vou te contar quando estivermos em um lugar mais calmo.

— E como você conhece a Jessy?

— Nem me lembre disso. — ele passa a mão livre pelo cabelo. — Isso é mais uma das coisas em que preciso te explicar.

Abaixo a cabeça, observando minha mão entrelaçada com a sua.

— Tem algo acontecendo entre vocês dois? — pergunto, sem conseguir olhar para ele.

— Não, é claro que não. — responde, erguendo meu rosto delicadamente com a mão.

— Ah. — sussurro. — Bom.

— Isso é ciúmes? — questiona, sorrindo, se divertindo quando vê minhas bochechas vermelhas.

— Não. — respondo, balançando a cabeça. — Claro que não.

— Eu nunca tinha visto você assim. — comenta, ainda sorrindo. — Você fica ainda mais fofa.

— Vamos voltar para o evento, pode ser?

Ouço ele rir atrás de mim, enquanto o puxo para fora do lugar.

Isso não pode ser ciúmes, pode? Nunca senti isso antes, porque nunca vi nenhuma outra garota falar com Gabriel ou ficar próxima dele. Apenas sei que ver Jessy falar de Gabriel daquela maneira, se insinuar para ele, fez com que eu a odiasse ainda mais.

Nós procuramos Erick em meio a multidão e, para a minha alegria, ele está ao lado da família Clifford, aparentando tentar reconquistar a confiança e a amizade deles. Gabriel e eu nos mantemos perto de Erick, mas sem se aproximar das feras que nos encaram.

— Quer champanhe? — pergunta Gabriel, pegando duas taças quando um garçom passa por nós.

— Obrigado. — bebo um pequeno gole. — A propósito, aonde conseguiu esse terno?

— Michael conseguiu achar um de sobra que os garçons estão usando. — responde, bebendo também.

— Mas os garçons estão usando uma gravata borboleta. — falo, olhando para os garotos jovens caminhando com as bandejas pela multidão.

— Ah, isso. Michael e eu não sabemos dar um nó de gravata, então... — ele coloca uma mão bolso da calça social e mostra um pedaço da fita preta.

— Não acredito nisso. Devia ter me dito antes.

Entrego minha taça a ele, pedindo que segure por um momento, e pego a fita do seu bolso.

— Você sabe fazer isso? — pergunta, erguendo uma das sobrancelhas, enquanto me aproximo e paro na sua frente.

— Eu aprendi. — respondo, lembrando das vezes no meio da semana em que Erick me pedia para ajudar no nó da gravata.

— Por causa dele, não é? — questiona, e sua voz assume um tom irritado quando fala de Erick.

— Exato. — concordo, começando a fazer o nó e tentando lembrar se é assim mesmo. — Posso pedir uma coisa?

— É claro.

Ergo meus olhos rapidamente, percebendo o quão perto estamos um do outro e que isso está chamando a atenção de algumas pessoas ao nosso redor.

— Tente se dar bem com ele. — falo, fazendo com que revire os olhos. — Estou falando sério. Ele é o meu chefe, Gabriel.

— Eu sei, Em. — resmunga, desviando o olhar para Erick atrás de nós. — Mas não posso prometer isso quando sei que ele não vai com a minha cara também.

— Vou conversar com ele sobre isso. — dou o último retoque na gravata e sorrio. — Prontinho.

Gabriel abaixa a cabeça para poder olhar a gravata.

— Achei que ia fazer uma gravata borboleta. — comenta, passando a minha taça de champanhe.

— Eu não sei fazer essa. — falo, envergonhada.

— Está ótimo, Em. Pelo menos assim o pessoal não me confunde com um dos garçons.

Sorrio para ele, ainda perto do seu corpo, e nós brindamos.

Algumas horas depois do almoço em que organizaram para os convidados, a multidão se encontra na frente do prédio para poder cortar o laço vermelho. Leonard e Erick já estão posicionados lado a lado e alguns fotógrafos estão ao redor deles. O pessoal bate palmas quando os dois cortam a fita e logo algumas pessoas seguem Leonard para dentro do edifício, prontas para o tour em que ele vai proporcionar.

Gabriel e eu estamos um pouco mais longe do resto da multidão, bebendo mais uma taça de champanhe.

— Srta. Emily? — Michael surge ao nosso lado.

— Sim?

— O Sr. Prior pediu pra que eu os levasse pra casa. — fala, olhando para Gabriel por um momento.

— Apenas nós dois? — pergunto, fazendo a atenção de Gabriel recair sobre mim.

— Sim, Srta. — ele balança a cabeça.

— Ok.

— Por aqui. — Michael abre caminho para nós.

Gabriel deixa nossas taças sobre uma bandeja livre de um garçom enquanto passamos e seguimos Michael até o carro.

— Eu achei a sua bolsa, Srta. Emily. — fala Michael, depois de entrarmos no carro.

Ele pega a bolsa que está no banco do motorista e me entrega. A pego sem entender, sem lembrar de onde exatamente eu não estava mais com ela e que sequer havia percebido que havia perdido.

— Obrigado, Michael.

Ele acena rapidamente com a cabeça e depois liga o carro, se afastando cada vez mais do evento.

Vasculho a bolsa, procurando pela única coisa em que está lá dentro.

— Ufa. — sussurro, pegando meu celular.

Se eu chegar a perder esse presente do Sr. Prior, ele vai ser capaz de me odiar e pensar que não tenho cuidado com os meus pertences.

— Você comprou um celular? — pergunta Gabriel, sorrindo.

— Erick me deu no primeiro dia de trabalho. — respondo, conferindo se há alguma mensagem.

— Eu também tenho. — fala, animado, enquanto tira o aparelho de dentro do bolso.

Sorrio.

— Você conseguiu comprar um?

— Thomas que me deu. — fala, fazendo uma careta. — Ele disse que iria me ligar sempre que precisasse de mim.

— Precisamos comprar um novo pra você então. — falo, chamando a atenção dele. — Vamos jogar esse fora pra que não tenha perigo dele te achar.

— Acha que conseguem fazer isso? — fala, observando o aparelho com atenção. — Tenho certeza que eles não sabem tanto assim sobre tecnologia pra conseguirem me rastrear.

— Não podemos arriscar.

Ele olha para mim e balança a cabeça devagar, suspirando logo em seguida.

— O que aconteceu com Kevin e Thomas? — pergunta.

— Os seguranças encontraram Kevin no décimo andar, como você havia falado, mas nenhum sinal de Thomas. — fala Michael, olhando pelo retrovisor.

— Thomas escapou? — Gabriel fecha os olhos e cobre o rosto com uma das mãos. — Porra.

— Nós vamos dar um jeito pra que ele não te machuque e nem te encontre. — pego a mão dele.

— Eu sei. — ele tenta sorrir.

Aperto o dedo dele, acariciando sua palma e apoio minha cabeça no seu ombro. Ele relaxa e se apoia em mim também, suspirando fundo.

Alguns longos minutos depois, paramos em frente ao prédio do Sr. Prior. Nos despedimos de Michael e conduzo Gabriel até o elevador. Quando as portas se fecham, dá para ver o quanto ele está nervoso. Eu só disse a ele que Berta provavelmente vai lhe fazer algumas perguntas e que vai precisar passar pelo teste de confiabilidade dos cachorros.

— E se ela não gostar de mim? — sussurra, parecendo pensar sozinho, enquanto se apoia no espelho.

— Eu tenho certeza que ela vai adorar você. — respondo, o puxando logo em seguida quando as portas se abrem. — Berta quer te conhecer desde o dia em que contei a ela sobre você.

— Você falou sobre mim? — pergunta, ficando um pouco para trás.

— Falei e não tem com o que se preocupar.

A única que deve se preocupar sou eu. Se Berta falar algo que me incrimine pela conversa que tivemos com Eva, no final de semana, não faço ideia de como vou encarar Gabriel.

— Berta, cheguei. — anuncio, abrindo a porta e puxando Gabriel comigo.

Para a minha sorte, já que são quase 20:00, Berta não está na cozinha como de costume, já que sempre que chegamos do trabalho ela está preparando o café.

— Como foi a inauguração? — ouço a voz dela surgir do corredor do quarto se Erick.

— Foi bom. — minto, enquanto Gabriel está colocando as mãos suadas no bolso.

Berta surge logo em seguida, com uma peça de roupa na mão, e para assim que vê Gabriel. Ela o olha de cima a baixo, depois se vira para mim e em seguida para ele de novo.

— Berta, esse é Gabriel. — apresento. — Gabriel, essa é a Berta.

— Muito prazer. — fala a governanta, estendendo a mão para cumprimentá-lo.

— Igualmente. — ele retribui o gesto, sorrindo para tentar mascarar o nervosismo.

— Então você é o Gabriel. — fala Berta, ainda segurando a mão dele.

— Soube que Emily já falou sobre mim pra você. — comenta ele.

— Já sim. — ela sorri, e sei que está me vendo corar de vergonha.

— Posso saber o que ela disse? — Gabriel olha para mim.

— Que você era bonito. — arregalo meus olhos quando ouço Berta o responder. — E ela não estava mentindo.

Gabriel se vira para me olhar com um sorriso satisfeito no rosto, mas desvio minha atenção para o chão.

— Obrigado. — agradece ele.

— Vocês já tomaram café ou jantaram? — pergunta ela.

— Ainda não. — respondo. — Mas não...

— Então eu vou fazer algo pra vocês comerem. — ela sorri, e observa a roupa de Gabriel. — Você quer trocar de roupa, querido? É desconfortável vestir um terno o dia inteiro.

— Eu adoraria, obrigado.

— Eu já volto. — avisa, voltando para o quarto de onde estava.

— Viu, eu disse que não precisava ficar nervoso. — sussurro.

— Ela parece muito legal. — comenta e depois olha para o apartamento em que nos encontramos. — Uau.

— Eu sei. — olho para o lugar também, mesmo vivendo aqui por uma semana. — O lugar é lindo.

— Meu Deus.

Olho para Gabriel, observando ele parado no meio da sala, olhando para Thor deitado no sofá. O cachorro está com a cabeça virada na direção dele e parece ligeiramente confuso por vê-lo.

— Esse é o Thor. — falo, me aproximando e fazendo carinho no cachorro. — Você não precisa ter medo, ele é bonzinho.

— Olha o tamanho dele. — sussurra, com os olhos focados em Thor.

Sorrio e viro a minha atenção para o som das patinhas de Pandora se aproximando. Ela para exatamente atrás de Gabriel, deixando a cabeça cair um pouco para o lado ao ver o homem estranho e ouço ela ganir baixinho.

— E essa é a Pandora. — falo, apontando para o chão atrás de Gabriel.

Vejo ele fechar os olhos, respirar fundo e se virar devagar, como se estivesse no meio de um campo minado.

— O que eu preciso fazer pra que não me matem? — pergunta, e vejo que ele está realmente com medo.

Eu até o entendo.

No nosso bairro era proibido ter animais de estimação de qualquer tipo, então nunca tínhamos contato com nenhum bichinho, e de repente se deparar com dois cachorros do tamanho deles faz qualquer um tremer de receio.

— Eles não são seu inimigo. — paro ao lado de Gabriel, rindo. — Só precisa esticar a mão até o focinho deles pra que sintam o seu cheiro.

— Ok. — sussurra, enquanto tira a mão dos bolsos.

Conquistar a Pandora nunca foi tão fácil. Assim que Gabriel colocou a mão na frente do nariz dela, a assanhada balançou o rabinho e começou a rodear as pernas de Gabriel a procura de carinho.

— Acho que ela gostou de você. — digo, vendo ele abrir um sorriso lindo e radiante.

— Ela é fofa. — fala Gabriel, fazendo carinho em Pandora.

Nós fazemos o mesmo com Thor, levando mais segundos do que gostaríamos, pois parece que o cachorro está decidindo se gosta de Gabriel enquanto cheira as mãos dele e as pernas. No fim, Thor apenas deita novamente no sofá com o rabinho balançando.

Berta traz a roupa para Gabriel logo em seguida e ele vai se trocar no quarto dela, enquanto decido tirar o vestido e colocar algo mais confortável. Limpo meu rosto, removendo a maquiagem e penteando o cabelo.

— Tem algo que você gostaria de comer? — ouço Berta perguntar a Gabriel, quando chego a cozinha.

— O que você decidir está bom. — responde, sentado em uma das cadeiras, batendo o pé ansioso.

— E você, querida, quer algo?

— O que você achar melhor, Berta.

Ela sorri e começa a revirar a geladeira.

Olho para Gabriel, que está vestindo uma bermuda preta e blusa azul e que ganhou um chinelo de Berta. Ele olha para mim de canto, sabendo que o estou encarando e vejo suas bochechas ficarem vermelhas.

— Você está bonita. — sussurra para mim.

Olho para baixo, para ver o meu short de dormir e a blusa de manga curta vermelha, percebendo que talvez seja cedo demais para usar essa roupa. Apesar de sempre usá-la, me sinto ainda mais exposta.

— Onde está Erick? — pergunta Berta.

— Ele ficou um pouco mais no evento. — respondo.

— Imagino que vocês conheceram a família da Jessy.

Respiro fundo.

— É.

— Aquela velha é sempre tão mesquinha? — questiona Gabriel, fazendo Berta sorrir.

— Você nem faz ideia, meu querido. — a governanta coloca um prato de salgadinhos da festa de aniversário na nossa frente. — Comam enquanto está quente.

— O único que parecia ser menos ruim era o irmão. — comento, e Berta concorda com a cabeça.

— Dylan é um garoto bom, apesar de às vezes agir igual aos pais. — ela pega uma coxinha e se senta na nossa frente. — E não preciso nem falar da Jessy.

— Ela estava bonita hoje. — comento, olhando de soslaio para Gabriel ao meu lado, pegando um pastel.

— Eu imagino que sim, ela sempre procura ser a que se destaca nas festas.

— Eu queria que tivéssemos nos dado bem.

— Jessy não é do tipo que tem muitos amigos. — fala Berta. — Desde que a conheço não a vi com nenhuma amiga ou amigo, era sempre ela e Erick.

Olho para Gabriel, percebendo seu silêncio, sabendo que ainda tem que me explicar como conhece a Jessy.

— Jessy e Erick já namoraram? — pergunta Gabriel.

— Erick nunca quis ter um relacionamento com nenhuma garota. — responde Berta. — Apesar disso, Jessy ainda ficava muito puta quando ele se envolvia com outras garotas. Era como se Erick pertencesse apenas a ela e isso me preocupa demais.

— Mas ele não sente o mesmo por ela, não é? — insiste Gabriel, curioso, e Berta nega com a cabeça. — Então não tem com o que se preocupar.

— Eu já pensei isso, mas no final o mesmo sempre acontece. Ele sempre acaba voltando pra Jessy.

A cena de hoje de manhã vem à minha mente, de Jessy surgindo do quarto de Erick vestindo uma das camisas dele.

A porta da frente do apartamento se abre e nós três viramos a nossa atenção para Erick e Jessy. Como sempre, ela está agarrada ao braço dele, enquanto os olhos de Erick recaem sobre Gabriel. Espero que ele não brigue com Berta por ter emprestado algumas roupas.

— Oi, gente. Como estão? — cumprimenta Jessy, sorrindo largamente. — Vim trazer uma boa notícia.

— Adoro boas notícias. — fala Berta, retribuindo o sorriso de Jessy.

— Meus pais vão viajar para o Canadá e pediu que eu convidasse vocês.

Observo Erick se sentar no mesmo lugar de sempre à mesa e encarar Jessy com a mesma animação que qualquer um de nós.

— E não vamos aceitar um "não" como resposta. — ela caminha até ficar ao lado de Erick, e observa cada um de nós. — Vocês vão adorar o lugar, vamos poder praticar esqui e patinar.

— Eu adoraria ir, Jessy, mas o frio não é o meu clima favorito. — fala Berta, pegando um salgadinho.

— Bom, é uma pena. — ela dá de ombros, sem se importar em insistir, e se vira para Gabriel e eu. — Mas vocês dois vão ir, não é?

— Obrigado pela oferta, mas não vamos. — responde Gabriel e concordo com a cabeça.

— Ah, sério? — ela finge uma expressão decepcionada, enquanto apoia o quadril na cadeira. — Então, Erick e eu vamos ter que ir sozinhos.

— Vou conversar com os dois. — fala Erick, olhando para Gabriel. — Tenho certeza que vão mudar de ideia.

— Ótimo. — ela sorri, e olha para a comida na mesa. — Adoro bolinha de queijo.

Olho para Gabriel, que já está me observando, e depois para Erick.

— Erick me disse que você vai ficar aqui. — comenta Jessy.

— Sim, ele vai. — respondo, a encarando.

— Posso saber aonde ele vai dormir? Na sua cama, talvez? — ela ergue as sobrancelhas de um modo sugestivo.

— Algum problema se for?

A resposta sai mais rápida e ríspida do que eu pretendia, e me surpreendo no mesmo instante ao dizer isso.

Jessy sorri, enquanto os olhos de todo mundo recaem sobre mim.

Tento me controlar, mas minhas bochechas começam a corar.

— Nesse caso, vou pedir ao meu pai que reserve um quarto pra vocês dois no hotel.

— Que gentileza, obrigado. — fala Gabriel, mostrando o seu sorriso mais convincente.

— Vocês vão adorar a minha outra novidade, então. — ela sorri ainda mais, enquanto me encara ao falar isso, e percebo Erick ficar tenso.

— Mais uma? Que ótimo. — sussurra Gabriel, revirando os olhos.

— O que é? — pergunta Berta, com uma expressão entediada.

A garota olha para Erick, que está me encarando, e depois para mim, enquanto seus olhos brilham de alegria.

— Erick e eu estamos noivos.

Uma Nova Chance Where stories live. Discover now